Nesta Super Terça (01/03), principal data no calendário de primárias dos EUA, as pesquisas indicam Hillary Clinton como favorita para levar a maioria dos delegados dos estados onde haverá primárias e caucus – e pavimentando, assim, o caminho para a nomeação do Partido Democrata. No entanto, mesmo não estando com o favoritismo, o adversário Bernie Sanders conseguiu reunir grande mobilização popular sobre pautas progressistas, fazendo que Clinton adequasse seu discurso à esquerda.
Essa é a análise de Solange Reis, doutora em Ciência Política pela Unicamp e coordenadora-geral do Observatório Político dos EUA. A especialista explica que o crescimento de Sanders fez com que Hillary reformulasse a estratégia sobre temas sensíveis aos norte-americanos, como especulação financeira em Wall Street, ensino superior gratuito e impostos para grandes fortunas.
“A disputa com Bernie Sanders puxou Clinton à esquerda. A ex-secretária de Estado dos EUA teria uma outra trajetória, em termos de oratória, se estivesse concorrendo com um candidato moderado. O grande trunfo do Sanders, podemos dizer que ele até já ganhou, mesmo perdendo as eleições, é puxar a agenda democrata”, afirma Solange Reis.
Por outro lado, após os pleitos de Iowa e New Hamphishire, onde Sanders conquistou resultados expressivos, a tendência é que Hillary consiga frear a campanha de Sanders e retome a folga na liderança das pesquisas.
“A expectativa é que Hillary Clinton reverta o entusiamo em torno de Bernie Sanders. Porque, a partir de agora, as primárias irão acontecer em Estados onde as minorias são determinantes para o resultado. E o Sanders não tem a mesma inserção nesses setores como Hillary tem. Bill Clinton foi um presidente muito popular entre as lideranças negras, o que reflete apoio importante para Hillary”, afirma.
Agência Efe
Para Solange Reis, candidatura de Bernie Sanders puxou agenda democrata à esquerda
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“A diferença com as primárias de 2008 é que, como candidato negro, Barack Obama conseguiu, no mínimo, dividir o apoio entre esses grupos. E isso não acontecerá com Bernie. Além disso, a comunidade latina deve dar apoio à Hillary”, explica Solange.
Outro aspecto importante na disputa democrata é a participação dos superdelegados. Solange Reis destaca que Bernie Sanders não tem o apoio dentro da máquina partidária. Isso significa que, mesmo com grande apoio popular, ele não conseguirá reunir superdelegados como Obama conseguiu em 2008.
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“Sanders não tem apoio da máquina partidária. Não importa o quanto a população vai apoiar um candidato, pois os superdelegados cumprem papel fundamental, com o peso maior que os delegados indicados pelos votos diretos da população. Vale ressaltar que a eleição não é direta. A população é ouvida, mas não necessariamente isso é cumprido, pois a máquina partidária determina os superdelegados. Esse sistema joga em favor de Hillary”, explica.
Embora esteja envolto de um discurso contra bilionários e a maquina partidária, contesta Solange, Sanders não pode ser considerado um “candidato revolucionário, que busca romper com o sistema”.
“Discordo da ideia de que o Sanders é antissistema. Ele faz parte do sistema político de esquerda, mas que está inserido dentro do Partido Democrata. Inclusive, já foi senador e deputado. Ele não tem um Super PAC, máquina eleitoral, mas usufrui do dinheiro que vem do Partido Democrata. Ou seja, ele tem um discurso de mudança, mas faz parte do sistema. Sanders pretende aumentar a igualdade social nos EUA, pois há perda de competitividade, poder aquisitivo, por uma série de fatores. Mas isso não significa levar o país à esquerda ou revolucionar a máquina administrativa”, afirma.