Cubadebate
“Não nos apressemos em julgar nossa obra, pois já temos juízes de sobra”, disse Fidel Castro em discurso em 1961
O homem que foi o centro da política cubana nos últimos 57 anos, que sobreviveu a 12 presidentes norte-americanos e enterrou quatro papas, nasceu em 13 de agosto de 1926 às duas horas da manhã, na fazenda Manacás, região de Birán, no município de Mayarí, norte do oriente de Cuba. O local fica a cerca de 100 quilômetros da célebre Sierra Maestra, de onde lançaria 30 anos depois a epopeia que ficou conhecida como a Revolução Cubana.
Fidel Alejandro Castro Ruz, falecido nesta sexta-feira (25/11), foi um dos homens mais influentes do século XX, marcando profundamente a história mundial ao criar uma sociedade comunista no mundo ocidental. Sem tolerar qualquer discórdia, no período da Guerra Fria o revolucionário se alinhou com a extinta União Soviética contra os Estados Unidos, resistindo a todas as tentativas de Washington de derrubá-lo, sendo pelas investidas para assassiná-lo, ou pela invasão direta de Cuba. De fato, Fidel esteve no centro do primeiro episódio que quase levou o mundo a beira de um Holocausto Nuclear – a crise dos mísseis de 1962.
Outros inúmeros momentos da vida do líder da Revolução Cubana, que são também os da história recente da ilha caribenha, antes de Fidel governada pela ditadura de Fulgencio Batista (1952-1958), serão lembrados neste momento em que esse personagem-chave do século XX deixa a vida para habitar a posteridade. Pouco se sabe, porém, sobre detalhes do início da trajetória.
Discurso de Fidel Castro na ONU, em 1979:
Fidel teve uma educação católica. Aprendeu a ler e escrever aos cinco anos, nas terras produtoras de açúcar da família, onde cresceu com cinco irmãos e os pais, Angel Castro y Argiz, um fazendeiro galego que chegou a Cuba no final do século XIX no exército de ocupação espanhol, e Lina Ruz, cozinheira na casa dos Castro e originária da província ocidental de Pinar del Río. Eles o enviaram primeiro ao Colegio La Salle, dos Hermanos Maristas, e depois ao de Dolores, dos jesuítas, ambos em Santiago de Cuba, e, posteriormente, ao prestigioso “habanero” Colegio de Belén, também dos jesuítas e cuja disciplina marcou fortemente sua vida posterior.
Em Dolores, Castro teve ali, possivelmente, sua primera decepção com os EUA. Ele escreveu uma carta ao então presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, o convidando a visitar as minas de ferro do oriente do país e lhe pediu uma passagem autografada norte-americana de US$ 10. Ele recebeu uma carta de cortesia do Departamento de Estado, mas não havia nenhuma passagem. “Fidel ficou muito incomodado, dizia que os norte-americanos eram muito tacanhos”, lembrou seu colega de escola, o já falecido professor Luis Aguilar León.
Segundo o padre Armando Llorente, seu confidente e educador, durante sua passagem por Belén, Fidel se distinguiu por ser “motivado, orgulhoso e diferente dos demais”, com “o desejo de se destacar primeiramente nos esportes”, já que “gostava de ganhar sem se importar com o esforço”.
Segundo ele, o cubano “tinha muito pouco interesse em festas ou em se socializar e parecia alienado da sociedade cubana”. Quando se formou, alguém escreveu: “tem jeito de líder”.
Mas foi também, no mesmo colégio em Havana, onde o jovem Fidel teve seu primeiro contato com as ideias autoritárias. Em várias entrevistas concedidas nos últimos anos, admitiu que lá o fascismo da Falange espanhola havia provocado impacto.
Naquela época, também ia a atividades de “Hispanidad”, um movimento critico dos valores materiais anglo-saxões e promotor dos valores espirituais hispânicos.
Início da vida política
Fidel iniciou a vida política na Universidade de Havana, ingressando na Faculdade de Direito em 1945. A universidade era um estado dentro de outro estado, gozando de una autonomia que a protegia não apenas da entrada da polícia como da influência do governo. Tratava-se de um lugar excelente para discutir todo tipo de idéias políticas.
Sua natureza revolucionária o aproxima de grupos insurrecionais, ainda não desmobilizados, do Partido “Autêntico” que ainda mantinham certa imagem nacionalista revolucionária. É assim como se integra à União Insurrecional Revolucionária, de Emilio Tro, segundo afirmam alguns autores (Yves Guilbert, Pardo Liada) ainda que outros (K.S. Karol) sustentam que se se vincula à UIR é como “independente” e mais que nada para evitar a pressão do Movimento Socialista Revolucionário, grupo também “autêntico” mais inimigo da UIR e sob a condução de Mario Salabarría.
Fidel pronunciou , em novembro de 1946, seu primeiro discurso de “líder político”, segundo a versão oficial cubana, em uma manifestação de protesto pelo aumento das tarifas dos ônibus.
Os dois anos seguintes doram frutiferamente revolucionários para o líder cubano. Em setembro de 1947, ele se uniu a uma expedição organizada por opositores dominicanos visando à derrubada do ditador Rafael Leonidas Trujillo, que ficou conhecida como a conspiração de Cayo Confites. Descoberto pelas forças governamentais, mesmo em território cubano, Castro se lançou na água e cruzou a nado a baía de Nippe, infestada de tubarões. Dois meses depois, se afiliou ao Partido del Pueblo Cubano (Ortodoxo), por meio do qual foi ao Congresso en 1952, mas as eleições não se realizaram por conta do golpe de Estado dado por Batista.
Em março de 1948, Castro participa do “El Bogotazo”, uma rebelião popular que estalou nas ruas da capital colombiana após o assassinato do líder populista Jorge Eliécer Gaitán. Ainda que estivesse previsto un encontro entre os dois, este nunca se realizou porque o colombiano morreu meia hora antes. Anos mais tarde, Castro lembrou que, “em um impulso juvenil”, se uniu à revolta, chegando inclusive a se armar com um fuzil tomado de um posto policial.
O episódio terminou com um pedido de proteção à embaixada cubana, depois que a polícia o designou junto com os outros estudantes cubanos como “agitador”. A viagem à Colômbia foi para participar de uma reunião estudiantil, organizada para protestar contra a 9ª Conferência Interamericana, boiotada pelo líder argentino Juan Domingo Perón, por quem Fidel nunca ocultou sua admiração.
De volta a Cuba, o jovem retomou seus estudos universitários, aprofundando a militância no partido ortodoxo e o contato com seu líder, Eduardo Chibás. O suicídio de Chibás, em agosto de 1951, teve um impacto monumental em Fidel, que se radicalizou, se separando posteriormente da organização.
Em 11 de outubro de 1948, ele se casa com Mirta Díaz-Balart, estudante de Filosofia e membro de uma das famílias mais influentes politicamente do país, a ponto de conduzir dois membros a Câmara de Representantes da Cuba Republicana, e posteriormente outros dois ao Congresso de Estados Unidos. O matrimônio gera um filho, Fidelito.
Mirta era irmã de Rafael Díaz-Balart, congressista, senador e partidário de Batista, quem inicialmente foi amigo de Castro, mas posteriormente se transformou em um de seus mais ferrenhos opositores, a ponto de pronunciar na Câmara de Representantes em Havana possivelmente o primeiro discurso anticastrista. Na fala, Díaz-Balart denunciou a personalidade do cunhado e se opôs à concessão de uma anistia por conta do ataque ao Quartel da Moncada, em julho de 1953.
Luta armada
Antes, em 1950, Fidel de formou em advocacia, abrindo um pequeno escritório de na capital. No entanto, a política lhe tomava todas as energias. O golpe de Batista, em março daquele ano, terminou por convencê-lo de que a via armada e revolucionaria era a solução para o país.
Assim foi. Em 26 de julho de 1953, Fidel comandou a invasão a Moncada, em Santiago e de Bayamo, liderando um grupo de jovens, aglomerados ao seu redor, a quem passou a chamar de “A Geração do Centenário” – uma homenagem ao aniversário da morte do libertador de Cuba, José Martí.
Porém, o ataque fracassa. Antes de perder, Fidel emprende uma jogada que o levaria à fuga em Sierra Maestra, onde é capturado por forças do exército. Graças à intervenção do Arcebispo de Santiago de Cuba, o jovem não é sumariamente executado, como aconteceu com alguns de seus seguidores. Fidelfoi julgado e condenado a 15 anos de prisão. No julgamento, assumiu sua própria defesa e pronunciou um discurso que ficou, posteriormente, conhecido como “A História me absolverá'', no qual fez uma apresentação de suas idéias políticas e de planos para o país. Era um prenúncio do que seriam as próximas décadas da Revolução Cubana.
Enviado à prisão de Isla de Pinos, atual Ilha da Juventude, Fidel permaneceu ali até ser anistiado em maio de 1955. Um mês depois, anuncia a fundação do Movimento 26 de Julho, cria sua direção nacional e parte para o México, com a clara inteção de formar uma força expedicionária para derrubar Batista. Quando ainda estava na prisão, ele se separa de Mirta.
Durante sua estada mexicana, se dedica ao treinamento militar pessoal e de seus homens. Ele viaja aos EUA para arrecadar dinheiro para a expedição e assegurar, principalmente em Miami, uma retaguarda de apoio com abastecimento de armas a sua luta de guerrilha.
“Granma”
No amanhecer de 2 de dezembro de 1956, Castro, seu irmão Raúl e 80 seguidores, desembarcam na praia de Las Coloradas, no sul do país, perto de Sierra Maestra, a bordo do iate “Granma”. Assim que desceram, se sucedeu um forte confronto com o exército que os esperava ali havia alguns dias. Apenas 12 homens sobreviveram.
Começam então quase dois anos de uma guerra de guerrilhas, que se transformou em um símbolo, adquiriu visibilidade e até hoje é vista em muitos países do mundo como um símbolo da luta política latino-americana.
O período da Sierra Maestra se caracterizou, segundo seus biógrafos, por luta armada contra o exército governamental, ciente das intensas negociações políticas com diversas facções revolucionárias, algumas delas com sérias suspeitas do líder cubano. Foram negociações em que apareceram inesperadamente diferenças entre “el llano'' e “la sierra”, uma referência às diferenças táticas nos métodos de luta guerrilheiros e urbanos, onde tinham grande participação as forças do Diretório Revolucionário, de José Antonio Echevarría, com quem Fidel firmou um acordo político, ainda quando estava no México. A ideia do líder guerrilhero era de que “el llano'' deveria se subordinar a ” la sierra”, uma antecipação do que seria depois a sociedade cubana.
Em 13 de março de 1957, o Diretório Revolucionário lança um ataque ao palácio presidencial de Batista, onde morre Echevarría. Fidel condena o ataque, apesar de o triunfo revolucionário ter se tornado uma das principais datas do regime. Em abril de 1958, Fidel faz um chamado a uma greve nacional, que fracassou por rivalidades entre as forças políticas.
Em Sierra Maestra, o líder cubano indica a revolta com as ações dos EUA. Em junho de 1958, em uma carta escrita à amiga e revolucionária cubana Celia Sánchez Manduley, após presenciar um bombardeio à casa de campo de Batista com armas norte-americanas, Fidel escreve: “Quando esta guerra terminar, começará uma muito maior, uma guerra contra eles [os norte-americanos]. Acabo de chegar à conclusão de que esse é meu destino”.
Naquela época, os EUA já estavam prestando atenção nas consequências de uma eventual tomada de poder por Fidel. Como ficou provado mais tarde, por parte da comissão de investigação de desembarque da Baía dos Porcos, a embaixada norte-americana em Havana já havia entrado em contato com políticos opositores a ele e estava tratando de convencer Batista a entregar o poder a uma Junta Militar.
Fidel se informou sobre o assunto por conta própria e por meio de seus contatos com oficiais do exército que combatia, começou a acelerar os planos para derrubar o ditador. Nesse momento, a guerra se tornava cada vez mais intensa. O governo enfrentava os revolucionários nas cidades provocando ainda mais terror, prendendo e torturando jovens do Movimento 26 de Julho. Uma política que tem um efeito contraproducente e termina por dar mais popularidade aFidel, que sai da guerra como líder inquestionável da oposição a Batista e do país.
Vitória
Nas primeras horas de 1 de janeiro de 1959, Batista e seus amigos mais próximos fogem para a República Dominicana, pois os EUA haviam se recusado a lhes oferecer asilo político. Neste mesmo dia, as primeiras tropas rebeldes entram em Havana e o Movimento 26 de julho assume o poder.
Se seguiram meses de confusão política, mas também de alegria popular. Em meio às discussões pela divisão de sua cota de poder entre as organizações revolucionárias, a incipiente revolução sofreu o primeiro boicote dentro do exército rebelde.
Durante o verão, percebendo o que descreveu como penetração comunista no governo, o comandante Húber Matos, chefe militar da província central de Camaguey, se declara em rebeldia e denuncia a complacência castrista com os comunistas. Matos foi preso e condenado a 20 anos de prisão, tempo que cumpriu em sua totalidade.
Ao mesmo tempo, com a subida de Fidel ao poder, começam os julgamentos populares contra os principais agentes do regime de Batista, acusados de torturar e perseguir a população. O país assiste a uma série de fusilamentos, que terminaram no início do ano seguinte, após provocarem indignação na América Latina e nos EUA – apesar de o país há anos executar prisioneiros. O número exato de mortos nunca foi determinado.
“Esses julgamentos não deveriam surpreender os cubanos e norte-americanos. Em fevereiro de 1958, as revistas Look e Bohemia publicaram uma reportagem fotográfica intitulada ‘Justiça em Sierra', que mostrava um Castro relaxado, sentado no chão, interrogando prisioneiros acusados de violações e assassinatos diante de um tribunal revolucionário, e Raúl Castro à frente de um pelotão de fusilamento”, escreveu em sua biografia sobre o líder cubano, o escritor norte-americano Tad Szulc.
Nos primeiros meses da revolução, Fidel assume o cargo de primeiro-ministro e se mantém na liderança do Exército Rebelde, enquanto a presidência do país era do advogado Manuel Urrutia, considerado moderado sem conexões com o regime de Batista, e que foi seu juiz no processo de Moncada.
São meses nos quais o líder revolucionário se dedica a longos e profundos discursos, divulgando suas ideias sobre a reorganização do país, a decência no governo e contra a corrupção. Ele chega, inclusive, a prometer eleições livres, nega profusamente que seja comunista e em uma reunião com jornalistas norte-americanos em Nova York, afirma que sua revolução é essencialmente “humanista”, disposta a conservar a propriedade privada.
No entanto, Fidel inicia ao mesmo tempo uma reforma escalonada da sociedade. Em maio de 1959, assina a lei da Reforma Agrária e cria o Instituto de Reforma Agrária, que funcionou na prática como um governo paralelo, alternativo ao dirigido por Urrutia. Posteriormente, ele acaba tendo um desentendimento político com o presidente, o que o leva a renunciar como primeiro-ministro, forçando Urrutia a fazer o mesmo. Fidel retorna como primeiro-ministro em 26 de julho desse ano, após a ascenção do advogado Osvaldo Dorticós como presidente, que nunca teve poderes executivos de fato, até que abandonou o cargo, abolido em 1975.
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O líder cubano também decretou a Lei de Reforma Urbana, que confisca imóveis residenciais para alugar a pessoas sem casa, com pequena taxa de aluguel e cria as Milícias Nacionais Revolucionárias, onde enquadra militarmente grande parte da população. Também, lança uma campanha nacional de alfabetização, que se tornou um emblema de seu governo.
Discurso de Fidel Castro no Harlem, NY:
Primeiro anos
Os primeros anos da Revolução Cubana se caracterizam por um incremento nos desentendimentos com os EUA por conta da nacionalização das propriedades norte-americanas na ilha, e da aproximação de Havana com Moscou, marcada com a visita do então primeiro ministro soviético Anastas Mikoyan à capital cubana en fevereiro de 1960. Ele volta a Moscou com o primeiro acordo comercial assinado entre os dois países, que marca o início de uma gigantesca subvenção que em 1991 deixou uma dívida pública de quase US$ 200.000.
Em 5 de março de 1960, Fidel consagra a frase que se transformou na base da liturgia política de seu regime: “Pátria ou morte”. Uma expressão que ficou completa depois de três meses com o “Venceremos”.
O confronto com os EUA atinge dois ápices: a aterrissagem da Baía dos Porcos (Playa Girón) e a a Crise de Outubro. A primeira começa no amanhecer de 17 de abril de 1961, quando uma força expedicionária exiliada desembarca ao sul da Ciénaga de Zapata. Em menos de 48 horas, os 1.500 exiliados foram dizimados, em parte pela falta de um apoio militar norte-americano, desautorizado pelo então presidente John F. Kennedy. No dia 16, durante o enterro das vítimas de um bombardeio prévio ao desembarcar, Fidel proclama o ''caráter socialista'' de seu processo político. A revolução adota formalmente o socialismo.
Discurso prévio à invasão à Baía dos Porcos:
Depois, em outubro de 1962, satélites norte-americanos descobriram que estavam sendo construídas na ilha as bases de lançamento de mísseis nucleares soviéticos. Cuba alega que são para sua defesa. Especialistas soviéticos disseram décadas mais tarde que a ideia era equilibrar a existência de mísseis similares norte-americanos na Turquia, mas Cuba submetida a uma quarentena e o mundo esteve, pela primeira vez, à beira de um Holocausto Nuclear. A crise durou 13 dias. Ao final, os soviéticos aceitaram se retirar, um gesto que enfureceu o líder cubano, pois jamais foi consultado a respeito, uma vez que as negociações foram feitas diretamente entre Kennedy e o líder soviético Nikita Krutchov.
Por conta do fracasso da aterrissagem, os EUA respondem com uma guerra de guerrilhas em Sierra del Escambray. Acontece um conflito irregular, que duraria quatro anos e envolveria centenas de camponeses, e que o historiador cubano exiliado Enrique Encinosa qualificou como “a guerra esquecida”.
Mas a revolução seguiu. Fidel nacionalizou a educação e a saúde pública, expulsou da ilha centenas de padres e milhares de cubanos fugiram da ilha, se mudando para o sul do Estado norte-americano da Flórida.
Após se declarar marxista-leninista em dezembro de 1961, em outubro de 1965Fidel cria o Partido Comunista de Cuba e assume a presidência, dando origem assim, a uma estrutura política que até hoje rege os destinos do país.
Com a realização da Conferência Tricontinental em janeiro de 1966, onde proclama que “o movimento revolucionário pode contar com combatentes cubanos em qualquer canto da Terra”, Fidel lança um poderoso movimento “internacionalista'' que extende sua influência por toda América Latina, alguns países da África e tem seu ponto alto, com o envio em meados da década de 1970, de tropas até Angola e a Etiopía, assim como assesores em guerra irregular á Nicarágua, em apoio ao incipiente movimento sandinista.
Apoio soviético
Em 1970, o fracasso da promessa da “safra dos 10 milhões”, uma tentativa em vão de conseguir a maior colheita açucareira jamais vista, representou um forte revés para o líder cubano. Naquele ano, Fidel depositou todo seu prestígio e apoio popular para concentrar o país durante quase seis meses no cultivo da cana-de-açúcar. O episódio o levou a abandonar uma planificação econômica local e a se abrir aos planos de economia centralizada do mundo socialista.
Em 1972, ele viaja à União Soviética pela terceira vez e volta com uma série de acordos de colaboração para os 20 anos seguintes. A partir daí, Cuba fica repleta de assesores soviéticos, que penetram em todos os aspectos da vida pública.
A colaboração dá origem à criação de um dos mais poderosos exércitos do mundo ocidental, que tem sua prova de fogo convencional a partir de 1975, quando Cuba participa da guerra civil de Angola. Uma presença que é vista pelos analistas, como parte dos planos de expansão soviética pelo mundo, mas queFidel definiu como uma ajuda ''desinteresada'' e “obrigatória'' para todo revolucionário. Depois de tudo, disse, Cuba tem um “componente de sangue africano que deve ser fiel às suas raízes”. Assim, Angola e posteriormente Etiopía, foram cenários de intensos combates, que se prolongaram por mais de 15 anos.
A década de 1980 é de desafios. Ao mesmo tempo em que os laços com a URSS foram reforçados, com o recebimento de abundantes subsídios, como máquinas e alimentos, Fidel assume a presidência do Movimento de Países Não Alinhados. A população experimenta una pequena melhoria de sua qualidade de vida, com pequenos momentos de desenvolvimento da economia privada, como é o caso da abertura dos mercados livres campesinos.
No entanto, a experiência dura poco. Preocupado com as consequências do surgimento de novos ricos, Fidel fecha os mercados, pondo um fim a qualquer ideia de propriedade privada e, em um gesto político, diante da perestroika soviética, desenvolvida em 1985, inicia em 1986 um processo “de retificação de erros e tendências negativas”, durante o qual centenas de quadros e funcionários governamentais são publicamente criticados e alguns demitidos.
Dissidência e distanciamento da URSS
É também nessa etapa que o movimento dissidente cubano dá seus primeiros passos. A prisão das principais cabeças conhecidas nas cidades é acompanhado pela detenção de outros membros, menos conhecidos, no interior do país. Em termos gerais, Fidel enfrenta un movimento dissidente cujas origens estão nos quadros do “velho” Partido Socialista Popular, que ele mesmo havia destruído em 1968, durante um processo que ficou conhecido como a “microfracionamento”.
Nessa época, o líder cubano os acusou de inclinações pró-soviéticas e de conspirar para acabar com seu poder. Porém, nos anos 1980, à medida em que a “glasnost” e a “perestroika” se ampliaram na União Soviética, Fidel começa, pouco a pouco, a se distanciar de Moscou e os dissidentes vão adquirindo importância na vida do país.
A chegada ao poder de Mikhail Gorbachev, em 1985, marca o início de um paulatino distanciamento conforme avançavam as reformas políticas e econômicas na URSS. Desde o início, Fidel as viu com desconfiança e começou a cortar o conhecimento que a população tem delas. As primeiras vítimas são as publicações sovitéticas que eram vendidas nas esquinas. Sua circulação foi proibida, despois que uma delas publica um artigo crítico sobre o ex-secretário geral do partido comunista soviético, Leonid Brejnev, amigo pessonal de Fidel. Seguiram as restrições aos contatos dos diplomatas de Moscou com os cubanos e a situação teve seu ponto mais baixo quando os soviéticos começaram a atrasar o envio de ajuda e colaboração.
A visita de Gorbachev a Havana em abril de 1989 aconteceu em um clima de grande frieza e distanciamento. Fidel afirmou depois que os quatro dias acontecem “de maneira estranha e nada feliz”, e confirmou seus piores medos: a URSS queria formar laços com os Estados Unidos e Cuba era um empecilho.
Fidel se preparou para o pior: seguir com uma economia sem subsídios soviéticos.
Seus temores se materializam com o definhamento do maior aliado no fim de 1991 e o desaparecimento do mundo socialista da Europa Oriental. Não restou alternativa senão decretar um “periodo especial”, quando foram resgatadas as experiências anteriores de propriedade privada. O país foi aberto para o turismo capitalista e foi permitido – com forte regulação – o exercício de um conjunto de profissões por conta própria, principalmente na área de prestação de serviços.
Venezuela
Após anos de dificuldades, o país começou a sair da crise, feito que as autoridades qualificaram como um ato de “resistência''. Posteriormente, com o triunfo na Venezuela do presidente Hugo Chávez, no final dos anos 90, a ilha começou a receber uma série de financiamentos e ajuda, como petróleo, que permitiram manter o país em movimento. A Venezuela se transformou no maior aliado político de Cuba no exterior. Em troca, Fidel enviou milhares de médicos, professores, militares e seguranças ao país sul-americano.
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Com o triunfo de Hugo Chávez na Venezuela, no final dos anos 90, Cuba começou a receber uma série de financiamentos e ajuda
À medida em que a Venezuela se tornou seu sócio pleno, político e comercial, Havana comçou a investir em reformas, tímidas, de abertura, lançadas no início do período especial. Também foram renovados os contratos com a China, congelados desde a Guerra Fria, por conta do conflito sino-soviético no qual o líder cubano se alinhou com Moscou. Hoje, o pais asiático é um dos maiores exportadores de produtos para Cuba. Essa cooperação se solidifica quando no início da primeira década deste século, a China sustituiu os russos na operação da Base Eletrônica de Lourdes, órgão gigante de espionagem electrônico orientado pelos EUA.
Saúde delibitada
Fidel ficou seriamente doente em meados de 2006 e foi submetido a varias operações intestinais. Inicialmente, ele cedeu o poder provisionalmente ao irmão, Raúl, cumprindo o previsto na Constituição de 1976, reformada em 1992. Em fevereiro de 2008, Raúl assumiu o poder definitivamente, e a intervenção de Fidel nos assuntos do país se limitou a artigos opinativos publicados pela imprensa local.
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Fidel Castro na Universidade de Havana, falando a jovens estudantes. “Nessa idade, descobri meu verdadeiro destino”, disse
No momento da morte, Fidel estava casado com Delia Soto del Valle, com quem teve sete filhos. O líder da Revolução Cubana Deixou também seu filho mais velho, Fidel Castro Díaz-Balart, filho de seu primeiro matrimônio, e Alina Fernández Revuelta, fruto de uma relação extra matrimonial, nos anos 1950, quando saiu da prisão pelo assalto ao Quartel da Moncada.
Fidel Castro foi um revolucionário firme em seus princípios. Para muitos, um herói, e para outros, um tirano. Manteve-se férreo no poder até o fim de seus dias e provavelmente será lembrado como um dos mais fascinantes e controversos líderes políticos do mundo.
“Não nos apressemos em julgar nossa obra, pois já temos juízes de sobra. E quem deve ter temido não é esse juiz autoritário, verdugo da cultura, imaginário, que elaboramos aqui. Temam outros juízes muito mais temíveis: temam os juízes da posteridade, temam as gerações futuras que serão, no final, as encarregadas de dizer a última palavra!”, disse Fidel Castro, em uma data tão cedo, ou distante, como 1961.