Atualizada em 09/04/2018 às 10:13
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Monge do convento franciscano de Fontenay-le-Comte, François Rabelais, primeiro dos três grandes escritores em língua francesa, morre em Paris em 9 de abril de 1553.
Estudioso dos autores da Antiguidade, foi também doutor em medicina da Universidade de Montpellier e ganhou renome como professor no Hôtel-Dieu de Lyon. Foi então que tardiamente escreveu os romances que o tornaram imortal: “Pantagruel” e “Gargantua”, depois “Terceiro Livro” e “Quarto Livro”.
Personalidade cativante, curioso e ávido de viagens, e não desprovido de coragem, Rabelais foi um perfeito representante da Renascença. Ao contrário de outros humanistas de seu tempo, como Budé e Erasmo, foi em francês e não em latim que se expressou.
O escritor nasceu no Vale do Loire em 1493. Foi lá que se iniciou nos longos estudos monásticos. Mostrou-se crítico do ensino escolástico decadente da Idade Média que se escoava.
Monge em 1520, descobre os autores da Antiguidade e se corresponde com o humanista Guillaume Budé. Porém os franciscanos, por instigação da Faculdade de Teologia de Paris, proíbem o aprendizado do grego. Desgostoso, muda de ordem e passa aos beneditinos graças à proteção do bispo Geoffroy d'Estignac. Ingressa na Abadia de Maillezais e depois segue com seu protetor até Roma.
Em 1528, viaja a Paris e passa a frequentar a Universidade. Livra-se do hábito religioso e se veste como padre secular. Doravante livre em seus movimentos, viaja pela França e estuda medicina nos livros. Matricula-se em 17 de setembro de 1530 na renomada Faculdade de Medicina de Montpellier.
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Conhecido como humanista tanto quanto médico, se corresponde com o célebre Erasmo. Contudo, esses alimentos espirituais não compensam a mediocridade de seus ingressos como professor.
Certo dia, o sábio descobre num mercado um romance de êxito: As grandes crônicas do grande e enorme gigante Gargantua. Veio-lhe a ideia de escrever uma continuação da narrativa, que lhe parecia poder ter uma boa venda e assim garantir seus finais de mês.
Publica em 1533 “Os Horríveis e Assombrosos Fatos e Proezas do Muito Renomado Pantagruel, rei dos Dipsodes, Filho do Grande Gargantua” sob o pseudônimo de Alcofribas Nasier, um anagrama de François Rabelais. Posto à venda em 3 de novembro de 1532 na feira de Lyon, recolhe um grande sucesso junto ao público popular.
Como a felicidade jamais chega sozinha, eis que seu novo protetor, o bispo de Paris Jean du Bellay é enviado pelo rei Francisco I como embaixador junto ao papa. Leva Rabelais como seu médico pessoal. De regresso, se põe a escrever um novo livro : “A Vida Muito Horrífica do Grande Gargantua, Pai de Pantagruel”.
Como o precedente, o livro é uma enorme farsa, “porque rir é próprio do homem”, escrito num estilo falado incomum para a época e de uma riqueza linguística incomparável em que o autor alcança a síntese entre a linguagem popular e a de sua própria erudição.
É também um crítico acerbo dos costumes culturais, políticos e religiosos de seu tempo. No final de Gargantua, o humanista desenvolve a utopia de uma educação liberada de qualquer constrangimento ao descrever a abadia ideal de Theleme cuja divisa é “Faça o que tiver vontade”.
Gargantua e Pantagruel, entrementes, tornam-se célebres. Sempre prudente, o autor reedita seus livros, expurgando-os de algum cariz irônico dirigido aos teólogos da Sorbonne.
Seus dois livros não escapam de uma condenação em 2 de março de 1543. São inscritos no ano seguinte na primeira lista dos livros proibidos, o Índex da Sorbonne.
Depois de algumas peregrinações, publica em 1546 o “Terceiro Livro”, uma obra mais procurada que as precedentes no qual narra o projeto de casamento de Panurge e disserta longamente sobre as mulheres e o casamento.
De retorno a Lyon, publica o “Quarto Livro”, obra derradeira. É a época em que havia uma ânsia em busca de uma passagem “Norte-Oeste” que permitiria chegar à China, contornando o continente americano. O Quarto Livro é uma paródia. Narra a busca por Pantagruel da Diva Garrafa que continha a resposta ao projeto de casamento de seu amigo Panurge.
Rabelais leva adiante, de resto, o exercício da medicina mas perde a amizade dos padres em 1551. Termina os seus dias, dois anos mais tarde, no ostracismo e na solidão, em sua casa nos arredores de Paris.