Atualizada em 04/06/2018 às 11:33
No imaginário popular, o italiano Giácomo Girólamo Casanova e o espanhol Don Juan às vezes se confundem. Ambos foram aventureiros, sedutores e libertinos. Mas ao contrário de Don Juan – personagem semi-lendário que teria vivido em Sevilha e cuja imagem, inspirou versos e prosas, peças de teatro e enredos de filmes – não há dúvidas sobre sua existência.
Filho de um casal de atores, Casanova nasceu em Veneza, em 1725, e amou dezenas de mulheres pelos lugares onde andou. Conheceu todas as grandes cidades da Europa, mas morreu na pequena Dux, na Boêmia, em 4 de junho de 1798.
Enamorado das paixões fugazes, Casanova iniciou precocemente a vida sentimental. Aos 9 anos já mantinha relacionamento íntimo com a balzaquiana Bettina, irmã do abade encarregado de sua educação. Aos 15 se tornou um amante experiente. Pretendeu seguir a carreira religiosa, chegou a receber as ordens menores, mas foi expulso do seminário por comportamento escandaloso.
Aos 17 começou a viajar, envolvendo-se em inúmeras intrigas e brigas. É compreensível, portanto, que Casanova não seja lembrado pelo fato de ter sido igualmente um grande intelectual. Além de escrever bem em prosa e verso, dominava o latim e o grego. Traduziu a Ilíada de Homero, poema épico sobre a guerra de Tróia, com mais de 15 mil versos.
Conhecia filologia, teologia, matemática, física e música, tendo sido até violinista profissional. Adorava jogar cartas e introduziu a loteria na França. Gostava de política, frequentou a corte de Catarina II, imperatriz da Rússia. Catarina, após destronar o marido Pedro III, passou também a levar uma vida cheia de peripécias amorosas.
Casanova não selecionava as mulheres. Assediava nobres e plebéias, jovens e maduras, louras e morenas, bonitas e feias. A leitura de suas memórias confirma que soube harmonizar os prazeres refinados da mesa com a sensualidade da alcova. Numa viagem a Turim, conheceu as jovens Armelina e Emília. Convidou-as para jantar e, a certa altura, começou a discorrer sobre a combinação das ostras com o champanhe. Armelina foi a primeira que sucumbiu à astúcia de Casanova. Emília, extasiada com seu charme, deixou cair uma ostra entre os seios. O galanteador, a postos, socorreu a moça.
Especialista na psicologia feminina, variava o menu conforme a mulher a conquistar. Afirmava que as louras tendem a preferir verduras frescas, frutos do mar, peixes na manteiga, aves, comidas adocicadas, cremosas, suaves e queijos não muito picantes. Bebem os vinhos brancos e o champanhe.
Já as morenas adoram hortaliças de perfume intenso, ostras com limão, embutidos apimentados, risotos, carne vermelha, queijos fortes, doces recheados e chocolate. Gostam dos vinhos tintos, como o Bourgogne e o Bordeaux, e do champanhe.
Quanto às ruivas, de pele muito clara e sensível, escolhem “alimentos requintados e leves, mas seu temperamento as aproxima do fogo”. Tomam vinhos brancos secos, os Côtes du Rhône e os rosados.
Garantia aguçar o apetite sexual comendo 12 ostras no café da manhã e outras 12 no almoço. Também se sentia estimulado bebendo os vinhos brancos da Úmbria e de Chipre, além do moscatel grego da ilha de Cérigo.
As duas maiores paixões de Casanova: “Cultivar os prazeres dos sentidos foi (…) a suprema preocupação da minha vida. Sentindo-me nascido para o sexo diferente do meu, sempre o amei, e fiz-me amar tanto quanto me foi possível. Também amei a boa mesa com arrebatamento, e apaixonadamente todos os objetos feitos para excitar a curiosidade”.
Casanova, um extraordinário sedutor de mulheres, era bonito, cortês e generoso. Porém, falava e falava sobre tudo: sobre o amor, medicina, política, agricultura. Seguia os princípios de La Rochefoucauld: um homem inteligente pode amar como um louco, jamais como um idiota.
Dedicou os seus últimos anos a escrever um romance, Isocameron, e as suas memórias, História da minha vida (1822-25), em francês, em 28 volumes, que constituem um fascinante testemunho de sua época. Nelas, Casanova diz ter dormido com 122 mulheres ao longo da vida.
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