Gabriela Zapata, ex-namorada de Evo Morales, presidente da Bolívia, e pivô de um escândalo de corrupção que supostamente envolvia o mandatário, acusou neste domingo (19/02) o líder opositor Samuel Doria Medina, da UN (Unidade Nacional), de tê-la manipulado para prejudicar politicamente o presidente boliviano.
“Reconheço, eu menti. Mas não veio de mim. Quero esclarecer ao país que fui usada pelo senhor Samuel Doria Medina por meio do senhor Eduardo León [advogado de Medina]”, afirmou em entrevista veiculada pela emissora boliviana ATB na noite de ontem. “Me disseram que minha vida e a vida de minha filha corriam perigo. Confiei nesta pessoa e não sabia que ela iria me destruir e usar para outro tipo de coisa com fins políticos. Essa pessoa que destruiu a minha vida é o senhor Samuel Doria Medina”.
“Me deram uma cartilha com o que eu tinha que dizer, que o filho existia, que Evo Morales era um monstro”, disse Zapata em referência ao filho que ela afirmou ter tido com o presidente boliviano durante o relacionamento dos dois, em 2007.
Tanto o relacionamento quanto o filho eram desconhecidos dos bolivianos, o que ampliou o escândalo de corrupção em que Zapata estava envolvida e que veio à tona no dia 3 de fevereiro de 2016. Ela foi gerente da filial boliviana da empresa chinesa CAMC, com a qual o Estado assinou contratos no valor de US$ 573 milhões.
Naquele momento o governo boliviano promovia um referendo, realizado em 21 de fevereiro, em prol de uma mudança constitucional que permitisse uma nova reeleição de Evo Morales, que acabou sendo rejeitada nas urnas com 51,3% de votos contra e 48,7% a favor. Zapata foi presa em 26 de fevereiro de 2016, acusada de tráfico de influência.
Reprodução
Gabriela Zapata durante entrevista à emissora ATB
NULL
NULL
Em meio ao escândalo, Evo exigiu a guarda da suposta criança e a demonstração de sua existência, já que ele não a conhecia. Quando Zapata foi presa, ela declarou que o filho havia morrido. Pouco depois, em maio, um juizado da infância determinou a “inexistência física” da criança, estabelecendo que tal filho entre Zapata e Evo nunca existiu.
Zapata também acusou Wálter Chávez, ex-assessor de Evo que hoje vive na Argentina, de ser parte do complô contra o presidente boliviano e de ter inventado a história do suposto filho. Segundo o jornal La Razón, o empresário Medina, ex-candidato presidencial derrotado duas vezes por Evo nas urnas, reconheceu que Chávez, que rompeu com o governo boliviano em 2015, trabalhou na agência publicitária contratada por seu partido para coordenar a campanha contra a mudança constitucional proposta por Evo e votada no referendo de fevereiro de 2016.
Tanto Medina quanto Chávez rejeitaram as acusações de Zapata. “O MAS (o governista Movimento ao Socialismo) usa Zapata como porta-voz para lançar outra acusação falsa contra a UN”, escreveu o empresário em seu perfil no Twitter. “Tentam se justificar para violar a Constituição e desobedecer a vontade popular”, disse Medina em referência à disputa do resultado do referendo, já que para esta terça-feira (21/02), um ano após a plebiscito, o governo convocou uma manifestação chamada “Dia da Mentira”, em protesto ao resultado da votação.
MAS usa a Zapata de vocera para lanzar otra acusación falsa en contra UN. Intentan justificarse para violar CPE y desoír voluntad popular.
— Samuel Doria Medina (@SDoriaMedina) 20 de fevereiro de 2017
Já Chávez diz não conhecer Zapata: “não a vi nem de longe”, afirmou em entrevista à rádio boliviana Compañera. Ele acusou a campanha eleitoral perdedora no referendo de ser responsável pela entrevista veiculada pela emissora ATB.