Nascido
Nova York
foi criado dentro do ecumenismo mas acabou se convertendo ao budismo. Poderia
ter seguido carreira
Wall Street
queria o pai. Mas acabou indo para a Universidade Yale, onde passou apenas um
ano.
Influenciado pela literatura de Joseph Conrad e pela música
de George Harrison, lançou-se à aventura de ensinar inglês no Vietnã do Sul,
onde passou seis meses, para depois viver como marinheiro, visitando a costa
oeste dos Estados Unidos, desde o Oregon até o México. Retornaria a Yale com um
manuscrito de mais de mil páginas, no qual pretendia retratar sua infância e
adolescência. Acabou servindo no exército dos EUA, durante a Guerra do Vietnã
(que retratou, em película, três vezes), de abril de
Finalmente, graduou-se na escola de cinema da Universidade de Nova York, em
1971, sob os auspícios de Martin “Taxi Driver” Scorsese.
Oliver Stone conheceu o sucesso com “Platoon” (Platoon), de 1986, supostamente sobre
sua vivência no Vietnã, igualmente vencedor do Oscar daquele ano. Segundo o
diretor, seria parte de uma trilogia, que se completaria com “Nascido em 4 de
Julho” (Born on the 4th of July,
1989, Oscar de melhor direção) e “Entre o Céu e a Terra” (Heaven and Earth, 1993, sobre o ponto de vista dos vietnamitas).
No embalo da história dos EUA, produziria o controverso “JFK
– A Pergunta Que Não Quer Calar” (JFK,
1991, inocentando Lee Oswald), “Nixon” (idem, 1995, que prenunciaria o Nixon/Frost, de Ron Howard) e “As Torres
Gêmeas” (World Trade Center, 2006,
com Nicolas Cage). Destoariam de sua filmografia histórica e política os filmes
“The Doors” (idem, 1991, com Val Kilmer no papel de Jim Morrison), Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994, glamorizando
um casal de serial killers) e o fraco Alexandre(Alexander, 2004, sobre o rei da
Macedônia que se torna imperador do mundo helênico).
A controvérsia se acentuaria na cinematografia de Oliver
Stone a partir dos anos 2000. Em
três dias entrevistando Fidel Castro. Daí resultaria o documentário Comandante sobre – obviamente – política,
a crise dos mísseis (1962), as crenças pessoais de Fidel, a revolução e,
naturalmente, seu futuro. Embora tenha sido programado para ir ao ar em maio de
2003 no canal HBO, o documentário nunca seria exibido nos EUA, sendo encontrado
apenas em DVDs importados da Inglaterra. Não satisfeito, Stone filmaria ainda Looking for Fidel (traduzido em Portugal
como “Ao Encontro de Fidel”), que, finalmente, iria ao ar no início de 2004 na mesma
HBO. Desta vez, além de tratar das condições de vida na ilha e das relações
tumultuadas entre Cuba e EUA, Stone declararia formalmente sua admiração pela
Revolução Cubana e seu apoio à soberania da ilha, longe da influência de
Washington.
Nesse passo, terminaria se identificando com a chamada
“Revolução Bolivariana” dentro da América Latina no início do século XXI. Nesse
contexto, nasceria South of the Border(2009), o mais recente filme de Oliver Stone. O pontapé inicial para o
documentário foi uma negociação entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e
as Farc, da Colômbia, que o cineasta presenciou. Além disso, Stone andava
intrigado com o tratamento que a mídia norte-americana dava aos presidentes
latino-americanos de esquerda, dividindo-os em “bons” e “maus”. Assim, Lula
estaria entre os “bons”, enquanto Chávez mais Evo Morales, da Bolívia, estariam
entre os “maus”. Segundo o próprio Stone, a mídia dos EUA estaria indecisa
sobre como classificar os Kirchner, da Argentina. O quadro da revolução bolivariana
se completaria, evidentemente, com Rafael Correa, do Equador, Raúl Castro, de
Cuba, e Fernando Lugo, do Paraguai.
South of the Border hoje oscila entre críticas dentro dos mesmos Estados Unidos e momentos de
grande repercussão, como a ida de Hugo Chávez ao Festival de Veneza, com Oliver
Stone – onde chamaram mais atenção que muitas estrelas de Hollywood –, em
setembro deste ano. A revista Timereclamou da parcialidade do documentário e do tom de ovação dos líderes
latino-americanos, enquanto a Varietyreclamou da falta de pesquisa e do radicalismo. Segundo esta publicação, isto fez
Stone “superar” seus retratos de Fidel Castro.
Aqui no Brasil, a cobertura neutra e “declarativa” de O Estado de S. Paulo contrastou com a
crítica ácida de Arnaldo Jabor, que classificou Stone de “grosso” em termos de
estilo e “medíocre” como artista. O fato é que South of the Border soube captar o momento de interesse global pela
região. E, independentemente da orientação política, estamos vendo, como nunca, a cara do povo da América Latina refletida em seus líderes. Aguardemos a
estreia do novo Oliver Stone no nosso país.
*Julio Daio Borges é editor do site Digestivo Cultural
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