Quando James Cameron subiu ao palco para receber seu Oscar de Melhor Diretor na noite de 23 de março de 1998, o predomínio de estatuetas de seu filme Titanic, grande êxito de bilheteria, estava plenamente assegurado.
Titanic se igualou ao recorde de maior número de indicações, 14, da obra A Malvada, de 1950, escrita e dirigida por Joseph Mankiewicz. Também empatou em número de estatuetas conquistadas com Ben Hur, de 1959, dirigido por William Wyller.
Com Aliens, o Resgate, O Segredo do Abismo, O Exterminador do Futuro e O Julgamento Final, filmes de sua direção, Cameron já havia demonstrado ser um mestre do gênero ação-ficção científica de grande atração de público.
Sua ambição atingiu novas alturas com Titanic, uma nova versão da viagem desafortunada de 1912 de um luxuoso transatlântico que naufragou, em sua primeira viagem, nas águas do Atlântico Norte após chocar-se com um iceberg.
Os filmes de Cameron se notabilizaram por atrasos na gravação e por ultrapassar gloriosamente o orçamento previsto. Titanic, também neste sentido bateu todos os recordes. Originalmente orçado em 100 milhões de dólares, aproximou-se dos 200 milhões. Não foi lançado na data originalmente prevista, levando os executivos do estúdio Twentieth Century Fox/Lightstorm Entertainment à beira de um 'ataque de nervos'. Eles temiam uma reprise de O Portal do Paraíso, do diretor Michael Cimino. De elevado orçamento, o filme de Cimino foi um fracasso de bilheteria e levou, no começo dos anos 1980, o estúdio United Artists à falência.
Cameron era conhecido pelo seu estilo ditatorial, temperamento forte e obsessão pelo detalhe. Para a recriação do histórico naufrágio do navio, a produção do filme construiu uma réplica do RMS Titanic com 250 metros de comprimento – 90% da escala original – e a colocou num tanque contendo 65 milhões de litros de água. A réplica do navio e o tanque foram montados sobre uma plataforma hidráulica.
Não houve, no entanto, apenas preocupações de ordem técnica. Tudo foi feito de acordo com a época, o inicio do século 20. Os figurantes tinham de ter rostos familiares com os de imagens da época. Mais de mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças, passaram por esse tipo de avaliação.
A produção foi realizada no México, e os membros do elenco e da equipe de filmagem queixaram-se mais tarde das duras condições. Houve dias com mais de 20 horas de gravação, grande parte do tempo nas águas do gélido Oceano Pacífico.
Lançado pouco antes do Natal de 1997, Titanic tornou-se um sucesso monstruoso de bilheteria, continuando a vender crescentemente ingressos nos seis meses que se seguiram. O filme atingiu a milagrosa marca de um bilhão de dólares de receita, internacionalmente.
A resposta da crítica ao filme esteve dividida. Muitas críticas foram positivas, com elogios aos efeitos visuais e às sequências de ação, especialmente a última das três horas do filme, que representa o épico naufrágio do luxuoso navio de passageiros em sua viagem inaugural.
Ao mesmo tempo, os especialistas ressaltaram a pobreza do roteiro, escrito pelo próprio Cameron. Numa memorável crítica, especialmente acerba, o Los Angeles Times escreveu que o filme “transpira falsidades e carece da mais mínima originalidade.” Cameron pediu ao jornal que o autor do texto, Kenneth Turan, fosse demitido. Sem sucesso.
Na noite do Oscar, Cameron reproduziu o personagem interpretado por Leonardo DiCaprio e gritou “Eu sou o rei do mundo” ao receber sua estatueta de Melhor Diretor. Já o coprodutor do filme, John Landau, ao receber o Oscar de Melhor Filme, foi mais contido: pediu um minuto de silêncio em homenagem às mais de 1.500 pessoas que morreram afogadas na tragédia do Titanic.
Também nesta data:
1843 – Morre o romancista Henri Marie Beyle Stendhal
1919 – Mussolini cria milícias e dá início à ascensão do fascismo
1933 – Hitler se torna ditador do Reich
1989 – Assassinos de Orlando Letelier são condenados a prisão perpétua