O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta sexta-feira (13/01) que as tropas turcas permanecerão no Chipre, ilha cuja região norte foi ocupada em 1974, e insistiu em uma presidência rotatória na qual a comunidade turco-cipriota tenha um turno para cada dois dos greco-cipriotas.
O chefe de Estado turco descartou a saída das tropas da ilha após três dias de diálogos entre greco-cipriotas, turco-cipriotas e os ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, da Grécia, Nikos Kotzias, e da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, concluídos nesta quinta-feira (12/01) em Genebra, para negociar a reunificação do país. A próxima rodada dos debates, que ocorrem há 20 meses, será realizada no dia 18 de janeiro.
Com relação ao funcionamento de um futuro estado federal bicomunal e com duas partes, mas com uma só nacionalidade e estatuto internacional, Erdogan insistiu na possibilidade de uma presidência rotatória na qual os turco-cipriotas assumam um turno para cada dois dos gregos, mas não um rateio de 1 a 4.
“Um para quatro é impossível. Já falamos disto antes. Será um para dois, o que significa um período para os turcos e dois para os greco-cipriotas. Isto é justo, se queremos uma paz justa e ampla lá”, afirmou. Os gregos, por outro lado rejeitam a presidência rotatória.
Apesar das divergências, o enviado especial da ONU para o Chipre, Espen Barth Eide, afirmou que as partes estão perto de uma conclusão final em cinco dos seis capítulos discutidos. “Mas há assuntos que só poderão ser encerrados quando se acertarem as garantias de segurança”, destacou.
“Respeito as garantias. Nunca esperem garantias onde a Turquia não estiver. Estaremos lá para sempre”, afirmou o presidente da Turquia, que mantém mais de 30 mil soldados na ilha.
O enviado especial também indicou que o tema da segurança envolve não apenas questões militares, mas também “o sentimento de segurança que os turco-cipriotas e os greco-cipriotas precisam ter”. Eide citou o sistema judicial e policial, e o tratamento justo perante a lei de todos os cidadãos, como pontos a serem debatidos no quesito da segurança interna. “Só depois disso vem a questão da segurança externa e como o Chipre a abordaria, em uma região particularmente tão volátil”, explicou o enviado especial.
Agência Efe
Presidente turco Recep Tayyip Erdogan diz que tropas turcas nunca sairão do Chipre, ocupado desde 1974
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a reunificação do Chipre seria um “símbolo de esperança”, mas descartou uma solução imediata à situação.
“Não estamos aqui para qualquer solução rápida, mas para uma solução sólida e sustentável”, disse o líder das Nações Unidas em encontro com a imprensa, no qual apareceu ao lado do presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, e do líder turco-cipriota, Mustafa Akinci.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, também participaram das reuniões, já que o Chipre seria considerado membro de pleno direito na UE em caso de reunificação.
Agência Efe
Greco-chipriotas participam de manifestação em frente ao palácio presidencial em Nicósia, no Chipre, com cartazes com dizeres “Não à Federação”
Uma ilha dividida
Após a independência do Reino Unido em 1960, atualmente a ilha encontra-se dividida entre República do Chipre, membro da União Europeia desde 2004, e República Turca do Chipre do Norte, não reconhecida pela ONU, desde 1974, quando conflitos étnicos entre a minoria turca (18% da população) e a maioria grega culminaram em um golpe de Estado apoiado pela junta militar em Atenas.
A Turquia interveio em defesa de sua minoria e acabou instaurando uma ocupação com 35 mil soldados, sendo proclamada a República Turca do Chipre do Norte em 1983.
Desde então, 36,2% do território do país ficou sob domínio turco, e entre 140 mil e 160 mil greco-cipriotas fugiram da região. Por sua vez, 45 mil turco-cipriotas que viviam no sul da ilha se deslocaram em direção ao norte.
A parte greco-cipriota pede o retorno a suas terras de 100 mil cidadãos expulsos do norte em 1974 e a devolução da cidade de Morfu. Além disso, tanto o governo do Chipre como a Grécia pedem a retirada de tropas turcas da ilha.
A Turquia, junto à Grécia e ao Reino Unido, são os países fiadores da segurança e da independência do Chipre desde 1960 e possuem autoridade para intervir militarmente na região para restabelecer a ordem constitucional.
(*) Com Agência Efe