No dia 16 de outubro de 1793, Maria Antonieta vivia sua última jornada. Prisioneira na Conciergerie, o verdugo e seus auxiliares foram até sua cela prepará-la para a execução na guilhotina. Vinte e três anos antes, a jovem princesa austríaca chegava a Paris em 1770 debaixo de aclamações. Tinha somente 15 anos e se casaria com aquele que viria a ser o rei Luis XVI, apenas um ano mais velho.
Luis havia sido executado nove meses antes, em 21 de janeiro. Tinha 38 anos. Maria Antonieta caiu em profunda depressão, passando a ser chamada pejorativamente de “Viúva Capeto”. Impopular entre seus súditos, era conhecida, antes da Revolução Francesa, como “a austríaca” ou “madame déficit”, em virtude do estilo de vida muito luxuoso, que a população acreditava ser a causa da falência do Tesouro da França. Quando foi abolida a monarquia, em 1792, Luís XVI perdeu o título de majestade e passou a ser chamado de Luís Capeto, ou cidadão Capeto, por ser descendente da dinastia capetíngia, da Casa de Bourbon.
A saúde de Maria Antonieta deteriorou-se rapidamente. Aparentemente sofria de tuberculose e possivelmente de um câncer uterino, que lhe provocava frequentes hemorragias.
Apesar de suas condições, o debate quanto ao seu destino era uma questão central para a Convenção Nacional. Uma parte defendia sua condenação à morte e outra, sua troca por prisioneiros de guerra franceses ou resgate em dinheiro por algum imperador do Sacro Império Romano. Em abril, foi formado o Comitê de Salvação Pública que passou a pressionar pelo julgamento da ex-rainha. Havia, porém, quem pleiteasse uma “reeducação” do delfim Luis Charles, filho de Maria Antonieta, para que adotasse as ideias revolucionárias e assumisse o poder. A ideia foi abandonada quando Luis Charles foi separado de sua mãe em 3 de julho e entregue aos cuidados de um sapateiro-remendão de nome Simon. Em 1º de agosto foi internada na Conciergerie como prisioneira nº 280.
O julgamento sumário finalmente aconteceu na véspera de 16 de outubro pelo Tribunal Revolucionário, dominado pelos jacobinos, ao contrário de Luis XVI a quem havia sido oferecido certo tempo para defesa. Foi acusada de orgias em Versalhes, do envio de milhões em dinheiro para a Áustria, de tramar o assassinato do duque de Orleans e de orquestrar o massacre dos guardas suíços.
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Maria Antonieta foi executada na praça da Revolução, hoje praça da Concórdia
No entanto, a acusação mais infamante foi a de ter abusado sexualmente de seu filho. E quem a acusou, num testemunho diante do tribunal, foi exatamente Simon, o sapateiro-remendão, guardião do filho Luis Charles. Advertida por não ter respondido à acusação de incesto, a acusada ficou pálida e visivelmente emocionada: “A natureza se recusa a permitir tal acusação feita a uma mãe”, gritou ela: “Eu apelo a todas as mães que por ventura aqui estiverem”.
Como Maria Antonieta morreu
Naquele mesmo dia, às 12h15, duas semanas antes de completar 38 anos, vestindo uma roupa branca bem simples, Maria Antonieta foi executada na praça da Revolução, hoje praça da Concórdia. Suas últimas palavras teriam sido: “Perdoe-me, senhor, foi sem querer”, ditas ao seu carrasco Sanson, por ter pisado em seu pé. O corpo foi levado em um túmulo comum no antigo cemitério Madeleine. Os restos dela e de Luis XVI foram exumados em 18 de janeiro de 1815, durante a Restauração Bourbon e enterrados em cerimônia cristã, três dias depois, na necrópole dos reis franceses na Basílica de Saint Denis.
Atribui-se à Maria Antonieta a famosa frase: “Se não têm pão, que comam brioches“, dita a um grupo de pobres que tinha ido ao palácio pedir comida. No entanto, há certo consenso entre os historiadores que não foi Maria Antonieta quem disse a frase, mas que acabou sendo usada contra ela durante a Revolução Francesa.