O lendário músico afro-americano de jazz Louis Armstrong mostrou ao mundo seu descontentamento ao não participar da turnê patrocinada pela Casa Branca por várias cidades da União Soviética. Armstrong estava furioso com os desdobramentos dos acontecimentos em Little Rock, Arkansas, onde uma multidão de cidadãos brancos e soldados da Guarda Nacional bloquearam a entrada de nove estudantes afro-americanos na Central High School, colégio anteriormente reservado apenas para estudantes brancos.
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Louis era considerado “a personificação do jazz”
Durante as décadas de 1940 e 1950, o governo dos Estados Unidos enfrentava em sua guerra de propaganda contra a União Soviética um sério problema: a discriminação racial.
Para se contrapor às críticas vindas de todos os quadrantes à situação racial nos Estados Unidos, Washington com frequência patrocinava turnês mundiais de escritores, artistas, músicos e desportistas afro-americanos. O ex-campeão mundial de boxe Joe Louis, os famosos Harlem Globetrotters, a consagrada cantora Marian Anderson e muitos outros foram enviados pelo mundo afora como “embaixadores de boa-vontade”. O extraordinário trumpetista Louis Armstrong era um dos mais requisitados, tanto pelo governo norte-americano quanto pelas plateias ao redor do mundo.
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Louis Armstrong e Grace Kelly
Em 1957, a Casa Branca organizou para Armstrong um giro artístico pela União Soviética. Mas, pouco antes de sua partida, explodem os acontecimentos de Little Rock.
Um juiz federal ordenara a integração de estudantes negros na Central High School de Little Rock, que era frequentada apenas por jovens de famílias brancas. Nove estudantes afro-americanos tentavam entrar naquele colégio quando foram impedidos por uma multidão branca furiosa e pela Guarda Nacional, fortemente armada, convocada pelo governador de Arkansas, Orval Faubus.
Armstrong mostrou-se indignado com o que ele acreditou ser a inação – e certa acomodação – do governo federal de Washington de corrigir a situação. E declarou publicamente em entrevista à Imprensa: “Da forma como estão tratando meu povo no Sul deste país, o governo pode ir para o inferno”.
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O músico disse também que o presidente Dwight Eisenhower não tinha “culhões” para tratar do caso com Faubus, a quem chamou de “lavrador ignorante”. “É algo terrível que um homem de cor não possa viver em sua própria pátria”, concluiu.
As declarações de Armstrong constituíram-se num severo revés para os governantes norte-americanos e para a máquina de propaganda de Washington. Publicamente, o governo tentou minimizar as declarações de Armstrong, afirmando que ele falara no calor da emoção gerada pelos episódios de Little Rock. Privadamente, todavia, os funcionários do governo ficaram furiosos com o artista.
A tensão entre críticos abertos do governo e os esforços de propaganda de Washington cresceu de tom à medida que o movimento dos direitos civis se tornava mais ativo no começo dos anos 1960 e mais e mais afro-americanos como Malcolm X e W.E.B. Du Bois se valiam de suas viagens ao exterior preferindo condenar o racismo no país em vez de defender a democracia norte-americana.
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