A diretora de Pesquisa Científica da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, Leticia Salomón, sustenta que ninguém previu a ampla oposição à derrubada do presidente Manuel Zelaya, deposto em 28 de junho. Agora, depois de mais de dois meses do golpe de Estado, o país está isolado da comunidade internacional, e diversos setores da sociedade hondurenha seguem protestando diariamente nas ruas. Como resultado disso, Salomón estima que os custos para os conspiradores golpistas têm se convertido numa carga muito pesada.
A socióloga e economista que trabalha no Centro de Documentação de Honduras resiste em especular sobre como o regime golpista poderia cair, mas manifestou sua preocupação frente a maior participação de militares e setores empresariais nas questões políticas. “Existe uma ação que é certa: não se pode manter este governo até novembro, o dia das eleições. E não se manterá por várias razões. Não somente pelos protestos sociais que estão nas ruas, mas também porque se choca com os interesses dos empresários e políticos”.
Na opinião dela, o setor empresarial de Honduras teve um papel-chave no golpe de Estado. Aqueles empresários “que pensavam que um golpe de Estado era questão de milhares de dólares e nada mais, já investiram milhares e milhões nisto. E não é somente dinheiro que tem saído de seus bolsos, mas também do impacto econômico do bloqueio de estradas, desemprego e greves. Os próprios empresários reconhecem que isso tem sido terrível para eles e, por isso, um setor do empresariado iniciou uma pressão para encontrar uma saída, porque considera que a situação chegou ao limite do aceitável com relação ao custo econômico do golpe”.
Mas, além desta dificuldade nos planos dos golpistas, Salomón acrescenta que a ampliação da resistência nacional ao golpe de Estado está gerando uma nova “força social” no país, com a qual o futuro governo terá de lidar.
Erros de cálculo
Todo o mundo ficou surpreso pelo fato de a oposição ter surgido no mesmo dia da expulsão [de Zelaya]. E ninguém calculou os custos adicionais que a pressão interna e externa para reverter o golpe teria sobre os interesses econômicos, políticos e militares, diz Salomón. Ela considera que os custos para os partidários do golpe aumentaram mais que o previsto, e não só financeiramente.
E quanto aos militares, cuja legitimidade dos últimos anos, diz, rivalizava com a igreja, Salomón vislumbra que todo o seu futuro poderia estar em perigo, sobretudo em consequência da responsabilidade pelas graves violações aos direitos humanos desde o golpe de Estado.
Por outro lado, a possibilidade de que os Estados Unidos reconheça que houve um golpe em Honduras ameaça o desejo dos novos oficiais ou dos oficiais mais jovens da instituição, cujo sonho “é ir aos Estados Unidos para participar das atividades da OEA ou da ONU”. Ela considera que é principalmente a cúpula militar que “está obstinada” com o golpe e “mais por dignidade própria do que por qualquer outra coisa”.
Mas considerando as graves violações dos direitos humanos que os militares e a polícia têm insistido em cometer contra a oposição ao golpe, que qualifica de absolutamente “inadmissível”, ela adiantou que se buscará reduzir fortemente o seu papel, pois “se fazem isso publicamente, quando tem gente filmando, na vista de todo mundo, então obriga a mudar o foco para a polícia e os militares”. Isso leva a considerar que será necessário “pensar em sua redução ao mínimo aceitável ou sua eliminação”, como na Costa Rica.
No plano político, comenta Salomón, “a legitimidade dos partidos políticos já estava na pior”. Mas, com isso, o rechaço aos partidos tradicionais tem crescido de forma incrível no país.
A oposição ao golpe de Estado rechaça a realização de eleições sem o regresso do presidente Zelaya, argumentando que estas “legitimariam efetivamente uma violência militar”. A isso se acrescenta agora o anúncio dos Estados Unidos de que não reconhecerão os resultados das eleições nas condições atuais, o que fez com que a pressão sobre esses políticos aumentasse.
Segundo Salomón, a pressão social não terminará com a realização das eleições. Ela atribui a força da oposição ao golpe de Estado à capacidade de encontrar um terreno comum entre os diversos setores, mais que à adesão a um partido ou ideologia em particular, e acredita que isto se expandirá. Com um sentimento de esperança, declara: “Não importa quem ganhe as eleições de novembro. O próximo governo terá de lidar com uma força social de porte que atua neste momento, se quiser manter uma governabilidade mínima no país”.
Leia o artigo completo no site da Alai (Agência Latino-Americana de Informação)
* Jennifer Moore é jornalista canadense.
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