Atualizada em 03/03/2017
Giuseppe Di Stefano, tenor italiano que desenvolveu sua carreira desde o final dos anos 1940 até princípios dos anos 1970, morreu em Santa Maria Hoe, em 3 de março de 2008. Seu encontro artístico com o barítono Tito Gobbi e a soprano Maria Callas foi um dos mais famosos da história do bel canto do século 20. Dele se dizia ser “o tenor com o timbre de voz mais formoso”. Era conhecido popularmente como Pippo.
Nasceu em Motta Sant’Anastasia, Sicília, em 24 de julho de 1921. Filho único de um sapateiro e de uma modista, foi educado em um seminário jesuita. Pensou em ordenar-se sacerdote. No seminário, um amigo o ouviu cantar e, surpreso, lhe disse que sua voz era excepcional e que deveria se dedicar à ópera. Sua voz, de grande beleza, podia realizar “diminuendos” desde um agudo forte a um fio cálido de voz tão particular que chamou a atenção imediata do público que o converteria numa lenda do palco lírico.
Um dos fenômenos mais marcantes e interessantes em relação a Di Stefano era a incompreensão de sua inigualável capacidade técnica, o que levou tanto críticos quanto diretores e mesmo seguidores a dizer que ele não a possuía. Mas, na verdade, por pelo menos de 15 a 20 anos de carreira exibiu uma grandeza técnica inalcançável e insuperável até os nossos dias, sobretudo no repertório belcantista e lírico mas também abordando certo repertório verista.
Um erro de seus críticos era dizer que cantava aberto e que não “fechava” os agudos, quando sua vocalidade expressava o que se chama cobrir a voz a partir de uma posição aberta, o que lhe permitiu a mais assombrosa e comovente expressividade ou “forma de dizer”. Os exemplos são incontáveis, desde a ópera à canção napolitana e popular.
Sua prematura decadência pareceu dever-se a dois principais fatores: primeiro, a passagem a um repertório mais dramático sem o adequado ajuste técnico; segundo, os excessos da “boa vida”, se bem que o próprio Di Stefano tenha argumentado em algumas entrevistas problemas de respiração e alergia. Ao lado de Enrico Caruso, Beniamino Gigli, Franco Corelli, Mario del Mônaco entre poucos outros, ocupa um dos principais postos de glória do bel canto italiano.
Trajetória
Em 1946 estreou operisticamente na cidade de Reggio Emilia, interpretando o papel de Des Grieux na ópera Manon de Jules Massenet, papel com que estrearia no ano seguinte no lendário palco do Alla Scala de Milão. Naquele momento, se pôde recordar de suas intenções iniciais de seminarista, porque Des Grieux, para se esquecer de Manon também queria ser sacerdote. Pode-se também entender por quê lhe encantava cantar Manon de Massenet.
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Suas atuações no Alla Scala, Covent Garden, Deutsche Oper Berlin, Teatro Colón, Metropolitan Opera, Wiener Staatsoper junto a figuras como Birgit Nilsson, Zinka Milanov, Leontyne Price, Antonietta Stella, Renata Tebaldi, Regine Crespin, Leyla Gencer são inesquecíveis. Sem contar com sua mais célebre ‘partennaire’, a soprano Maria Callas a quem acompanhou em sua reaparição depois de quase dez anos de silêncio em uma única e última turnê em 1973.
Foi um dos tenores favoritos de Arturo Toscanini, Victor de Sabata e Herbert von Karajan. Seus recitais de música napolitana e ‘conzonette’ também gozaram do favor da crítica e do público. Além disso, participou da legendária gravação da Tosca de Giacomo Pucinni com Maria Callas e Tito Gobbi, dirigidos por Victor de Sabata, considerada unanimemente pela crítica especializada como um dos melhores registros clássicos da história.
Em dezembro de 2004, em Diani, Quênia, foi brutalmente agredido por desconhecidos e teve de ser submetido a varias operações cirúrgicas. Sua esposa, Mônica Curth providenciou que um avião o levasse a Milão. Ali se sentiu melhor, falou com seus médicos e se manteve bem por quatro dias. Em seguida entrou em coma profundo que perdurou por muito tempo até sua morte.
*Max Altman (1937-2016), advogado e jornalista, foi titular da coluna Hoje na História da fundação do site, em 2008, até o final de 2014, tendo escrito a maior parte dos textos publicados na seção. Entre 2014 e 2016, escreveu séries especiais e manteve o blog Sueltos em Opera Mundi.
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