A exposição The Wall Project,
aberta ontem (8) no museu Wende em Los Angeles (EUA), vem sendo
descrita como “a mais ambiciosa comemoração do 20º aniversário da
derrubada do Muro de Berlim fora da Alemanha”. Artistas plásticos foram
convidados para confeccionar obras traçando analogias entre o Muro de
Berlim e outras duas barreiras atuais: o muro que os israelenses
ergueram ao longo da fronteira com a Cisjordânia e o muro que os EUA
ergueram ao longo da fronteira com o México.
Não era exatamente esse o tipo de coisa que Ronald
Reagan tinha em mente quando subiu num palanque em Berlim em 1989 e
disse: “Sr. Gorbatchov, derrubem este muro!”
Os artistas foram incumbidos de pintar o muro com “sua
resposta criativa aos muros em nossas vidas”. Os dois principais são o
designer Shepard Fairey, autor do icônico cartaz de Obama com a legenda
“Hope” (esperança), e o muralista Thierry Noir, nascido na França e
radicado em Berlim, famoso por suas pinturas sobre o muro alemão em
1989.
Em entrevista ao jornal Los Angeles Times,
Fairey disse que sua pintura na exposição é “uma peça contra a guerra,
contra a contenção”, e que traçaria “um paralelo com o muro da
Palestina”.
Já Thierry Noir disse ao Times que
sua pintura faz uma analogia entre o Muro de Berlim e a barreira na
fronteira entre EUA e México. O argumento, explicou, é que “nenhum muro
é construído para durar para sempre”.
Talvez Fairey e Noir queiram dizer que os muros de
Israel e dos EUA deveriam cair, como aconteceu com o de Berlim, e
permitir a liberdade de movimento – de palestinos para Israel e de
mexicanos para os EUA.
E talvez queiram mais. O Muro de Berlim impedia que as
vítimas do stalinismo alcançassem a liberdade no Ocidente; o argumento
de Fairey parece ser o de que o muro israelense impede as vítimas do
sionismo de exercer o direito de retornar a seus lares históricos na
Palestina.
Já o argumento de Noir sugere que, assim como o de
Berlim, o muro norte-americano na fronteira divide um país em dois: o
México propriamente dito daquilo que outrora foi território mexicano na
Califórnia e no sudoeste dos EUA. E, como na Alemanha dividida, os dois
lados da fronteira mexicana – chamados de “Aztlán” pelos ativistas –
deveriam e talvez sejam reunificados algum dia.
Uma Palestina sem divisões; uma Aztlán sem divisões:
estes significados presentes na comemoração da derrubada do Muro de
Berlim deverão provocar a ira dos conservadores. Os defensores da
Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante a liberdade de
expressão, obviamente invocarão a liberdade do artista. Uma discussão
sobre o significado da liberdade: haveria modo melhor de celebrar 20º o
aniversário da derrubada do Muro de Berlim?
*Este artigo foi originalmente publicado na revista The Nation. O site do projeto pode ser conferido aqui.
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