O Ministério das Relações Exteriores de Cuba afirmou nesta quarta-feira (22/02) que decidiu negar a entrada no país do secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, que participaria de um evento em Havana organizado por um grupo opositor ao governo. “Meu pedido de visto para o passaporte oficial da OEA foi negado pelo Consulado de Cuba em Washington”, declarou Almagro em uma carta à organizadora da premiação, Rosa María Payá, filha do opositor Oswaldo Payá, que morreu em 2012.
Segundo o governo de Raúl Castro, o evento era uma “aberta e grave provocação contra o governo cubano”, que tinha como objetivo “gerar instabilidade interna, prejudicar a imagem internacional do país e afetar o bom andamento das relações diplomáticas de Cuba com outros Estados”. “Talvez alguns calcularam mal e pensaram que Cuba sacrificaria as essências pelas aparências”, afirmou o comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores de Cuba.
Além do ex-chanceler uruguaio e atual chefe da OEA, Havana rejeitou os vistos do ex-presidente mexicano Felipe Calderón e da ex-ministra chilena Mariana Aylwin, filha do ex-presidente Patricio Aylwin, que foram convidados para o mesmo evento. Almagro foi premiado com o Prêmio Oswaldo Payá por “sua contribuição aos direitos humanos e à democracia”, assim como Aylwin, que o receberia em nome de seu pai, morto em 2016.
A chancelaria cubana alega que o prêmio foi “inventado por um grupo ilegal anticubano, que opera mancomunado com a ultradireitista Fundação para a Democracia Panamericana, criada nos dias da VII Cúpula das Américas de Panamá, para canalizar esforços e recursos contra governos legítimos e independentes”. A chancelaria também cita o envolvimento de outras organizações, como a Idea (Iniciativa Democrática da Espanha e as Américas, Centro Democracia e Comunidade), o Cadal (Centro de Estudos e Gestão para o Desenvolvimento da América Latina), e o Instituto Interamericano para a Democracia.
Agência Efe
Secretário-geral da OEA, Luis Almagro, teve entrada em Cuba negada
“Ao saber desses planos e fazendo valer as leis que sustentam a soberania da nação, o governo cubano decidiu negar a entrada em território nacional a cidadãos estrangeiros vinculados com os fatos descritos”, afirmou a nota do Ministério cubano. De acordo com o comunicado, as autoridades cubanas entraram em contato com os governos dos países de onde os convidados viajariam, para informá-los e tentar prevenir que viajassem a Havana. As companhias aéreas cancelaram as reservas dos passageiros e alguns foram reembarcados, segundo informações da chancelaria cubana.
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O Ministério das Relações Exteriores também criticou as “declarações e atos abertamente anticubanos” de Almagro e da OEA, acusando o secretário-geral de manter uma “ambiciosa agenda de autopromoção com ataques contra governos progressistas como Venezuela, Bolívia e Equador”. “Onde esteve a OEA, que sempre manteve um silêncio cúmplice diante das realidades?”, questionou a chancelaria cubana, referindo-se ao aumento de “investidas imperialistas e oligárquicas contra a integração latino-americana e caribenha e contra a institucionalidade democrática”.
Por sua vez, a organização do evento criticou a decisão do governo cubano e anunciou que os prêmios seriam entregues assim que Almagro e Aylwin consigam viajar a Havana. “Esperamos que esta agressão e esta grosseria do governo cubano com nossos convidados tenham resposta dos membros da OEA e outros governos democráticos”, disse Rosa María Payá.
Agência Efe
Rosa María Payá, ativista opositora ao governo cubano, resopnsável pelo evento em Havana do qual Almagro e Aylwin participariam
“Não é do meu interesse avaliar a situação política interna de Cuba, nem suas diferentes tendências políticas. E não me compete opinar sobre isso”, afirmou o secretário-geral da OEA. No entanto, indicou que deseja continuar trabalhando na cooperação estabelecida entre a Rede Latino-Americana de Jovens pela Democracia e a OEA. Em separado, em uma mensagem publicada no Twitter, Almagro assinalou que sua “preocupação é que não exista qualquer repressão ou represália aos organizadores do evento”.
Mi preocupación es que no exista ninguna represión ni represalia alguna sobre organizadores del evento #Cuba https://t.co/XFBndB3n9d pic.twitter.com/2iHI9Labxm
— Luis Almagro (@Almagro_OEA2015) 22 de fevereiro de 2017
A chancelaria do México e do Chile também comentaram a decisão do governo cubano de barrar a entrada de Felipe Calderón e Mariana Aylwin. O secretário de Relações Exteriores do México, Luis Videgaray, lamentou a decisão e afirmou que a presença do ex-presidente mexicano Felipe Calderón “não afeta o povo e governo cubanos”.
La presencia de @FelipeCalderon en Cuba no representa ninguna afectación para el pueblo y gobierno cubanos. Lamentamos la decisión.
— Luis Videgaray Caso (@LVidegaray) 21 de fevereiro de 2017
O Ministério de Relações Exteriores do Chile emitiu um comunicado em que “lamenta profundamente a situação que afetou a ministra e ex-parlamentária Mariana Aylwin Oyarzún, ao ser impedida sua viagem a Cuba”, destacando que no Chile “foram realizados diversos reconhecimentos a figuras históricas e políticas cubanas”. A chancelaria chilena declarou que apresentará às autoridades cubanas “seu mal-estar por essa ação” e informará o embaixador chileno em Havana.
Cuba, membro da OEA desde sua criação em 1948, foi suspensa em 1962 após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro devido à adesão ao marxismo-leninismo no marco da Guerra Fria entre o bloco capitalista liderado pelos EUA e o comunista dirigido pela União Soviética. Nos últimos anos, Cuba e a OEA realizaram um processo de aproximação: em 2009, a organização levantou a suspensão de Cuba; em 2014 o antecessor de Almagro, José Manuel Insulza, se tornou o primeiro secretário-geral a viajar à ilha em cinco décadas; e em 2015 o país caribenho participou pela primeira vez em uma Cúpula das Américas, junto com os outros países do continente.
No entanto, o país se nega a voltar à organização por considerá-la um instrumento da pressão norte-americana. “Cinquenta e cinco anos depois e com a companhia dos povos e governos de todo o mundo, devemos reiterar, como o presidente Raúl Castro assegurou, que Cuba nunca voltará para a OEA”, disse o Ministério de Relações Exteriores cubano.