Atualizada em 04/11/2015 às 06h00
Desde 1992, Gilles Deleuze tinha seus pulmões afetados por um câncer, funcionando com um terço da capacidade normal. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 04 de novembro de 1995. Seus seguidores consideraram o suicício coerente com sua vida e obra: “para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida”.
Reprodução YouTube/Sis Siou
Filósofo francês, Deleuze lecionava em um liceu antes de ser nomeado assistente na Sorbonne em 1957. Ficou depois encarregado de pesquisa no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) em 1960. Professor na Universidade de Lyon, e de 1969 a 1987, na Universidade experimental de Paris-Vincennes. Em 1968, apresenta como tese de doutoramento Diferença e Repetição, na qual critica o conhecimento via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa. Como tese secundária, tratou de Spinoza e do problema da expressão.
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Começando por decodificar com uma visão nova os grandes clássicos da história da filosofia e da literatura, examinou a crise cultural dos anos 1970. Participa com Michel Foucault do rejuvenescimento da filosofia universitária. Apesar da amizade de toda uma vida, nunca trabalharam juntos. Foram juntos apontados como responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra de Nietzsche.
Ao mesmo tempo, estabelece uma desconcertante e fecunda colaboração com seu amigo, o psiquiatra Félix Guattari, abordando de maneira crítica todos os campos do saber, a começar pela psicanálise. O Anti-Édipo tem uma repercussão considerável. Deleuze dedicou obras ao cinema e à pintura, aplicando à análise estética um estilo filosófico incomparável. Reafirmava a necessidade de uma metafísica em perpétuo movimento e propunha considerar os problemas como tendo “multiplicidades disseminadas”.
De seu encontro com Guattari resultou uma longa, rica, e, para muitos, controversa colaboração. Segundo Deleuze: “meu encontro com Félix Guattari mudou muitas coisas. Félix já tinha um longo passado político e de trabalho psiquiátrico”. Na Universidade de Vincennnes, onde lecionou até 1987, Deleuze promoveu um número significativo de cursos. Graças a sua esposa, Fanny Deleuze, uma parte importante destas aulas foi transcrita e disponibilizada no site de Richard Pinhas.
Para Deleuze, “a filosofia é criação de conceitos” (O que é a filosofia?), coisa da qual nunca se privou: máquinas-desejantes, corpo-sem-órgãos, desterritorialização, rizoma, ritornelo etc. Mas, também, nunca se prendeu a transformá-los em “verdades” a serem reproduzidas. A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao complexo de édipo (ver O Antiédipo – Capitalismo e Esquizofrenia, escrito com Félix Guattari).
A sua filosofia é considerada como uma filosofia do desejo. Com a crítica radical do complexo de édipo, Deleuze consagrará uma parte de sua reflexão à esquizofrenia. Segundo ele, o processo esquizofrênico faz experimentar de modo direto as “máquinas-desejantes” e é capaz de criar, e preencher, o “corpo-sem-órgãos”. Seu intuito sempre foi o de explorar as suas potencialidades, ao máximo. Em Mil Platôs, Deleuze e Guattari enfatizam a necessidade de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prenda a qualquer preceito moral. Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um “trapo” através de experimentações que inicialmente poderiam ser positivas, mas que depois é regulamentada por uma moral subjetiva: “a queda de um processo molecular em um buraco negro”.
O trabalho de Deleuze se divide em dois grupos: por um lado, monografias interpretando filósofos modernos como Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bergson, Foucault; e, por outro, interpretando obras de artistas como Proust, Kafka e Francis Bacon. Explorou igualmente temas filosóficos ecléticos, centrando-se na produção de conceitos como diferença, sentido, evento, rizoma.
Também nesta data:
1847 – Morre o compositor alemão Felix Mendelssohn
1952 – Dwight Eisenhower é eleito presidente dos Estados Unidos
1956 – Tropas soviéticas põem fim a insurreição em Budapeste
1995 – Yitzhak Rabin é assassinado e o processo de paz estanca