A Organização das Nações Unidas aprovou, em julho deste ano, um tratado que proíbe a utilização de armas nucleares. Mais de 100 países assinaram o documento, mas as nações que possuem bombas atômicas nem participaram das discussões. Com o documento, os países que assinaram se comprometeram a não desenvolver, adquirir, armazenar, usar ou ameaçar usar armas nucleares ou outros dispositivos de mesmo princípio. No entanto, para o assessor jurídico do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) Gabriel Valladares, a imprensa mundial “não deu a devida atenção ao tema”.
“Para mim, a proibição das armas nucleares foi o fato mais importante da década, do século”, disse Valladares, em palestra para os participantes do curso “Repórter do Futuro”, da Oboré.
A conferência de assinatura do tratado foi presidida pela embaixadora da Costa Rica nas Nações Unidas, Elayne Whyte, que destacou o “momento histórico” da adoção do documento.
Wikicommons
Valladares ressaltou que proibição de armas nucleares não é a solução, é um passo
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Dos 124 países que participaram das negociações, apenas Cingapura se absteve; a Holanda votou contra o tratado. Nações consideradas potências nucleares, tais como EUA, Rússia, China, França e Reino Unido se mantiveram à margem das discussões e não participaram da votação. Esses países, além de serem nações que dispõem de armamentos nucleares, são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e têm poder de veto no órgão;
Coreia do Norte, Paquistão, Índia e Israel, países que possuem bombas atômicas, também não se manifestaram a respeito do tratado.
Histórico
O documento é o primeiro tratado internacional adotado pelas Nações Unidas que proíbe o uso de armamentos nucleares. Segundo o porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, “o tratado representa um importante passo e uma contribuição para as aspirações comuns de um mundo sem armas nucleares”.
EUA, França e Reino Unido, potências nucleares que não participaram da assinatura , se manifestaram em nota conjunta dizendo que “não participaram das negociações do tratado e não pretendem assiná-lo, ratificá-lo ou mesmo se tornar parte dele”. “Essa iniciativa claramente ignora a realidade do ambiente internacional de segurança. A adesão ao tratado de proibição é incompatível com a política de dissuasão nuclear, que tem sido essencial para manter a paz na Europa e no Norte da Ásia há mais de 70 anos”, disse a nota.
Sobre a não adesão de potências nucleares, Whyte lembrou o Tratado para Não Proliferação de Armas Nucleares, que foi aberto para assinaturas em 1968 e só foi assinado pelos membros do Conselho de Segurança da ONU (China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos), em 1995.
Brasil
Em nota publicada no site da ONU, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que “a comunidade internacional já baniu as outras armas de destruição em massa, químicas e biológicas. Não há motivo para não buscar proibir, igualmente, as armas com maior poder destrutivo, capazes de exterminar a vida na Terra”.
País assinante do tratado, “o Brasil foi um dos proponentes da resolução da Assembleia Geral que convocou a conferência internacional para negociar o texto hoje aprovado”, conclui a nota.
(*) Lucas Estanislau participa do Projeto Repórter do Futuro, que tem o objetivo de oferecer alternativas de autodesenvolvimento e incentivar as carreiras dos futuros repórteres. Saiba mais sobre o projeto aqui.