Um “grande número” de esqueletos humanos com idades entre 35 semanas de gestação e três anos foi encontrado em câmaras subterrâneas de um convento na cidade de Tuam, no oeste da Irlanda. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (03/03) pela comissão que investiga na Irlanda as casas de acolhimento dirigidas por ordens religiosas católicas no século 20.
A chamada “Comissão sobre Mães e Bebês” se declarou “chocada” pela descoberta de “um grande número de restos humanos” em pelo menos 17 das 20 câmaras subterrâneas escavadas pelos especialistas forenses nas últimas semanas. “Entre os restos mortais há um número de indivíduos de idades compreendidas entre 35 semanas de gestação e dois e três anos”, explicou seu porta-voz em relação ao centro de Tuam, que funcionou como casa de acolhimento para mães solteiras entre 1925 e 1961.
O governo irlandês estabeleceu a comissão em 2014 para esclarecer este assunto, depois da denúncia sobre a possível existência de 800 esqueletos de crianças em uma vala próxima a um centro religioso das Irmãs do Bom Socorro. “Até agora, havia rumores. Agora temos confirmação de que os restos estão lá, e que eles remontam à época dos lares para mães e bebês”, disse a ministra de Assuntos Infantis Katherine Zappone, acrescentando que a notícia, apesar de não ser inesperada, não deixava de ser triste e perturbadora.
As pesquisas tentam lançar luz sobre os altos índices de mortalidade infantil registrados nessas instituições durante o passado século, as práticas de enterros dos falecidos, suas políticas de adoções e certos programas de vacinação experimental.
O governo estimou que cerca de 35 mil mães solteiras passaram por algum dos dez centros de acolhimento administrados por ordens de irmãs católicas desde a criação do Estado irlandês em 1922 e nos anos 1960. Em 2013, outra investigação oficial revelou o comportamento das freiras católicas nas chamadas “Lavanderias da Madgalena”, onde entre 1922 e 1996 milhares de internas trabalharam em um regime de semiescravidão e abusos.
Agência Efe
Restos mortais de crinaças foram encontrados enterrados em convento em Tuam, na Irlanda
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Entre os motivos que levavam à reclusão das mulheres, o relatório citou “abusos familiares” e “atitudes imorais”, que implicavam, em algumas ocasiões, gestações fora do casamento. Algumas dessas mulheres, consideradas “imorais” pela sociedade da época, acabaram em casas de acolhimento como a que foi administrada entre 1926 e 1961 pelas Irmãs do Bom Socorro em Tuam, no condado irlandês de Galway, no oeste do país.
O caso de Tuam saiu à luz quando um estudo da historiadora Catherine Corless descobriu certidões de óbito que sugeriam que quase 800 crianças jaziam no espaço ocupado por uma fossa séptica do edifício do convento. Segundo a especialista, a mortalidade infantil nesses lugares chegou a ser de entre 30% e 50% durante as décadas de 1930 e 1940 como consequência das duras condições de vida e da negligência das religiosas.
Diante das suspeitas de que possam existir mais casos como este, as pesquisas da comissão se estendem a outras instituições de freiras do país e não se descarta a participação da polícia irlandesa (Garda), se forem encontrados indícios de que foram cometidos crimes. Além da vala de Tuam, existem outros três centros das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus, já inativos, que têm em seus domínios as chamadas “parcelas de anjos”, onde acredita-se que poderiam estar enterradas cerca de 3.200 crianças.
(*) Com Agência Efe