Atualizada em 05/08/2016 às 8h
No dia 5 de agosto de 1955, depois de voltar para casa em Beverly Hills, Hollywood, chegando de um cansativo dia de apresentações em uma emissora de TV ao lado de Jimmy Durante, Carmen Miranda morre de colapso cardíaco em seu quarto, sozinha, por volta de 1h30 da manhã.
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Carmem Miranda e sua beleza que encantaram o mundo inteiro
Desgastada por uma vida conjugal difícil com o produtor e empresário, David Sebastian, fatigada pelo trabalho, tomava estimulantes e calmantes em excesso. Seu marido só encontrou o corpo horas mais tarde, longe dos tamancos plataforma, das roupas estilizadas e do chapéu de frutas, que marcaram uma das trajetórias mais brilhantes da história de Hollywood. Seu corpo foi enterrado no Rio de Janeiro, onde uma multidão de um milhão de pessoas seguiu o cortejo.
Quando, em 1939, Carmen Miranda desembarcou em Nova Iorque, era desconhecida do público americano. Em um mês, com sua graça, voz e personalidade, conquistou enorme popularidade. Sem fama nos EUA, Carmen já era a mulher mais famosa do Brasil, onde fez carreira no rádio, no disco e no cinema. Ainda que nascida em Portugal, brasileira era percebida, brasileira se sentia.
Maria do Carmo Miranda da Cunha veio para o Brasil com 18 meses. Seu pai era barbeiro e a família, de seis filhos, vivia modestamente. Estudou num colégio de freiras, no bairro da Lapa, depois foi trabalhar como balconista numa loja de roupas femininas e gravatas. Mesmo balconista, pela mão do violonista Josué de Barros, que a ouvira cantar, foi apresentada como cantora na noite carioca. Dos tangos brejeiros aos boleros arrebatadores, Carminha chegou à marcha e ao samba canção. É de seu padrinho uma das primeiras músicas a ganhar a marca Carmen Miranda: “Iaiá-Ioiô”.
A marchinha “Pra Você Gostar de Mim”, quebrou o recorde brasileiro de vendas. Entre 1929 e 1935, a Pequena Notável, gravou 281 músicas, incluindo Tico-tico no Fubá, O Que é Que a Baiana Tem? e South American Way.
Em 1929, aos 20 anos, a pequena cantora que tanto despertava as atenções desponta com seu primeiro disco “Seu samba é moda”. Um ano depois estoura nas paradas de sucesso com “Taí”, iniciando uma carreira que a levou ao estrelato no Brasil, primeiro no rádio, depois nos shows em cassinos.
No início, sua carreira foi marcada por uma tímida atuação solo e algumas interpretações em duo, com astros do porte de Chico Alves, Mário Reis e Sylvio Caldas. Mais tarde veio o cinema, que em 1933 leva a sua imagem e seu jeitinho esperto de olhar para todo o país com “Luz do Carnaval”, o primeiro de uma série de 19 filmes que marcaram sua trajetória.
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No ano seguinte, atuou em Voz do Carnaval, da Cinédia, dirigido por Ademar Gonzaga e Humberto Mauro. Seguiram-se Alô, Alô Brasil! (1935) e Alô, Alô Carnaval (1936). Em Cantores de Rádio, fez dupla com sua irmã Aurora, ambas de fraque e cartola, numa cena clássica. Fez da baiana o traje típico da brasileira, em 1938, quando cantou no filme Banana da Terra, forjando uma identidade exótica do nosso país.
É descoberta em 1939 pelo empresário norte-americano Lee Schubert, dono de vários teatros e responsável por grandes sucessos nos Estados Unidos. Leva-a a Nova Iorque e em maio de 1939 a lança no show “Streets of Paris”, na Broadway, ao lado de Jean Sablon, da dupla Olsen e Johnson e dos humoristas Abott e Costelo. Ganha sotaque norte-americano, abre o mercado do exterior para a “Pequena Notável” e define uma meteórica ascensão artística à “garota que fala com os olhos e com as mãos”, como definiam os espectadores.
A carreira cinematográfica de Carmen Miranda, que se iniciara no Brasil com cinco filmes, teve prosseguimento na Meca do inema, primeiro na 20th Century Fox, depois na United Artists, na Metro Goldwyn Mayer e, por fim, na Paramount, com mais 14 películas em 13 anos de trabalho.
Chegou a ser a segunda estrela mais bem paga, sempre explorando uma envolvente mistura de graça e ingênua malícia, usando o arranjo na cabeça, o top, os balangandãs, a saia rodada e a sandália com salto plataforma, para compensar seu 1,53 m de altura. Seus filmes mais importantes foram Uma noite no Rio (1931), Aconteceu em Havana (1941), Minha secretária brasileira (1942), Alegria rapazes (1944) e em 1947, com Groucho Marx, Copacabana. Em 1954, as pressões da indústria do entretenimento causaram-lhe uma crise nervosa e a Pequena Notável veio ao Brasil para descansar.
A ida de Carmen aos Estados Unidos provocou uma onde de animosidade entre seus fãs no Brasil, ao contrário do que poderia se esperar. A mesma visão que considerava Buenos Aires a capital do Brasil, reunia em um mesmo filme Xavier Cougat, o “band-leader” das congas e rumbas, o Bando da Lua, artistas portorriquenhos, mexicanos e um sem número de “cucarachas”, tudo como a mesma coisa.
Isso irritou os brasileiros de tal forma que, na sua primeira visita ao País, depois de ter ido ao Exterior, em 1940, foi fria e a imprensa não poupou acusações contra a sua “americanização”. A mágoa e o sucesso afastaram-na do Brasil depois da primeira visita. Ela só voltou ao país 14 anos mais tarde.
Carmen Miranda, a Pequena Notável, foi uma das mais importantes mulheres da história brasileira, uma grande artista e verdadeiro ícone e que permanece viva na memória do povo. Como na letra de “Taí”, um de seus maiores sucessos, de autoria de Joubert de Carvalho, ela teve que dar seu coração, talvez no esforço demasiado grande de contar as tristezas e angústias para manter seu sorriso inesquecível.