Atualizada em 17/01/2018 às 17:40
Em 18 de janeiro de 1994, Silvio Berlusconi, conhecido por ser um riquíssimo empresário de televisão, anuncia a criação de um novo partido político, a Forza Italia.
Contra todas as expectativas, Berlusconi conquista as eleições legislativas de 27 e 28 de março de 1994 e, em 10 de maio de 1994, é chamado a formar um governo de coalizão com seus aliados de direita e de extrema-direita : a Liga do Norte, de Umberto Bossi, e a Aliança Nacional, de Gianfranco Fini. Estavam encerrados 50 anos de poder da Democracia Cristã.
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Em 1994, o magnata das teles Berlusconi fundaria a Forza Italia
Nascido em 26 de setembro de 1936 numa família modesta de Milão, tornou-se empreendedor da construção e promotor de vendas imobiliárias, enriquecendo rapidamente. Seus adversários sempre suspeitaram de suas vinculações com os meios mafiosos.
O sucesso nos negócios lhe valeu em 1977 a outorga da comenda Cavaleiro da Ordem do Trabalho, de onde procede o epíteto “Il Cavaliere”, honraria de que se gabava à falta de um título universitário mais prestigioso.
Ao mesmo tempo, antecipando o formidável desenvolvimento da televisão privada por cabo e o fim do monopólio de Estado na comunicação televisiva, cria a primeira rede a cabo na Lombardia. No ano seguinte, em 1978, funda em Milão um banco de negócios, o Fininvest, que recebeu fundos da Sicília. Adere também à Loja Maçônica Propaganda Due, de má reputação, o que negaria mais tarde.
A fortuna chega com a fundação em 1980 do Canale 5, primeira rede privada de TV com cobertura nacional. Aposta na transmissão de esportes, de programas de auditório populares com jogos e brincadeiras e farta distribuição de prêmios, e leva ao ar apresentações luxuosas. Foi a porta de entrada para o sucesso.
O grupo Fininvest torna-se uma das principais empresas do país e faz de Berlusconi uma das três maiores fortunas da Itália. Em 2004, seu patrimônio foi avaliado em US$ 12 bilhões.
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Chega então o tempo dos escândalos. Seu amigo, o socialista Bettino Craxi, presidente do Conselho de Estado de 1982 a 1987, estava gravemente comprometido com o escândalo do Banco Ambrosiano e teve de fugir para a Tunísia. Berlusconi, igualmente ameaçado pela Justiça, lança-se na política com a única finalidade de escapar da prisão.
Ao termo de uma campanha relâmpago de dois meses, Berlusconi passa a ocupar o Palácio Chigi, sede da presidência do Conselho de Ministros (Primature), em maio de 1994. Contudo, a experiência como primeiro-ministro teve curta duração. Seu desentendimento com Umberto Bossi (fundador e líder do movimento político da Liga Norte) levou a uma ruptura da coalizão e à perda do poder ao cabo de apenas oito meses.
Tornou-se chefe da oposição frente ao líder político Romano Prodi, chefe da coalizão de centro-esquerda A Oliveira. Senhor dos grandes meios populares de comunicação, reúne partidos de direita à frente de uma nova formação política, Il Popolo della Libertà (O Povo da Liberdade).
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Morador de rua dorme em frente a cartaz da coligação política “O Povo da Liberdade”, encabeçada por Berlusconi
Assim, Berlusconi ocupou ainda duas vezes a presidência do Conselho de Ministros, de 11 de junho de 2001 até 17 de maio de 2006, e de 8 de maio de 2008 a 16 de novembro de 2011. Manchadas por escândalos de diversas espécies e problemas com a Justiça, as duas presidências não ficaram marcadas por nenhuma grande reforma. Ao contrário, recebeu da União Europeia sediada em Bruxelas, no final de seu mandato, a exigência de um plano rigoroso na economia.
Apesar de tudo, a Itália prosseguiu aos trancos e barrancos em seu caminho. A exemplo de outros países da Europa Mediterrânea, chamados depreciativamente de Club Med pelos alemães, ela se endividou, envelheceu e se despovoou, vendo sua administração se desagregar. Mas não naufragou. Sua malha industrial de pequenas e médias empresas familiares resistiu a todas as borrascas, continuando a alimentar as exportações.
Todavia as bolsas de valores e os mercados internacionais se mostraram desconfiados. Obtiveram de Berlusconi, em 13 de novembro de 2011, o que parlamentares eleitos e cidadãos italianos não puderam obter: que ele encaminhasse sua demissão ao presidente da República, Giorgio Napolitano.
A fim de evitar as vaias que o aguardavam à saída do palácio presidencial do Quirinal, teve de sair pela porta dos fundos. Excelente comunicador, a despeito — ou por causa — de suas derrapagens verbais, o Cavaliere recupera um tanto de popularidade em abril de 2009 quando visita in loco a área afetada pelo terremoto de Aquila. Com um descaramento sem precedentes, enrola em torno de seu pescoço o lenço vermelho dos antigos partiggiani, resistentes comunistas.Porém tudo soçobra alguns dias mais tarde … Sua vida íntima é revelada por ocasião do 18º aniversário de Noemi Letizia, em 6 de maio de 2009. Surge como beneficiário dos favores sexuais, retribuídos com vantagens pecuniárias, quando a moça era ainda menor de idade. O escândalo, que ficou conhecido como Caso Ruby, levou Veronica, a segunda esposa do premiê, a pedir o divórcio… e uma bastante confortável pensão alimentar.
A imprensam enfileira revelações, por meio de fotos e vídeos, em que se vê o velho político de traços retocados pela cirurgia estética pavoneando-se em meios a cortesãs de luxo.
Com o agravamento da crise financeira, os italianos mostram-se cada vez menos compreensivos em relação ao seu ‘heroi’ tão viril, empreendedor e enérgico. Berlusconi se vê escanteado pela cena internacional, por ocasião das cúpulas europeias e intercontinentais. Sua capacidade de mobilização das massas e de convencê-las a novos sacrifícios decorrentes dos cortes orçamentários ficou seriamente reduzida.
Nas eleições parlamentares de 2012 sofreu amarga derrota a ameaçar definitivamente seu destino político. A 24 de Junho de 2013 é condenado no caso Ruby a 7 anos de cadeia e proibido de exercer qualquer cargo publico.