Nós gostamos de pensar, assim como os jornais e a televisão nos querem fazer acreditar, que a batalha pelo Irã está nas ruas de Teerã, de Isfahan e de Najafabad.
Falso.
O futuro desta nação está sendo decidido em Qom – com líderes religiosos do islamismo xiita iraniano, e um dos mais influentes, talvez o aiatolá mais próximo do presidente Ahmadinejad, se mantém em silêncio.
Não ficou claro por que Taqi Mesbah Yazdi, membro da Assembleia de Peritos (órgão formado pelos clérigos que elege o líder supremo do Irã), insiste em se abster de uma opinião em um momento tão grave e crítico da história da República Islâmica.
Mas temos certeza de que ele está em constante contato com o presidente, cuja reeleição duvidosa causou protestos nas ruas, assassinatos, e subsequentes torturas e execuções no Irã.
Se Ahmadinejad tem um mentor no Irã, ele não é apenas o aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo, mas também Mesbah Yazdi, um oligarca conservador de 75 anos que tem enorme poder sobre a Guarda Revolucionária e a milícia Basij.
Para ele, a morte do grão-aiatolá Hussein Ali Montazeri, na semana passada, foi um alívio, assim como foi para muitos dos clérigos conservadores, que sempre temeram a influência do reformismo sobre a oposição.
A morte de Montazeri, longe de tornar-se uma tocha eterna para os reformistas futuros, é uma tragédia para aqueles que queriam criar uma sociedade civil mais humana no país. Mas Mesbah Yazdi nem sequer falou a respeito do fato.
Os dois grandes homens que permanecem na sombra da Montazeri são Mir Moussavi e o ex-presidente Mohammad Khatami, que agora correm mais perigo do que nunca.
A repressão brutal nas ruas de Teerã na semana passada apenas enfatiza a determinação dos conservadores para esmagar seus adversários.
Se os dois foram presos e sobrinho Moussavi foi morto no domingo passado, isto significa que a batalha final pela alma da República Islâmica é mais do que dramática.
E se Ali Khamenei fracassar em suas funções como líder supremo, quem poderia ocupar o seu lugar? Muitos acreditam que o Irã aspira a essa posição Mesbah Yazdi. Embora seja verdade que ele controla apenas uma pequena facção ultraconservador da assembleia local, a política do Irã não é regida – como no Ocidente – pelo mandato da maioria.
Em junho, Mesbah Yazdi disse à Guarda Revolucionária que eles não devem se preocupar com o “terremoto político” que havia ocorrido desde a última eleição. “Sei que Deus criou este mundo como um teste”, disse ele. “O Líder Supremo tem muitas bênçãos que Deus tem dado a nós em tempos de incerteza e os nossos olhos devem se voltar para ele”.
É assim que Mesbah Yazdi gostaria de governar o Irã. Para compreender Qom, basta pensar na Inglaterra na época dos Tudor.
*Especial para o jornal argentino Página 12.
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