Wikimedia Commons
Téspis de Icária, segundo fontes da Grécia Antiga e, em especial, Aristóteles, foi a primeira pessoa a aparecer em um palco como ator, desempenhando um personagem em peça teatral. Outras fontes o colocam como dramaturgo, introduzindo o conceito de protagonista e da técnica deste contracenar com o coro.
Ele era cantor de ditirambos – composição poética com estrofes irregulares que festejavam o vinho, a alegria, os prazeres da mesa, em tom entusiástico e/ou delirante. Credita-se a ele ter introduzido o estilo no qual um cantor ou ator desempenhava um único personagem em cada história, distinguindo-se os personagens com a ajuda de distintas máscaras.
Esse estilo foi chamado de tragédia e Téspis era o seu mais popular expoente. Em 23 de novembro de 534 a. C. foram criadas competições para eleger-se a melhor tragédia em Atenas. Téspis foi o ganhador da primeira competição documentada. Valendo-se de seu sucesso, percorreu várias cidades em carroça, apresentando-se com suas vestimentas e máscaras.
Foi durante uma Olimpíada que Téspis apresentou sua primeira tragédia: “[…] Um homem, um ‘desconhecido’, ‘alguém’, que se deixa arrastar pelas forças sagradas de Melpomene, alguém que é capaz de representar cinco ou seis personagens ao mesmo tempo, alguém que escreve as obras e as interpreta com um magnífico ‘sentido de imitação”.
Foi o primeiro ator e o primeiro autor ocidental conhecido. Assim como escrevia e representava, também defendia seus direitos autorais, criando a primeira altercação entre o teatro e o governo quando discutiu com Sólon (640-558 a.C), legislador ateniense, a razão de seus ataques aos deuses do Olimpo. Representava vários papéis numa mesma apresentação e, mais tarde, acusado de hipócrita por Sólon, reconheceu: “[…] Fui, em verdade, um grande ator, mas também um hipócrita. Meus deuses, meus mercadores e meus pobres não eram mais que pedaços de minha alma endurecida”.
Em suas origens, o ator grego da comédia – possivelmente posterior ao da tragédia – era alguém mais descontraído e brincalhão, portador da vivacidade e da folia que vai caracterizar o cômico em todos os tempos. Os espectadores assumiam uma embriaguez coletiva, e o espetáculo aos poucos ia se tornando uma encenação de grande participação popular.
Os precursores do teatro ocidental se sucedem. Quérilo viveu o bastante para concorrer, quase centenário, com Sófocles (495-405 a. C.). Frínico teria se tornado tão ilustre quanto Ésquilo (525-439 a. C.) se sua obra escrita tivesse sobrevivido. A Téspis é atribuído a invenção da máscara, a Frínico, a introdução de personagens femininas em suas peças. Prátinas é o terceiro nome contemporâneo de Ésqiuilo e reprovava as interferências musicais em detrimento da palavra do poeta.
O protagonista, introduzido por Téspis, permitiu o diálogo entre ator e coro. O segundo ator, introduzido por Ésquilo, o deuterogonista, propiciou a criação do conflito. O coro foi perdendo sua função principal no desenvolvimento da tragédia, crescendo, por outro lado, a importância dos atores. Sófocles deu-nos o terceiro ator, o tritagonista, o que não significava que em suas peças encontrássemos dois ou tres personagens, mas vários personagens para serem interpretados por dois ou três atores no máximo.
NULL
NULL
Esta tendência iria aumentar com seus sucessores, a ponto dos componentes reduzirem-se de 50 para 15 elementos. Sófocles secularizou o espírito e o conteúdo da tragédia, assim como dissociou em suas especificas funções: o ator, como intérprete dos textos do poeta; o músico, com atividade própria e separada; e o coro, agora mais estruturado a ponto de ganhar um diretor próprio.
Encontramos muito pouca documentação sobre a forma de representação do ator grego. Aristóteles teria falado a respeito, mas esses trechos foram perdidos. Entretanto, quanto à interpretação teatral, poderíamos dizer que a pantomima era importante, e o uso de máscaras enormes, de traços acentuados, de roupas gigantescas, sobrecarregadas de bordados, que caíam até os pés, daí seu modo estático de representar, dando-se maior destaque ao texto falado. A cor das vestes anunciava o sexo e o nível social da personagem.
A fim de evitar a desproporção física que a indumentária poderia causar em relação aos grandes teatros gregos, aumentava-se o tamanho dos corpos acolchoando-os com falsos ventres, ombros,… recobrindo tudo isso com um tecido de malha ajustada ao corpo, sobre o qual vestiam as túnicas e os mantos. A máscara e a pesada vestimenta impediram qualquer elaboração mais individualizada. Segundo uma citação tradicional, o ator grego “era uma voz e uma presença”.
Os atores trágicos nunca tomaram parte na comedia, nem os cômicos na tragédia. Apenas os homens podiam subir aos palcos atenienses, e os atores trágicos eram considerados cidadãos muito requisitados e regiamente pagos.
No século IV a.C., o teatro decaiu, enquanto o ator foi ganhando cada vez mais importância. A expressão corporal superou o jogo das palavras, e nasceram então as primeiras cenas improvisadas. Os mímicos começaram a imitar os tipos cômicos da sociedade.
Ainda no século IV a.C., organizaram-se agremiações ou corporações de atores, denominadas Artesãos de Dionísio, que alcançaram muito poder e respeito, perdidos depois quando passaram a aceitar, em suas hostes, músicos, coristas, ajudantes e comparsas, o que provocou paulatina desconsideração social, a ponto de Aristóteles chama-los de “Parasitas de Dionísio”.
Outro depoimento aristotélico diz-nos que, à época, o intérprete despertava mais interesse que a obra poética. No ano de 449 a.C. foram instituídos os concursos para atores; o processo do individualismo começava a se estabelecer. Pólus foi o mais famoso, não só por suas qualidades de intérprete – segundo o filosofo Denis Diderot, ele tinha interpretado uma cena de Electra portando as cinzas do próprio filho -, mas também por ter sido o professor de dicção do grande orador grego Demóstenes (385-322 a.C.), que ganhou notoriedade por sua arte retórica.
Também nesta data: