A crise vivida pelo Brasil, sobretudo a partir de 2010, se aproxima com a do sul da Europa – em especial Portugal, Espanha e Itália. Esta é a análise do professor de sociologia da USP Ruy Braga, que no livro ‘A Pulsão Plebeia: trabalho, precariedade e rebeliões sociais’ (recém-publicado pela editora Alameda) analisa como a piora nas condições sociais e a precarização de empregos mobilizaram jovens brasileiros e europeus.
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Para o pesquisador, manifestações como “Que se Lixe a troika” (Portugal, 2013) e “Jornadas de Junho no Brasil” (Brasil, 2013) indicam a busca por uma agenda política que “ofereça respostas a demandas de milhões de trabalhadores”.
“O Brasil, principalmente a partir de 2010, passou a entrar no mesmo ritmo da crise do sul da Europa. Para desenvolver essa hipótese, faço uma análise comparativa entre Brasil e Portugal sobre a relação entre os jovens dos dois países. Em 2013, os portugueses manifestam-se contra a deterioração de direitos em vista das políticas de austeridade impostas pela troika [formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional]. Meses depois, no Brasil, uma massa de jovens, cuja maioria se encontra em situações precárias de trabalho ,vai às ruas exigir a efetivação de direitos sociais”, analisa.
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De acordo com Ruy Braga, os exemplos de mobilização nos dois países apontam para a existência de trabalhadores precariados na condição de “força motriz do atual ciclo das manifestações”.
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Ruy Braga acredita que ritmo da crise no Brasil se aproxima da do sul da Europa
“A base social desses movimentos, formada pelo protagonismo de jovens trabalhadores em situações precárias, mostra a aproximação do ritmo da crise no Brasil e em Portugal”, completa Ruy.
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No caso brasileiro, destaca o pesquisador, além da redução da pobreza extrema, houve durante os últimos anos uma inclusão no mercado de trabalho, inclusive com criação de vagas formais. No entanto, novos direitos sociais não foram criados e, a partir de 2010, surge uma dinâmica regressiva no mercado de trabalho, com as condições trabalhistas se deteriorando.
Nesses termos, “não há desemprego em massa, mas as condições de acesso ao trabalho se tornaram mais exigentes, as taxas de rotatividade aumentaram, o salário diminuiu e, sobretudo, a distribuição do salário das vagas formais se deslocou para as situações mais degradantes”, diz Braga.
“Em 2014, de acordo com dados oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), entre janeiro e setembro, 97,5% dos empregos criados no Brasil pelo mercado formal pagaram até 1,5 salário mínimo. Além disso, 14% da massa de empregos criados paga meio salário mínimo”, exemplifica Braga sobre a precarização do trabalho.