Atualizada em 12/09/2017 às 11:43
Ao som da música “Luar do Sertão”, às 21 horas do dia 12 de setembro de 1936, ouviu-se “Alô, alô, Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”. Revolucionando as comunicações, a emissora se transformou em instrumento cultural, social e político fundamental para a modernização do país. Os programas esportivos, de humor, rádio-novelas e noticiários, transmitidos dos vários estúdios do edifício “A Noite”, da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, viraram modelo para todas as rádios do Brasil.
No início, a emissora incluía na programação a apresentação de pequenas cenas de rádio-teatro, intercaladas com inúmeros musicais. Um ano depois inaugurou o “Teatro em Casa”, com peças semanais completas. Além disso, a programação passou a ser retransmitida ao vivo para todo o país, o que tornou a emissora pioneira na integração cultural.
Ainda nos primeiros anos, a Rádio Nacional apresentava uma estrutura muito simples: com um departamento artístico e outro administrativo, tocados por menos de 30 pessoas. Somente em 1942, foram inaugurados estúdios e até um auditório, com 486 lugares. Foi neste ano também que as ondas curtas da PRE-8 passaram a ser ouvidas em vários países.
A Rádio Nacional foi a principal emissora do país nos anos 1940 e 1950, considerada o verdadeiro símbolo da “Era do Rádio” e fundamental também para o desenvolvimento da música popular brasileira.
Líder de audiência praticamente desde a fundação, a emissora inovou em diversas atrações, como o primeiro programa de montagem, chamado “Curiosidades musicais”, e de auditório, com o “Caixa de perguntas”.
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As rádio-novelas também marcaram época. A primeira delas, transmitida em 1941, foi “Em busca da felicidade”, que durou três anos. Já “O direito de nascer” chegou a mudar os hábitos das pessoas, que saíam de casa somente depois das transmissões. Até meados da década de 1950, foram 861 novelas.
Apresentado pelo locutor Heron Domingues, o “Repórter Esso”, de 1941, foi marco do jornalismo radiofônico. Com isso, a Rádio Nacional foi a primeira emissora do Brasil a organizar uma redação própria para noticiários, com a rotina de um grande jornal diário impresso.
A música também tinha espaço garantido. Dois programas de muito sucesso foram “Um milhão de melodias”, formado pela Orquestra Brasileira sob regência de Radamés Gnatalli, e “Trem da alegria”, apresentado pelo Trio de Osso, composto por Heber de Bóscoli, Yara Sales e Lamartine Babo. A emissora também tinha contrato com três grandes cantores brasileiros: Francisco Alves, Sílvio Caldas e Orlando Silva. Até o sanfoneiro Luiz Gonzaga se apresentou na emissora para divulgar a música e a cultura nordestinas.
Ainda no campo musical, a emissora incentivou vários novos talentos por meio do Departamento de Música Brasileira. Outra novidade foi a divulgação de marchas e sambas carnavalescos que eram disputados por grandes cantores.
Na parte esportiva, a Rádio Nacional inovou na forma de transmitir partidas de futebol, adotando o chamado “sistema duplo”, que dividia o campo de jogo em dois setores, cada locutor acompanhando o ataque de um dos times.
Já os programas de auditório se tornaram tão concorridos que passou a se cobrar ingresso até para assistir aos programas em pé. Entre os de maior sucesso estão “Alegria, meus senhores” e “Este mundo é uma bola”, apresentados por Fernando Lobo.
Outro destaque fica por conta do “Programa César de Alencar”, que comemorou dez anos no ar com um show para 20 mil pessoas no Maracanãzinho. Outros programas com animadores também ficaram célebres, como os de Paulo Gracindo e Manoel Barcelos.
Apesar do sucesso de audiência, o declínio da Rádio Nacional se inicia com a chegada da televisão, acentuado de forma definitiva com o golpe militar de 1964 que afastou 67 profissionais da emissora e colocou sob investigação outros 81.
Nos anos de ouro, a Rádio Nacional era reconhecida como a “escola do rádio” o que por si só traduz a dimensão de sua importância histórica.