“Matam apenas a mim. Voltarei e serei milhões.”
Túpac Katari, nascido Julián Apasa Nina, líder das rebeliões indígenas da Bolívia contra o Império Espanhol morre aos 31 anos esquartejado pelos colonizadores em 15 de novembro de 1781.
Membro da nação aymara, Apasa assumiu o nome de Tupac Katari para homenagear dois líderes rebeldes: Tomás Katari e Tupac Amaru II. Levantou um exército de cerca de 40 mil homens e estabeleceu um cerco à cidade de La Paz em 1781. Katari e sua mulher Bartolina Sisa estabeleceram-se em El Alto e mantiveram o sítio por 184 dias.
Sisa foi a comandante do cerco e desempenhou um papel crucial em seguida à captura de Katari em abril. O sítio foi rompido pelas tropas coloniais que acorreram de Lima e de Buenos Aires.
Foi delatado, derrotado, torturado e barbaramente executado, tendo seus quatro membros, superiores e inferiores, arrancados – amarrados que foram em cavalos que correram em quatro direções. Tupac Katari é lembrado como herói pelos modernos movimentos indígenas na Bolívia e no Alto Peru.
Katari e sua companheira Bartolina comandaram na Bolívia uma rebelião popular que sacudiu os Andes e que havia começado no Peru, com Tupac Amaru. A partir dos anos 1720 passou a crescer na região andina um sentimento de revolta contra a exploração, os desmandos e os maus tratos impostos ao povo pelos colonizadores espanhóis.
Uma série de rebeliões finalmente eclodiu no Peru e na Bolívia, por volta de 1780. Primeiro levaram toda a prata que puderam, começando por Potosí. As famílias dos escolhidos para as minas os acompanhavam entoando canções fúnebres – dificilmente voltariam a vê-los. Com a insalubridade, a maioria morria em dez anos com os pulmões enegrecidos e enrijecidos.
A submissão dos indígenas era sustentada pelo terror. Francisco Pizarro, um dos líderes da colonização espanhola, passou à história como um dos maiores facínoras. Uma de suas diversões era apostar com os soldados quem furava mais índios com uma só espadada.
A opressão enfrentou a resistência dos povos originários. Os líderes aymaras Túpac Katari e Bartolina Sisa comandaram dois cercos a La Paz, em 1781, com 40 mil guerreiros, e estremeceram o domínio espanhol. Apesar da valentia, o levante foi derrotado.
Os povos se recolheram, mas jamais abandonaram sua cultura e até hoje preservam hábitos e costumes dos ancestrais.
Wikicommons
Nome de Túpac Katari é uma homenagem a Tupac Amaru II e Tomás Katari
Mistério
Tupac Katari é um personagem cercado de certa aura de mistério. Os documentos oficiais não fazem nenhuma menção a ele até sua espetacular aparição como comandante do cerco a La Paz. No entanto, a tradição oral, que chega até hoje e é aceita pelos historiadores aymaras, apresenta uma biografia razoavelmente detalhada.
Segundo esses relatos, Tupac Katari foi o pseudônimo adotado após a morte de Tomás Katari por Julián Apaza, indígena nascido em 1750, na região de Sicasica, atual província de Oruro.
Na juventude, Julián havia trabalhado sob o regime de serviço forçado, a mita, e conheceu na prática a realidade da superexploração nas minas do altiplano. Nesse período, já pregava a seus companheiros a necessidade de um levante, embora ainda nada soubesse de Tupac Amaru nem de Tomás Katari.
Ao sair das minas, dedicou-se ao comércio itinerante da folha de coca. Em suas viagens, levava a mensagem da necessidade de uma insurreição. Aos poucos, se tornou conhecido e ganhou adeptos que faziam circular as notícias sobre a realidade que os cercava.
Nesse período Julián conheceu a história do levante de Tupac Amaru, em Cuzco, e da luta de Tomás Katari. Relacionando-se com articuladores de ambos, recebeu a incumbência de levar, de forma sigilosa, uma correspondência de Tupac Amaru a Tomás Katari, na qual o primeiro dava importantes instruções para organizar o levante nas regiões de Potosí e Oruro.
Entretanto, Tomás Katari morreu antes da chegada do mensageiro, e Julián Apaza reteve carta e documentos em mãos. Diante do impasse, uma assembleia comunitária se reuniu e tomou uma decisão unânime: com a força de Tupac, Julián Apaza daria continuidade à luta de Tomás Katari. Assim nasceu Tupac Katari.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.