Em 11 de janeiro de 1923, 60 mil soldados franceses e belgas invadem a bacia do Ruhr na Alemanha.
Essas tropas que ocupavam a Renânia alemã desde o fim da Grande Guerra estendiam dessa forma sua zona de ocupação. Agiam sob ordens do presidente do Conselho francês, Raymond Poincaré. Essa movimentação militar inauguraria o que os alemães chamariam de “ano inumano”.
Tratados de paz com cada um dos países vencidos puseram fim à Primeira Guerra Mundial. O mapa do continente europeu sai do conflito completamente modificado com o desaparecimento de quatro impérios: alemão, austro-húngaro, russo e otomano, em proveito de pequenos Estados nacionalistas, em geral heterogêneos, reivindicativos e, de resto, impotentes.
A República Alemã, presa em graves dificuldades políticas e financeiras, havia reclamado no ano precedente uma moratória no pagamento das reparações de guerra previstas no Tratado de Versalhes, num total de 269 bilhões de marcos-ouro, ou seja, mais de um ano do Produto Interno Bruto.
Por seu lado, os britânicos e os norte-americanos haviam pedido à França que pagasse também suas dívidas de guerra.
Poincaré subordinava o reembolso das dívidas de guerra de Paris ao pagamento pela Alemanha das reparações. Como a Alemanha resmungava mas não pagava, o presidente francês resolveu ocupar o Ruhr, a principal região industrial germânica.
O chanceler alemão, Wilhelm Cuno, protesta e conclama seus concidadãos à “resistência passiva” ante a ocupação. Contudo, os franceses respondem atirando contra trabalhadores em greve e instaurando uma barreira aduaneira entre o Ruhr e o restante da Alemanha. O pagamento das reparações seguia em mora enquanto crescia avassaladoramente a humilhação dos alemães.
Depois da derrota da Alemanha, os parceiros econômicos passaram a desconfiar de sua moeda, o marco alemão. A ocupação do Ruhr acentua as quedas de sua taxa de conversão para o ouro ou o dólar. Na própria Alemanha, os particulares e os empresários perdem confiança na moeda local. Não têm outra preocupação do que se desfazer dela o mais rapidamente possível, o que acaba agravando ainda mais a desvalorização. As sucessivas greves dos trabalhadores não solucionam o problema, ao contrário, agravam o cenário.
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Soldados estrangeiros estavam no território alemão desde o final da Primeira Guerra Mundial em 1918
Longe de frear a tendência, o governo do chanceler Cuno contribui para a sua aceleração ao mandar imprimir tresloucadamente o papel-moeda, inundando o país de moeda sem lastro. Foi a maneira que Cuno encontrou de responder à ocupação do Ruhr e criar obstáculo à transferência das reparações.
Seguiu-se um brutal desmoronamento do valor do marco alemão, a ponto de, no outono de 1923, ser necessário algumas dezenas de milhares de marcos para comprar um dólar ou simplesmente uma bengala de pão.
Esta hiperinflação arruinou os rentistas e todos os beneficiários de rendas fixas. No plano político, fez reacender o ímpeto dos movimentos revolucionários de esquerda. Porém, na contramão, criou o caldo de cultura para o fortalecimento do partido nazista de Hitler que acabava de nascer.
O presidente da República Friedrich Ebert e o novo chanceler Gustav Streseman, ambos sociais-democratas, impõem o Estado de Urgência em 26 de setembro de 1923. Em 20 de novembro, o novo ministro das Finanças, Hjalmar Schacht, estabiliza a moeda ao substituir o marco pelo Rentenmark na base de um Rentenmark por mil milhões de marcos.
No ano seguinte, após o putsch fracassado de Hitler em Munique, a situação política aos poucos se estabiliza.
Os britânicos reclamam da França um pouco de flexibilidade em relação à Alemanha e, a fim de dar algum respaldo ao seus antigo aliado, jogam contra o franco francês na bolsa. A divisa francesa perde em menos de um ano a metade de seu valor, obrigando Poincaré a apelar para a ajuda de banqueiros anglo-saxões e a renegociar as reparações alemãs.
Por volta de 1924, o banqueiro norte-americano Charles Dawes elabora um plano que leva seu nome. O Plano Dawes iria funcionar bem até ser substituído pelo Plano Young, que passou a vigorar em 1929. A Alemanha pagaria o essencial das reparações, mas a crise econômica de 1929 e o aguçamento das tensões políticas enterrariam definitivamente o que sobrou a partir de 1932.
Também nesta data:
49 a.C – Júlio Cesar atravessa o rio Rubicão
361 – Juliano, o apóstata, retorna à sua cidade natal, Constantinopla
1926 – Metropolis, de Fritz Lang, estreia em Berlim
1937 – Polícia repreende com violência greve na GM em Flint, Michigan
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.