A Justiça francesa suspeita de corrupção na escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, afirmou nesta sexta-feira (03/03) o jornal francês Le Monde. Segundo a publicação, “um empresário brasileiro milionário” fez um suposto pagamento de US$ 1,5 milhão ao filho do senegalês Lamine Diack, que na época do processo, em 2009, era presidente da IAAF (Federação Internacional de Atletismo) e também membro do COI (Comitê Olímpico Internacional).
A Justiça da França “dispõe de elementos concretos que questionam a integridade do processo de atribuição dos Jogos Olímpicos” de 2016 ao Rio de Janeiro, afirmou o Le Monde. Segundo investigações da Justiça francesa, Papa Massana Diack, filho do senegalês Lamine Diack, recebeu um pagamento três dias antes do anúncio sede dos Jogos de 2016, quando Rio e Madri chegaram à final. A capital fluminense ganhou o direito de sediar os Jogos por 66 votos contra 32.
A transferência foi realizada pela empresa Matlock Capital Group, com base nas ilhas Virgens, paraíso fiscal, e que de acordo com os investigadores franceses é ligada ao empresário brasileiro Arthur Cesar de Menezes Soares Filho. Segundo a informação do jornal francês, o autor do pagamento obteve depois um bom número de contratos de construção para infraestruturas relacionadas com os Jogos do Rio.
Conhecido como “Rei Arthur”, Arthur César de Menezes Soares Filho é investigado na “Operação Calicute”, braço da Lava Jato no Rio de Janeiro que levou à prisão do ex-governador Sérgio Cabral.
Wikicommons
Rio de Janeiro ganhou como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 por 66 votos contra 32 de Madri
NULL
NULL
A Justiça francesa interrogou em fevereiro o presidente do Comitê Olímpico do Japão, Tsunekazu Takeda, também por relação com supostos pagamentos da candidatura de Tóquio 2020 para uma conta secreta vinculada a Papa Diack. Além disso, os investigadores franceses descobriram também que Papa Diack transferiu US$ 299.300 (R$ 943 mil) no dia da eleição para uma companhia offshore chamada Yemli Limited que, segundo o Le Monde, tem ligação com Frankie Fredericks. O ex-corredor da Namíbia foi um dos escrutinadores do Comitê Olímpico Internacional em Copenhague.
Lamine Diack está sendo processado por corrupção na França e foi integrante do COI entre 1999 e 2013 e renunciou em 2014 como principal responsável da IAAF, após a descoberta que ele tinha aceitado propina da federação russa de atletismo para encobrir os resultados positivos para doping de alguns atletas do país europeu. Em dezembro de 2015, o Le Monde informou que Diack tinha confessado a agentes do OCLCIFF (Escritório Central de Combate às Infrações Financeiras e Tributárias, na sigla em francês) que pediu dinheiro a Moscou para financiar sua carreira política. O dirigente esportivo pretendia concorrer nas eleições presidenciais do Senegal em 2012 e precisava financiar a campanha.
Wikicommons
Abertura da Rio 2016; Justiça francesa questiona integridade de processo de escolha da cidade para sediar Jogos Olímpicos
Por sua vez, o assessor de comunicação da Rio-2016 Mário Andrada negou quaisquer irregularidades, alegando que Arthur César de Menezes Soares Filho não tinha nenhuma relação com o Comitê Organizador. “Ele tinha ligação com o Governo do Estado e nunca participou de nenhuma reunião do Comitê e nunca foi convidado para nenhum evento. Ele, inclusive, não estava em Copenhague no dia da eleição”, afirmou. “A suspeita da investigação francesa recai sobre seis membros do COI e isso não muda, pois ganhamos com uma larga margem de votos. A investigação não é sobre a Rio-2016 e sim sobre Lamine e Papa Diack. Temos 100% de certeza que a eleição foi limpa”.
(*) Com Agência Efe