Um controle antidrogas visando migrantes, realizado pela polícia francesa no território italiano, desencadeou uma crise diplomática entre os dois países. Roma acusa Paris de ter violado sua fronteira.
O imbróglio começou na sexta-feira (30/03), quando guardas da brigada ferroviária da alfândega francesa realizavam uma operação de busca no trajeto do trem-bala entre Paris e Milão. Cinco oficiais entraram em um dos escritórios da ONG Rainbow for Africa, na pequena estação de esqui de Bardonecchia, e submeteram um migrante nigeriano, suspeito de tráfico de drogas, a um teste de urina.
Segundo a polícia francesa, os migrantes nigerianos teriam a reputação de serem usados como “mulas”, ingerindo sacos de cocaína para atravessar a fronteira transportando drogas ilegalmente. Os testes de urina, apontados como um dos métodos para desvendar o crime, são previstos pela lei.
Flickr/CC
O imbróglio começou na sexta-feira (30/03), quando guardas da brigada ferroviária da alfândega francesa realizavam uma operação de busca
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Mas a violência da operação, com oficiais armados e usando coletes à prova de balas, dentro de uma ONG humanitária, foi denunciada pelos voluntários da entidade e a Justiça foi acionada. A procuradoria de Turin decidiu abrir uma investigação e as autoridades italianas falam de “abuso de poder” e “invasão de domicílio”. Paris afirma que a operação foi totalmente legal, mas o ministério italiano das Relações Exteriores considerou a ação um “ato grave, totalmente fora do âmbito da colaboração entre os Estados fronteiriços”.
França diz que não vai se desculpar
Mesmo se Paris nega ter cometido qualquer erro, o ministro francês das Contas Públicas, Gérald Darmanin, encarregado de questões ligadas às aduanas, anunciou que vai à Itália nos próximos dias para “se explicar” com Roma. Porém, a França afirma “não ter feito nada de ilegal” e que não pretende “se desculpar”, já que o caso ocorreu em um local protegido por um acordo franco-italiano de 1990. Os controles franceses do lado italiano da fronteira foram suspensos até segunda ordem.
O episódio ocorre em um momento delicado na Itália, que sai de uma campanha eleitoral ritmada pela questão da crise migratória, instrumentalizada pelos partidos antissistema. Prova disso, desde sábado (31/03), os responsáveis políticos e a imprensa italiana repercutem o caso. O jornal La Stampa afirma que “os franceses violaram as fronteiras da Itália”, enquanto Il Resto del Carlino traz em sua capa uma foto do presidente francês Emmanuel Macron com a manchete “Invasor”.
Publicado originalmente na RFI Brasil.