O rei da Espanha, Felipe VI, chamou nesta terça-feira (25/10) o presidente interino do país, Mariano Rajoy, para tentar formar governo e se reeleger no cargo, após o PSOE (Partido Socialista Operário da Espanha) declarar que irá se abster da votação de investidura.
Rajoy aceitou tentar a reeleição nos próximos dias, apesar de não ter a quantidade de apoios suficientes para se eleger na primeira votação, na qual precisa de maioria absoluta no Parlamento — 176 votos. Ele conseguirá, contudo, se reeleger no segundo pleito, em que precisa apenas de maioria simples, 137 votos — atualmente, Rajoy conta com o apoio de 170 deputados.
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Debate de investidura de Mariano Rajoy começa na quarta-feira; votação será na quinta
Rajoy agradeceu ao PSOE sua decisão de optar pela abstenção, uma posição que lhe parece “razoável e responsável”, visto que a Espanha teria de enfrentar novas eleições gerais em dezembro caso nenhum candidato conseguisse formar governo. “É louvável que esse entendimento seja possível, mesmo que de forma limitada”, afirmou o líder conservador, que terá de governar em minoria.
O PSOE, cujo novo líder (após a renúncia de Pedro Sánchez) é Javier Fernández, anunciou que decidiu se abster na segunda tentativa de investidura de Rajoy nesta terça. Segundo partido, na primeira tentativa, o partido irá contra o líder do PP.
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Javier Fernández, novo líder do PSOE, anunciou que partido irá se abster da votação de investidura de Rajoy
A decisão foi tomada no comitê federal da legenda, encerrado no domingo. Segundo Fernández, porém, a abstenção dos socialistas não significa que Rajoy terá estabilidade para governar.
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Rajoy, por sua vez, afirmou ter “a obrigação de governar”. “Necessito de apoio e terei que ganhá-lo”, disse.
À imprensa, ele prometeu a formação de um Executivo “capacitado, estável e durável”, após uma etapa “sem precedentes” na história da Espanha, com um governo interino durante quase um ano. Ele também afirmou que ainda não tem os nomes que farão parte de seu novo gabinete e disse acreditar que a nova legislatura permitirá que se inicie um período baseado “não em maximalismos, mas em diálogo e entendimento”.
Oposição
Pablo Iglesias, líder da oposição de esquerda no Parlamento espanhol (Unidos Podemos), criticou, em entrevista coletiva nesta terça-feira, a atitude do PSOE de “entregar o poder ao PP”, por sua decisão de se abster na votação de investidura. Ele disse ainda estar surpreso que até os deputados do braço independentista do PSOE na Catalunha concordaram com a decisão, visto que Rajoy já afirmou diversas vezes que não iria negociar a independência da região.
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Pablo Iglesias, líder da aliança de esquerda Unidos Podemos, repudiu decisão de PSOE de “entregar o poder” ao PP
“É inequívoco que esta investidura será histórica. Ela inaugura uma tríplice aliança. Estão se unindo PP, PSOE e Ciudadanos para entregar o poder ao PP (…) Com a tríplice aliança, nem o PSOE nem o Ciudadanos poderão dizer com credibilidade que são oposição [ao governo de Mariano Rajoy]”, afirmou Iglesias.
O debate da investidura do atual presidente interino deve começar na tarde de quarta-feira (26/10) e a primeira votação será realizada na quinta de manhã. A segunda votação está prevista para sábado.
Contexto político
A Espanha vem tentando eleger um chefe de governo desde janeiro deste ano, após as primeiras eleições gerais realizadas em 20 de dezembro do ano passado.
Na ocasião, o PP foi o mais votado, mas não possuía maioria para governar, de modo que Mariano Rajoy rejeitou o chamado do rei para se reeleger. Com esse cenário, Pedro Sánchez, então líder do PSOE, segundo partido mais votado na ocasião, organizou sua investidura.
Para se eleger, no entanto, ele precisava do apoio tanto do Podemos, quanto do Ciudadanos, partidos de propostas e ideologias opostas.
Sánchez optou pelo apoio do Ciudadanos — menos votado que o Podemos —, perdendo o apoio da legenda de esquerda, e fracassou. Sem outro candidato que tivesse força suficiente para tentar formar governo, o rei da Espanha, Felipe VI, dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições gerais.
O segundo pleito geral ocorreu no dia 26 de junho. Novamente, o PP foi o partido mais votado, mas, novamente, não obteve maioria. Seguindo a configuração anterior, o PSOE foi o segundo mais votado, o Unidos Podemos (aliança entre o Esquerda Unida e o Podemos) ficou em terceiro, e o Ciudadanos, em quarto.
Em setembro, Rajoy tentou a investidura, pedindo que os deputados da oposição deixassem quem venceu as eleições governar. Na ocasião, ele conseguiu exatamente a mesma quantidade de votos favoráveis com os quais conta nesta semana: 170, com a diferença de que, em setembro, o PSOE se posicionou contra sua reeleição, sendo rejeitado pelo Parlamento nas duas votações.
Teve início, então, uma nova rodada de negociações em que os líderes dos partidos mais votados passaram também por consultas com o rei, que poderia nomear um novo candidato à investidura ou dissolver uma vez mais o Congresso espanhol.
Após a decisão do PSOE de se abster, Rajoy voltou a ser chamado para tentar formar governo.
Caso Rajoy fracasse nesta nova tentativa – e o Parlamento não consiga escolher um novo chefe de governo até o dia 31 de outubro – , a legislação espanhola exige que o rei convoque novas eleições gerais.