Numa jogada que gerou controvérsia, em 16 de novembro de 1945 (apenas seis meses após o encerramento da Segunda Guerra Mundial), os Estados Unidos embarcaram 88 cientistas alemães para o seu país para trabalharem no programa de desenvolvimento da tecnologia e produção de novos mísseis. A maioria desses cientistas serviru sob o regime nazista e os críticos nos EUA questionavam a moralidade de colocá-los a serviço do país.
Entretanto, o governo de Washington, desesperado em adquirir o know-how que havia produzido as poderosas bombas voadoras V-1 e V-2 para a Alemanha durante a guerra, e temeroso de que os soviéticos também estariam se valendo dos serviços de cientistas alemães capturados, deram as boas-vindas a eles.
Os militares norte-americanos cobriram a operação com sigilo. Estavam cientes de que a importação de cientistas que até bem pouco haviam trabalhado para o inimigo odiado pela população era um problema de relações públicas. Ao anunciar o plano, o porta-voz do comando do exército simplesmente disse que alguns cientistas alemães tinham decidido “voluntariamente” ir para os EUA, dispondo-se a ganhar “um salário bastante moderado”.
A natureza voluntária do esquema de algum modo era afetada pelo fato de que os cientistas encontravam-se em “custódia protetiva” – ou seja, estavam sendo patrulhados e protegidos por forças de segurança. Quando chegaram no aeroporto naquele dia, os jornalistas e fotógrafos não foram autorizados a fazer entrevistas nem a fotografá-los. Alguns dias depois, uma fonte na Suécia divulgou que os cientistas eram membros da equipe nazista de Peenemunde, onde os mísseis haviam sido criados e produzidos.
No fim da guerra, a equipe do engenheiro alemão Werner von Braun, diretor de Peenemunde, se entregou ao exército norte-americano. A equipe, além de Von Braun, tinha Konrad Dannenberg, Walter Thiel, Walter Dornberger e outros que haviam trabalhado no desenvolvimento dos foguetes de combustível líquido da Alemanha.
Anos depois, juntariam-se à NASA e seriam responsáveis pelo lançamento do primeiro satélite americano e pelo foguete Saturno V, para levar à Lua as missões Apollo. Em 1950, a equipe alemã mudou-se para o Arsenal Redstone, no Alabama, onde trabalhou no desenvolvimento um novo foguete. Em 1955, Von Braun naturalizou-se americano. Em 1957, lançou o míssil Júpiter.
No dia 31 de janeiro de 1958, sob a supervisão de Von Braun, os norte-americanos lançaram o seu primeiro satélite artificial, o Explorer I. Em 20 de janeiro de 1959 von Braun recebeu a Medalha Federal de Serviços Distintos do presidente dos EUA, Dwight Eisenhower.
A situação chamou a atenção para uma das muitas ironias relacionadas com a Guerra Fria. Os EUA e a União Soviética, então aliados contra a Alemanha e o regime nazista, estavam agora disputando ferozmente a aquisição dos melhores e mais brilhantes cientistas, que antes tinham ajudado a armar as forças do Eixo, a fim de construir sistemas de armas capazes de destruir um ao outro.
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