Opera Mundi TV
Na Aula Pública, Jessé de Souza explica relações da escravidão com a elite brasileira
Para além da perspectiva eurocêntrica, é importante reconstruir a história brasileira a partir da escravidão. Devemos, portanto, desenvolver uma perspectiva analítica que supere a ideia do brasileiro como “vira-lata” e corrupto – afinal, é a escravidão, e não a corrupção, que confere marca estrutural à sociedade brasileira. Esta é uma das análises de Jessé de Souza, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor titular da UFABC, ao responder se A elite faz a classe média de tola, na Aula Pública Opera Mundi.
Autor do livro 'A Elite do Atraso — da Escravidão à Lava Jato' (Editora Leya C.P., p. 240, compre online), Jessé argumenta que é preciso revisar como as relações de poder se estabeleceram no país, criando desigualdades e tensões insuperáveis até os dias atuais.
“Os escravos continuam até hoje, prestando o mesmo serviço de antes, ou seja, vendendo a energia muscular. São faxineiras, empregadas domésticas e outras ocupações que não vendem o conhecimento, mas sim o corpo. Como traço de toda sociedade escravocrata, temos uma elite que sempre teve como padrão o saque e a rapina das riquezas de curto prazo – portanto, sem planejar o futuro”, afirma.
NULL
NULL
Assista ao primeiro bloco da Aula Pública com Jessé de Souza: a elite faz a classe média de tola?
No segundo bloco, Jessé de Souza responde perguntas do público da Universidade Metodista
Para o especialista, a elite rouba e explora os mais pobres para poder investir em atividades rentáveis. Como consequência, aumenta-se a desigualdade, implicando na reprodução da miséria entre a “ralé”.
“Com a classe trabalhadora, a elite irá se comportar da mesma forma que se comportava com os escravos: com pancadas, enganos, engodos e assassinatos. Com a classe média, a elite percebeu que a conversa seria outra, pois, entre os setores médios, havia maior poder de fogo e organização. Por isso, outra abordagem fez se necessária”, analisa.