O Tribunal Supremo do Quênia anulou nesta sexta-feira (01/09) os resultados das eleições realizadas no último dia 8 de agosto e ordenou que um novo pleito ocorra nos nos próximos 60 dias, invalidando assim a vitória do atual presidente, Uhuru Kenyatta.
O Supremo disse que a Comissão Eleitoral “cometeu irregularidades” durante as eleições que “afetaram as integridade do processo”, que resultou na vitória de Kenyatta com um 54% dos votos.
“A declaração de Uhuru Kenyatta como presidente eleito não foi válida”, diz a resolução do Supremo, adotada após um processo judicial derivado do recurso apresentado pela principal coalizão opositora, a Super Aliança Nacional (NASA).
Seu líder, Raila Odinga, defendia desde o dia das eleições que os servidores da Comissão Eleitoral sofreram um ataque cibernético que gerou uma vantagem constante a favor de Kenyatta.
O presidente da Suprema Corte, David Maraga, ordenou à Comissão que as novas eleições sejam realizadas “em estrito cumprimento da Constituição”.
Maraga especificou que a decisão foi tomada com o voto favorável de cinco dos sete juízes que a compõem.
O advogado que defendia a vitória de Kenyatta, Ahmednassir Abdullahi, lamentou na saída do tribunal que a decisão do Supremo era “política e não legal”.
Tema foi debatido em ao vivo pela Quatro V e Opera Mundi na terça-feira (22/08)
O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, acatou a decisão do Tribunal Supremo do país, ainda que tenha expressado seu desacordo com uma resolução e considerado que ela é contrária à vontade de milhões de pessoas.
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“Hoje, seis pessoas [os juízes do Supremo], decidiram ir contra a vontade do povo”, disse em pronunciamento público no qual pediu “paz, paz e paz” aos cidadãos.
O número dois da coalizão opositora, Kalonzo Musyoka, assegurou que “a dignidade e a integridade do Supremo Tribunal foram restabelecidas”, e criticou a Comissão, dizendo que “não é capaz de organizar eleições livres, justas e críveis”.
Uhuru Kenyatta foi eleito presidente em 2013 e concorria a reeleição, faz parte do partido de direita Aliança Nacional (TNA). Raila Odinga é filho do primeiro vice-presidente do Quênia, Jaramogi Oginga Odinga, e é parte do Movimento Democrático Laranja (ODM), organização observadora da Internacional Liberal da qual fazem parte partidos de direita liberal ao redor do mundo. A ODM encabeçava a coligação da Super Aliança Nacional (NASA).
Manifestações
Milhares de habitantes do Quênia saíram às ruas para comemorar a anulação pelo Tribunal Supremo do país.
No bairro de favelas de Kibera, em Nairóbi, um dos principais redutos da oposição, milhares de seguidores do candidato opositor Raila Odinga, da coalizão Super Aliança Nacional, exibiam cartazes com dizeres como “pela primeira vez vimos justiça no Quênia”.
A alegria dos moradores deste bairro, que portavam cartazes com o rosto de Odinga, se traduzia em música, dança e gritos, especialmente nas imediações do colégio eleitoral onde o líder opositor votou.
“Vocês viram como nos enganaram!”, lembravam alguns em referência às acusações feitas por Odinga, que assegurou no mesmo dia das eleições que a Comissão Eleitoral tinha sofrido um ataque cibernético que tinha gerado uma “fraude” a favor de Kenyatta.
Agência Efe
Manifestantes em Nairóbi festejam a decisão da Suprema Corte queniana
“Raila [Odinga] é o presidente já, porque Uhuru [Kenyatta] nos enganou. Raila representa todos”, afirmaou à Agência Efe Jackeline.
Já Sarah explicou à Efe que acredita em “novas eleições”.
Apesar de todos comemorarem, o ambiente antes do veredicto era de pessimismo: “Não esperava este resultado, estava em casa irritada e esperando o pior, mas o conseguimos. Estou feliz, vamos votar de novo e vamos ganhar”, disse à Efe Jesitah.
Joseph pensa o mesmo: “Temos certeza de que agora vamos ganhar”.
O otimismo tomou conta do próprio Odinga, que utilizou a mesma retórica bíblica de durante a campanha eleitoral e disse na saída dos juizados que “a nossa viagem a Canaã é imparável”, depois do que exigiu que os autores deste crime “monstruoso” – a fraude nas eleições – sejam processados.
Em outra das principais áreas opositoras, como a cidade ocidental de Kisumu e Mombaça, no litoral, os seguidores do opositor comemoravam em frente às câmeras de televisão cantando “Uhuru deve ir embora”.
Enquanto isso, em regiões como Nyeri, de apoio maioritário ao partido de Kenyatta, o Jubileu, os seus seguidores apareciam resignados mas dispostos a votar novamente em seu líder nas próximas eleições, que deverão acontecer nos próximos 60 dias.
*Com informações da EFE