O papa Francisco disse, nesta sexta-feira (18/11), em entrevista ao jornal italiano Avvenire, que “não perde o sono” por causa de críticas da ala mais conservadora da Igreja católica. Nesta semana, quatro cardeais publicaram carta assinada em que questionam certos ensinamentos do pontífice e pedem esclarecimento em relação a divorciados.
Os sacerdotes alemães Walter Brandmüller e Joachim Meisner, o italiano Carlo Caffara e o norte-americano Raymund Leo Burke, representantes de setores mais conservadores do catolicismo, acusaram o pontífice de causar confusão em relação a assuntos-chave para a doutrina católica. Apesar de ter sido enviada em setembro, os sacerdotes não obtiveram resposta do papa, o que os levou a divulgar o documento.
“Algumas pessoas – estou pensando em certas respostas à Amoris Laetitia – continuam sem entender”, disse Francisco. “É preto ou branco para eles, mesmo que no fluxo da vida você tenha que discernir”. A carta se refere ao documento “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), documento publicado em abril pelo pontífice com o objetivo, de acordo com o Vaticano, de abrir novas portas para católicos divorciados e tornar a Igreja mais tolerante com questões relacionadas à família.
Os cardeais buscam esclarecer o que consideram dúvidas ou imprecisões, no que diz respeito “à integridade da fé católica” e pedem uma resposta ao que consideram “interpretações contraditórias” do tratado, especialmente no que diz respeito à possibilidade de os divorciados que voltam a se casar em cerimônias civis, sem conseguir a anulação da união religiosa, receberem a comunhão.
“Os divorciados que vivem numa nova união, por exemplo, podem encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou encerradas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral”, diz o Amoris Laetitia.
Agência Efe
Papa Francisco não respondeu à carta de cardeais conservadores questionando tratado sobre família
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A Igreja proíbe a comunhão de divorciados há séculos, por considerar como “irregular” ou ato de adultério toda tentativa de se constituir um casal após uma separação, a menos que se abstenha de relações sexuais e a convivência seja “como irmão e irmã”. Apesar de não alterar a doutrina, a “Amoris Laetitia” abre brechas para que os bispos de cada país a interpretem de acordo com a cultura local e avaliem caso a caso.
Dissidência na Igreja
A carta reflete o clima de dissidência dentro da Igreja, mas não é a primeira manifestação de descontentamento de setores mais conservadores da Igreja. Em julho, 45 teólogos e sacerdotes assinaram outro documento, dirigido ao Colégio dos Cardeais, exigindo esclarecimentos do papa Francisco.
A divulgação aconteceu logo após o vazamento de uma correspondência do papa com os bispos de Buenos Aires, sua terra natal, em que o pontífice sugere uma interpretação do seu tratado.
Os sacerdotes negam, no entanto, que se trate de um ataque “conservador” contra setores “progressistas” da Igreja, ou uma “tentativa de fazer política” ou de se rebelar contra o papa.
Questões relacionadas ao divórcio – assim como à homossexualidade, à educação sexual, à desigualdade econômica, à responsabilidade no combate às mudanças climáticas e outros temas sensíveis para a hierarquia católica – vêm expondo a cisão entre o papa e os setores mais conservadores da Igreja.