O diretor do Museu de História Natural de Berlim, Johannes Vogel, enviou carta às promotoras Ana Marchezan, Annelise Steigleder e ao promotor Alexandre Saltz, da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre, manifestando repúdio pela proposta de extinção da Fundação Zoobotânica por parte do governo de José Ivo Sartori (PMDB). Criado há mais de 200 anos pelos irmãos Humboldt, o museu alemão é uma referência mundial na área, possuindo mais de 30 milhões de peças em uma área de aproximadamente 6.600 m². Na carta, Johannes Vogel manifesta preocupação com o futuro da Fundação Zoobotânica, uma instituição “mundialmente renomada”, e se opõe ao encerramento de suas atividades.
Os serviços prestados e as atividades de pesquisa realizadas pela FZB, diz Johannes Vogel, são cruciais para a preservação dos recursos naturais do Brasil. “As pesquisas da fundação abrangem vários ecossistemas do sul do Brasil e de países vizinhos, fornecendo dados fundamentais para o manejo ambiental, identificação e monitoramento de espécies ameaçadas de extinção”. Além disso, acrescenta, a fundação guarda um banco genético e um banco de sementes de espécies nativas, constituindo-se em uma insubstituível fonte de pesquisa para a restauração de ambientes degradados. A carta destaca ainda o trabalho da Fundação na formação de pesquisadores em áreas como a paleontologia, que atrai estudantes de diversos países da América do Sul.
Johannes Vogel pede, por fim, que o Ministério Público se oponha ativamente à decisão do governo Sartori de extinguir a Fundação Zoobotânica e outras nove instituições que prestam serviços sociais em áreas como saúde, educação, pesquisa, comunicação e esportes.
Divulgação
Criado há mais de 200 anos pelos irmãos Humboldt, o museu alemão é uma referência mundial na área
A manifestação do diretor do Museu de Berlim é uma entre dezenas de outras que têm chegado a instituições e autoridades gaúchas, vindas de pesquisadores de vários países do mundo contra a extinção da FZB. No Uruguai, a bióloga Graciela Piñeiro, professora da Faculdade de Ciências de Montevidéu, e seu colega Fernando Abdala, iniciaram uma campanha para angariar apoio à Fundação Zoobotânica junto a pesquisadores de diversos países. Os pesquisadores uruguaios enviaram uma carta a colegas de outros países, solicitando apoio à campanha.
A carta afirma que a extinção da FZB trará vários prejuízos, sendo o mais importante a “perda irrecuperável e insubstituível de recursos humanos”, atingindo especialistas que dedicaram grande parte de sua vida à aquisição de conhecimento para colocá-lo à disposição da comunidade. “Os funcionários da FZB não serão facilmente substituídos como o governo acredita e sua demissão significará, sem dúvida alguma, uma grande déficit na qualidade dos serviços que a comunidade do Estado do Rio Grande do sul e da região merecem”, destaca.
NULL
NULL
A carta já recebeu dezenas de respostas de pesquisadores, somando-se à campanha em defesa da FZB. “Eu apoio fortemente essa causa. É fácil para um governo local fechar um museu ou um instituto de pesquisa, mas ele não pode ser recuperado depois. O trabalho da fundação tem uma importância crucial, especialmente no caso do Brasil onde a biodiversidade é uma questão vital”, afirmou Michael Benton, professor de Paleontologia, da Universidade de Bristol, do Reino Unido.
Conheça alguns dos pesquisadores, de praticamente todos os continentes, que já aderiram à campanha em defesa da Fundação:
Dr. Ekaterina A. Sidorchuk. Arthropoda Laboratory. Paleontological Institute, Russian Academy of Sciences. Moscou (Rússia).
Dr Anne Warren. Emeritus Scholar. La Trobe University, Melbourne (Austrália).
Dr Marcello Ruta, Senior Lecturer – Vertebrate Zoology and Analytical Palaeobiology School of Life Sciences, University of Lincoln Joseph Banks Laboratories (Reino Unido)
Rafael O. de Sá, Ph.D. – Professor – Department of Biology – University of Richmond (EUA)
Dr. Martín D. Ezcurra – CONICET, Investigador Adjunto – Sección Paleontología de Vertebrados, Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia”, Ángel Gallardo 470, C1405DJR, Buenos Aires, Argentina
Andrés Rinderknecht – Museo Nacional de Historia Natural de Montevideo. Uruguai.
Alexander Kellner – Prof. Titular – Laboratório de Sistemática e Taxonomia de Vertebrados Fósseis. Departamento de Geologia e Paleontologia – Museu Nacional/UFRJ
Dr. César A Goso Aguilar – Geología Ambiental – Geoconservación – Instituto de Ciencias Geológicas (ICG) – Universidad de la República (Uruguai).
Jocelyn Falconnet, PhD. Technicien de collections patrimoniales – Direction des Collections, Muséum National d’Histoire naturelle, Paris, França.
Erin Maxwell – Staatliches Museum für Naturkunde, Stuttgart (Alemanha)
Claudio Martinez Debat – Laboratorio de Trazabilidad Molecular Alimentaria, Sección Bioquímica. Facultad de Ciencias. Universidad de la República. Montevidéu. Uruguai.
Dr. Néstor Toledo – División Paleontología Vertebrados. Unidades de Investigación Anexo Museo FCNyM-UNLP. La Plata, Argentina.
Dr. Juliana Sterli – Museo Paleontológico Egidio Feruglio, Chubut, Argentina.
Takuya Konishi, Ph.D. University of Cincinnati, Ohio (EUA)
Dr. Christian F. Kammerer, Museum für Naturkunde, Berlim.
John Hancox Ph.D, General Manager – Africa and Australasia. Caracle Creek International Consulting (Pty) Limited. Geological Consultants – Project Management
Kenneth D. Angielczyk, Ph.D. Associate Curator of Paleomammalogy Earth Sciences Integrative Research Center. Field Museum of Natural History. Chicago (EUA).
Marcelo Sánchez – Paläontologisches Institut und Museum. Universität Zürich (Suíça)
Frederick Bauer – Museo Nacional de Historia Natural del Paraguay
Yamada, Tadasu K. – Curator Emeritus – National Museum of Nature and Science (Japão)
Frederick R. Schram. Professor Emeritus of Systematics and Zoogeography, University of Amsterdam. Research Associate, Burke Museum, University of Washington, Seattle (EUA).
Michel Laurin. Musée National d’Histoire Naturelle. Bâtiment de Géologie. Paris (França).
Zhe-Xi Luo, Ph.D. Professor. Department of Organismal Biology and Anatomy. The University of Chicago (EUA).
Helke Mocke. Chief Geoscientist. Geological Survey of Namibia.
Christophe Hendrickx, PhD. Evolutionary Studies Institute, Center of Excellence in Palaeosciences, University of the Witwatersrand, South Africa.
Sennikov Andrey G., PhD. Paleontological Institute RAS, Moscou, Russia.
*Publicado originalmente no site Sul21.