Atualizado em 25.out.16, às 10h51
O governo da Venezuela e a oposição vão sentar à mesa de negociação no dia 30 de outubro, anunciou nesta segunda-feira (24/10) o clérigo Emil Paul, representante do Vaticano na mediação. As conversas acontecerão na ilha Margarita, no Caribe venezuelano.
O anúncio vem um dia depois de o Congresso do país, controlado pelos oposicionistas, ter dito que houve uma “ruptura da ordem constitucional” com a decisão da Justiça de suspender o processo que poderia levar à revogação do mandato do presidente Nicolás Maduro. O mandatário, inclusive, fez nesta segunda uma visita surpresa ao papa Francisco, parando em Roma enquanto voltava à Venezuela de uma visita que fez à Ásia Central.
Segundo Paul, o objetivo é a “busca da criação de um clima de confiança, superação da discórdia e promoção de um mecanismo que garanta a convivência pacífica”. “Esse processo tem como objetivo a superação das conjunturas econômicas, políticas e sociais”, disse.
Paul é um dos mediadores das conversas. Além dele, fazem parte do grupo os ex-presidentes Leonel Fernández (República Dominicana), Martín Torrijos (Panamá) e José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), além da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Na noite de segunda, no entanto, líderes oposicionistas negaram que tenham sido consultados para darem início às conversas. “Uma reunião em Margarita jamais foi considerada. Soube disto pela televisão”, disse Henrique Capriles, do MUD (Mesa de Unidade Democrática) e governador do Estado de Miranda. “Não podemos ir para um processo de diálogo que permita ao governo dizer que aqui não está acontecendo nada. Tenham a absoluta segurança de que a oposição não vai se prestar a isto.”
Divulgação/Prensa Presidencial de Venezuela
Em volta de visita à Ásia Central, Maduro parou no Vaticano para se encontrar com o papa, que o auxiliará nos diálogos com a oposição
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Em junho, Maduro acusou a oposição venezuelana de boicotar uma tentativa de diálogo. “Estão sabotando os diálogos da República Dominicana, querem destruir a comissão internacional de soberania e de paz que está nos acompanhado e ajudando e, eu pessoalmente faço este apelo ao senhor Ramos Allup [presidente do Parlamento] e ele foge do diálogo”, disse o presidente em rede nacional de rádio e televisão. Na época, os opositores haviam estabelecido condições, como a soltura de “presos políticos”.
#InterVTV | Papa Francisco recibe al Pdte. @NicolasMaduro en El Vaticano https://t.co/HVU90xCeXM pic.twitter.com/l97krha4zi
— VTV CANAL 8 (@VTVcanal8) 24 de outubro de 2016
Crise política
A Assembleia do país aprovou, neste domingo (23/10), um acordo em que diz ter havido “ruptura da ordem constitucional” e um “golpe de Estado” dado pelo mandatário, em uma tentativa de destituí-lo. Depois da decisão, o PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela), ao qual Maduro é filiado, convocou uma “mobilização ativa e permanente” dos militantes.
“Vamos às ruas defender o poder político da Venezuela. Eles [a oposição] não nos reconheceram em 2002, 2004, 2007 e 2013 e, agora, cabe a nós, como sempre, ensinarmos a reconhecer e a respeitar essa pátria, porque, quando se desconhece a Nicolás Maduro, se desconhece ao povo e isso nós devemos defender”, disse Jaua, segundo o jornal El Universal.
Por sua vez, o líder do governo no Parlamento, Hector Rodríguez, disse que a decisão “não tem validade política”. “Podem fazer com esse acordo o que quiserem. Este governo segue em frente e, ante a qualquer tentativa de fraude, vamos estar mais unidos que nunca para vencer”, afirmou.
“A oposição violou a democracia. A Venezuela é uma democracia e isso significa respeitar a Constituição e as instituições. Se não gostam da sentença que emitiram contra o [referendo revogatório], é problema dela”, disse Rodríguez.