Atualizada em 07/11/2017 às 08:50
No dia 7 de novembro de 1987, Habib Burguiba, presidente vitalício da Tunísia, alcunhado de “Combatente Supremo” por conta de sua luta pela independência do país, é deposto por seu primeiro-ministro, Zine el-Abidine Ben Ali. O argumento era de que o líder possuía uma idade avançada (84 anos) e de que sua saúde era debilitada.
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O novo homem forte justificou o que parecia ser um golpe de Estado pelo temor de uma guerra civil com os islamistas do movimento Ennahda. Ben Ali, que havia sido general e ministro do Interior, pretendia neutralizar habilmente os islamistas e direcionar a Tunísia na senda do neoliberalismo econômico.
O país, sob seu comando severo, conheceu rápida modernização, tanto no plano econômico quanto nos costumes. Aproximou-se dos países ocidentais tanto na taxa de natalidade quanto no nível educacional. Todavia, a partir do final dos anos 1990, o presidente e sua família, protegidos pela censura, aproveitaram-se dos cargos para se enriquecer ilicitamente. Isso até que eclodisse a onda revolucionária de janeiro de 2011.
Habib Burguiba, chefe do partido Neo-Destur, arrancara da França a independência da Tunísia em 1956 e se tornara presidente da República após a expulsão do Bei de Túnis. Na época, defendia ativamente a Frente de Libertação Nacional da Argélia na luta pela independência. Uma vez conquistada, expulsa os franceses da base naval de Bizerta, norte da Tunísia, após breves combates travados de 20 a 22 de julho de 1962.
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Com base em seu prestígio, Burguiba engaja a Tunísia numa acelerada modernização. Proíbe a poligamia, instaura a igualdade de direitos entre homens e mulheres, introduz um código civil em substituição do código corânico e contesta publicamente o jejum do Ramadã. Na diplomacia, inicia uma colaboração prudente com o campo ocidental. Na economia, em contrapartida, cede às sereias socialistas e aplica algumas reformas com resultados pouco satisfatórios.
Em 14 de janeiro de 2011, três semanas depois que um comerciante ambulante se imolava em um protesto contra o regime policial e corrupto do país, o presidente Ben Ali foge apressadamente para a Arábia Saudita, levando consigo a família e seus tesouros. Era a primeira etapa de uma revolução democrática e social, conhecida como Primavera Árabe.
Esta revolução tunisiana nasceu do ressentimento dos cidadãos com o presidente Ben Ali e com o apoio das chancelarias ocidentais e árabes que viam nele um obstáculo a uma hipotética ameaça islâmica. Os jovens cidadãos, que se beneficiavam de um nível educacional apreciável e que haviam estabelecido ligações estreitas com a margem europeia do Mediterrâneo, não suportavam mais a opressão policial.
Fruto do desenvolvimento econômico das décadas precedentes, a classe média não suportava a crescente corrupção e o domínio presidencial sobre as empresas do país. As injustiças sociais são agravadas e escancaradas pela crise econômica mundial. Nesse sentido, a revolução aparecia como a primeira consequência geopolítica da crise de 2008.
A população indignada se lança às ruas. A manifestação ganha outras cidades antes de alcançar a capital, Tunis. Os jovens manifestantes contornam a censura graças ao recurso à internet. Os lemas e as convocações são transmitidas pelo Facebook. Era uma estreia mundial em matéria de propagação da revolução.
A repressão policial fez dezenas de mortos sem conseguir restaurar a ordem. Solicitado a fazer o exército intervir, o chefe de Estado-Maior, Rachid Ammar se recusa. O exército toma o partido dos manifestantes. Ben Ali comprendeu que não tinha mais nenhuma carta nas mãos. Poucas semanas foram necessárias para que o povo tunisiano o derrubasse.
O mais difícil estava por vir: construir uma democracia moderna dentro de um contexto econômico deprimido.