Adlène Hicheur, professor visitante do Instituto de Física da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi deportado sumariamente em um voo que partiu na noite desta sexta-feira (15/7) do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para Paris, na França. O pesquisador franco-argelino foi detido em sua casa na manhã de hoje e, desde então, permaneceu isolado no aeroporto.
Shobhan Saxena
Adlène Hicheur, professor visitante da UFRJ
De acordo com o Estatuto do Estrangeiro, a deportação sumária é uma medida extraordinária que acontece quando interesse nacional exige a retirada imediata do indivíduo do território nacional em razão da inconveniência de sua presença no país.
Entre 2009 e 2012, Hicheur cumpriu pena de dois anos e meio de prisão na França. Ele foi condenado por 5 anos sob a acusação de associação com criminosos que planejavam um atentado terrorista, mas acabou ganhando liberdade condicional.
Sua condenação se tornou conhecida no Brasil em janeiro deste ano, quando a revista Época publicou sua história. Na matéria “Um terrorista no Brasil”, a revista revelou que Hicheur vivia no Brasil com uma bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico), e estava sendo investigado pela Polícia Federal.
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Com um currículo científico extenso na área da Física de Partículas, Hicheur já trabalhou como pesquisador no famoso Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), que conta com um superacelerador de partículas em Genebra, na Suíça.
Em janeiro deste ano, Hicheur concedeu uma longa entrevista ao site Opera Mundi, em que Adlène afirmou: “Estou sendo condenado pela mída por um crime que não cometi”. Nesta entrevista, Hicheur disse que a matéria da revista Época distorceu os fatos e ignorou detalhes cruciais que indicariam a sua inocência e contou que, em 2009, antes de ser preso por visitar “websites de conversas subversivas islâmicas”, Hicheur estava seriamente doente, tomando medicação.
Em nota, a UFRJ manifestou surpresa com a deportação sumária do professor. De acordo com a universidade, a renovação de contrato do professor já havia sido analisada e aprovada nos colegiados internos. Vice-reitora da universidade, Denise Nascimento foi ao aeroporto para acompanhar a situação do professor e tentar evitar sua deportação. No texto divulgado na noite de hoje, a Universidade declarou extrema preocupação com a ação, anunciada sem justificativas claras e atenção a princípios democráticos básicos, como direito à defesa.
O Painel Acadêmico tentou contato com a Polícia Federal e o Ministério da Justiça, mas até o momento não obteve retorno.
Leia abaixo a nota da UFRJ na íntegra:
Nota oficial
A Reitoria da UFRJ foi surpreendida nesta sexta-feira, 15 de julho, com a notícia da sumária deportação do professor visitante Adlene Hicheur, pesquisador do Instituto de Física. Manifestamos extrema preocupação com a ação, anunciada sem apresentação de justificativas claras e atenção a princípios democráticos básicos, como direito à defesa.
O pedido de renovação de contrato do professor Adlene Hicheur foi analisado pelos vários colegiados da UFRJ e aprovado na universidade.
O professor desenvolveu na UFRJ novas linhas de pesquisa, assim como deu continuidade a trabalhos já em andamento quando da sua contratação. Dentre os trabalhos científicos realizados podem ser destacados artigos e descobertas importantes para a Física de Partículas.