A tensão entre policiais e independentistas argelinos culminou no massacre da noite de 17 de outubro de 1961. Maurice Papon, chefe da polícia de Paris proibiu em 5 de outubro a circulação de todos os argelinos à noite, em virtude de anteriores atentados terroristas e explosões que acabaram matando vítimas inocentes.
Isso deu motivo a uma manifestação da FLN (Frente de Libertação Nacional), marcada para 17 de outubro, em favor das conversações de paz para pôr fim à guerra colonial francesa. O presidente Charles de Gaulle, pressentindo uma ameaça aos acordos de Evian, autorizou Papon a dispersar a manifestação por todos os meios.
Wikicommons
Memorial da Guerra da Argélia em Paris
O chefe pôde dizer então aos seus policiais: “Doravante vocês estão cobertos e com as mãos livres!”. As forças da ordem enfrentaram os manifestantes sem freios: dezenas foram jogados no Sena e contaram-se 200 vítimas ao longo da repressão. A lembrança dessa noite reside ainda no inconsciente nacional e se inscreve na longa lista de dramas das relações franco-argelinas.
A polícia buscava nos guetos argelinos de Paris supostos terroristas, matando nas batidas incontáveis inocentes. Finalmente, voltaram suas armas contra os 30 mil manifestantes que desafiaram o toque de recolher, reunindo-se perto do rio Sena no início da noite de 17 de outubro. No dia seguinte, a polícia soltou um informe oficial, afirmando que três pessoas tinham morrido e 67 ficaram feridas, contrariando inúmeras testemunhas que viram dezenas de corpos boiando no rio.
Nos anos anteriores, a situação na França para os argelinos tinha piorado sensivelmente. Papon estabelecera o toque de recolher em 1958. Prisões e batidas policiais de argelinos suspeitos de pertencer à FLN eram corriqueiras.
Leia mais:
Mulheres argelinas podem usar véu em fotos de documentos
A islamofobia se espalha pela Europa
Muçulmanas são detidas na França por usar véu islâmico
Sarkozy ignora críticas e França começa a deportar ciganos
A situação em Paris refletia o estado da guerra na Argélia. Quando no verão de 1961, as negociações entre o governo francês e o Governo Provisório Revolucionário da Argélia chegaram a um impasse, a situação na França mudou também. Entre agosto e outubro de 1961 a FLN causou a morte de 11 policiais e muitos mais foram feridos.
Nessa mesma época, a polícia montou uma guerra suja contra a comunidade argelina com incontáveis eliminações e desaparecimentos. Organizações policiais exigiam do governo medidas drásticas e Papon, num discurso nos funerais de um policial, exclamou: “Para cada bomba recebida, responderemos com dez!” Em 5 de outubro colocou em vigor o toque de recolher cobrindo todos os “muçulmanos franceses da Argélia”.
Em resposta, a FLN decidiu organizar uma ação de massas. Em 7 de outubro, proclamou um alto nas ações armadas e no dia 10 distribuiu instruções para desrespeitar o toque de recolher, convocando uma greve geral e outras demonstrações. A natureza pacífica das manifestações foi ressaltada com palavras de ordem e cartazes, preocupados que estavam com a repressão. Não obstante, a comunidade argelina foi alertada para se preparar para eventuais prisões.
Contudo, a polícia estava superexcitada e quando a manifestação efetivamente ocorreu, atirou-se violentamente sobre os argelinos numa ânsia de vingança. Num dado momento, como a massa não se dispersava, começou a atirar com munição letal. À parte os tiros e as pauladas, homens foram atirados no Sena. Durante horas, quem parecesse ser argelino corria sério risco de vida.
Em 1981, revelou-se que Maurice Papon havia colaborado com os nazistas durante a ocupação da França, tendo sido obrigado a renunciar ao seu cargo de ministro do Orçamento. Ex-oficial do regime de Vichy, era suspeito de ajudar na deportação de centenas de judeus franceses para os campos de extermínio. Após ter evitado durante 17 anos ser julgado, Papon foi considerado culpado de “cumplicidade em crimes contra a humanidade” em 1998 e sentenciado a 10 anos de prisão. Durante seu julgamento, documentos sobre o massacre de 1961 vieram à tona, comprovando que os policiais de Papon haviam matado muito mais argelinos que os números oficiais haviam admitido.
Outros fatos marcantes da data:
17/10/1849 – Morre em Paris o pianista Frédéric Chopin
17/10/1968 – Medalhistas olímpicos são punidos após protestarem contra discriminação racial
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL