François Fillon, candidato à presidência da França pelo partido de direta Republicanos, criticou neste domingo (05/03) integrantes da direita e do centro que retiraram seu apoio ao conservador. Fillon acusou os aliados de traições “sem vergonha e sem orgulho”, após pedidos para que retirasse sua candidatura perante denúncias de que ele teria concedido empregos supostamente fictícios à sua esposa e a dois de seus filhos.
“Vão deixar que as paixões do momento se coloquem à frente das necessidades da nação? Vão deixar que os interesses de panelinhas e manobras passem por acima da grandeza e da coerência de um projeto adotado por 4 milhões de pessoas?”, disse Fillon em discurso em meio à chuva na Esplanada do Trocadero, em Paris, onde reuniu cerca de 200 mil pessoas, segundo os organizadores da manifestação a favor do candidato. Fillon se referiu à legitimidade que reivindica por ter vencido as primárias da direita e do centro em novembro, quando superou com folga Alain Juppé no segundo turno, que muitos representantes da direita querem agora que o substitua como candidato.
“Eles me atacam em todos os lugares e eu devo, em consciência, ouvir vocês, essa imensa multidão me sustentando. Mas também devo me questionar sobre aqueles que duvidam e estão abandonando o navio. Eles têm uma responsabilidade imensa, como eu”, declarou.
Perda de apoio
Durante a última semana, Fillon perdeu o apoio do partido de centro-direita UDI (União de Democratas e Independentes), que pediu que o partido Republicanos aponte outro candidato. O diretor de campanha dos conservadores, Patrick Stefanini, anunciou sua renúncia na última sexta-feira (03/03), uma das grandes perdas para a campanha de Fillon.
Stefanini será substituído no posto a partir de segunda-feira por Vincent Chriqui, conforme o divulgado pela equipe de Fillon. Além disso, o porta-voz do conservador, Thierry Solère, também somou-se a uma longa lista de deserções, que inclui dois diretores-adjuntos, o tesoureiro e o porta-voz para questões de política externa. Dezenas de deputados retiraram seu apoio ao candidato.
Fillon está sendo investigado pela Justiça francesa por desvio de recursos públicos, tráfico de influência e ocultação de atividades. Em discurso neste domingo, o candidato reconheceu dois “erros”: pedir à sua esposa, Penelope Clarke, que trabalhasse para ele – a questão que está no centro da investigação -, e as dúvidas que teve para falar publicamente sobre o assunto.
Agência Efe
Fillon reuniu seguidores neste domingo (05/03) em Paris, onde criticou 'traição' de direita e centro
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Em entrevista publicada pelo Le Journal du Dimanche neste domingo, Penelope Fillon disse que executava “tarefas muito variadas” como assistente parlamentar do marido, recomendando-o que mantenha sua candidatura “até o fim”.
“Meu papel era ajudar na relação do eleito com o povo. Eu me encarregava dos e-mails, junto com a secretária, preparava para o meu marido notas e fichas sobre as manifestações locais, fazia uma espécie de revista da imprensa local, o representava em manifestações, relia seus discursos”, declarou. Questionada se não poderia ter feito tudo isso sem ter sido paga – ela recebeu 500 mil euros brutos de dinheiro público –, argumentou que o marido, como deputado, “necessitava que alguém fizesse essas tarefas muito variadas” e que, se não fosse ela, outra pessoa teria que ser paga para isso.
Penelope também negou que tenha sido fictício o emprego de colaboradora literária que teve na publicação La Revue des Deux Mondes, propriedade de um milionário amigo do marido. Ela disse ter fornecido aos investigadores “dez notas” de críticas de livros que entregou, das quais duas foram publicadas, tendo recebido 900 mil euros pelo trabalho.
Os legisladores franceses têm permissão para empregar familiares, mas os investigadores estão examinando que trabalho exatamente cabia à esposa de Fillon, depois que veio à tona que ela não possuía nem mesmo um cartão de acesso ao edifício da Assembleia Nacional. Além da esposa, Fillon teria empregado dois filhos em cargos fictícios.
O candidato da direita não só não deu qualquer sinal de estar disposto a deixar a carreira eleitoral, como justificou a vontade de ficar para defender um programa que, segundo ele, tem o apoio popular e é apropriado para tirar o país do “longo inverno histórico” em que ficou nos cinco anos da presidência do socialista François Hollande. Em sua opinião, os ataques contra recebidos querem, além de prejudicar sua imagem, “quebrar a direita e roubar os votos”.