O diplomata sueco Anders Kompass, que expôs o caso de abuso sexual de crianças por parte de tropas das Nações Unidas na República Centro-Africana, foi inocentado das acusações de má conduta em uma investigação interna da organização, reportou nesta segunda-feira (18/01) o jornal britânico The Guardian.
Kompass era diretor de operações no terreno do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e, em abril do ano passado, entregou um relatório sobre o caso às autoridades francesas após a ONU supostamente negligenciar a questão. Ele foi suspenso do cargo e poderia ser demitido caso a investigação interna o considerasse culpado.
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Anders Kompass disse ser muito “decepcionante” não ter recebido retratações ou pedidos de desculpas
“Eu sinto alívio e um pouco de tristeza. Ainda é um mistério por que a maioria dos líderes da ONU decidiu fazer isso comigo enquanto sabiam muito bem como a ONU estava lidando mal com esses tipos de caso e sabiam que havia uma grande brecha com relação a subnotificações nesses casos [de abuso sexual]”, disse Kompass ao The Guardian.
A ONU alegou que Kompass havia sido insubordinado e que, ao expor nomes no relatório, ele teria colocado as crianças violentadas e os soldados acusados de abuxo sexual em risco. A investigação disciplinar de Kompass durou nove meses.
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“É importante que os outros funcionários vejam que eu fui apoiado. Essa é uma das razões pelas quais eu tinha de passar por isso, para dar o exemplo aos funcionários, em especial aos jovens, caso contrário a mensagem seria: ‘Se você tentar fazer algo similar ao que Anders fez, essas serão as consequências’”, afirmou ele.
Intitulado “Abuso Sexual de Crianças pelas Forças Armadas Internacionais”, o relatório repassado às autoridades francesas continha informações sobre estupro e abuso sexual de crianças por parte de soldados franceses da missão de paz na República Centro-Africana. O caso começou a ser investigado somente após Kompass entregar o documento a Paris.
As investigações que resultaram no relatório, feitas entre dezembro de 2013 e julho de 2014, foram conduzidas por um funcionário do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e por um membro do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, porém a ONU não tomou nenhuma medida.
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Há pelo menos 17 denúncias de abuso sexual de crianças por soldados franceses da ONU
Um grupo independente da ONU convocado pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, declarou no mês passado que Kompass não havia cometido nenhuma irregularidade ao entregar o relatório às autoridades francesas. Após estudar o caso, o grupo apontou uma “total falência institucional” da ONU por não investigar as acusações de abuso sexual.
Kompass disse que não recebeu pedido de desculpas ou retratação por parte da ONU e que cogita deixar a organização.