Ano novo, símbolo novo? A nova torre de Dubai pode servir para isso. A construção de 1,5 bilhão de dólares localizada no centro de Dubai, inaugurada na última segunda-feira (4), é o novo prédio mais alto do mundo. Com mais de 800 metros de altura, mais que dois Empire State de altura, a torre de Dubai se orgulha de ter 169 andares, a piscina mais alta do mundo, o templo mais alto do mundo e o símbolo de negação mais alto do mundo.
A história se repete. Como aconteceu com o Empire State antes, a torre de Dubai foi construída durante uma depressão global, enquanto mão-de-obra barata era abundante, assim como os sonhos dos ambiciosos e ricos.
Essa maravilha da engenharia foi construída no calor do deserto árabe por imigrantes mal remunerados (principalmente indianos e paquistaneses), que recebiam entre 5 e 20 dólares por dia. O número de trabalhadores que morreram no processo é segredo de Estado. Enquanto a construção resistiu a exigências dos operários e impediu sindicatos no local, foi alimentando a fantasia dos consumidores com a mesma extravagância. A torre possui 144 apartamentos e um hotel desenhado pelo estilista italiano Giorgio Armani. No já apelidado de “super-arranha-céu”, os super-ricos podem morar e entrar de férias, sem sair da moda – nem do prédio.
O xeque Mohammed de Dubai e seus arquitetos de Chicago saudaram o edifício como um símbolo de “futuro auspicioso”. Há apenas um porém. De acordo com o jornal inglês The Times, esse futuro inclui derreter o equivalente a 12 milhões de quilos de gelo por dia para a refrigeração, bem como gastar de bilhões de litros de água dessalinizada em uma cidade-estado que já tem o maior índice de gás carbônico per capita do mundo.
O clima realmente muda enquanto se sobe no elevador. É muito, muito mais quente no térreo. Os engenheiros estão fazendo tudo ao alcance para contrariar a física e, até agora, tem dado certo. Mas o clima que vem esquentando, num sentido muito menos metafórico, já atingiu a economia. Em uma mudança de última hora, na noite da inauguração, na segunda-feira, a Burj Dubai (Torre de Dubai) foi rebatizada como Burj Khalifa. Foi uma concessão vergonhosa para a realidade: o xeque Khalifa, governante de Abu Dhabi, emirado vizinho rico em petróleo, vem repetidamente salvando Dubai de um colapso financeiro desde o início da construção da torre – mais recentemente, há apenas três semanas, quando se ameaçou uma moratória devastadora.
Não é exatamente uma vitória para as pessoas que sofrem com calor no andar de baixo, mas é um grande sucesso para os líderes de Dubai que se pretendem competitivos e cool. Eles têm uma torre de dívidas. Que perfeito. Bem-vindos à década.
*Laura Flanders é âncora do programa GRITtv, transmitido na TV a cabo nos EUA e online nos sites GRITtv.org e TheNation.com. O artigo foi originalmente publicado no website da revista The Nation .
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