Depois de quase duas décadas de negociações, a Rússia foi finalmente aceita como membro da OMC (Organização Mundial de Comércio), no último dia 16 de dezembro, e o país prepara a entrada efetiva para as primeiras semanas do ano que vem. A Rússia é o último país do G-20 a entrar na organização, o que exigirá uma maior abertura de seu mercado a produtos estrangeiros. A vizinha China é membro da OMC desde 2011.
A negociação russa foi a mais longa da história da OMC devido a inúmeros entraves (mais políticos do que técnicos) ao longo do processo. Algumas das exigências norte-americanas irritaram as autoridades russas e, sob a presidência de Vladimir Putin (2000-2008), as negociações foram muitas vezes congeladas como resultado de uma insatisfação do Kremlin às demandas dos Estados Unidos.
Victor Vizu/Wikicommons
Herança dos tempos da União Soviética, indústria automotiva deve sentir abertura da economia russa
Segundo a maioria dos analistas econômicos, a abertura e a liberalização do comércio exterior vão significar uma maior concorrência no mercado russo, levando a uma queda nos preços e beneficiando os consumidores. Sergei Aleksashenko, ex-vice-ministro primeiro das finanças da Federação Russa e ex-vice-governador do Banco Central russo, vê o cenário com menos otimismo. “A adesão da Rússia à OMC não terá qualquer impacto substancial na economia. O programa de adesão não implica mudanças estruturais e decisões que venham a alterar significativamente a situação no país”, afirma Aleksashenko.
“A maioria das pessoas na Rússia não compra carros importados. A entrada na OMC não tem nenhum impacto na vida da grande parcela da população”, conclui Sergei Aleksashenko.
O setor bancário também não observará mudanças substanciais. Na década de 1990, os estrangeiros estavam restritos a uma parcela não superior a 12% do capital de um sistema bancário. Esta percentagem foi aumentada para 25% durante as negociações da OMC. O governo russo limita a abertura de filiais de bancos estrangeiros no país e durante a adesão à OMC, a Rússia conseguiu garantir a manutenção desta supervisão bancária prévia aos bancos estrangeiros que desejam se instalar no país. Bancos estrangeiros como o Unicredit, Citibank, Raiffeisen, e Rosbank, que agora pertence a Société Générale, estão entre os quinze principais bancos da Rússia.
A indústria automobilística russa vê com ressalva a entrada da OMC. As duas montadoras do país, Avtovaz e GAZ, ambas heranças soviéticas, enfrentarão agora a concorrência direta das grandes montadoras estrangeiras. A Avtovaz, que tem a Renault como principal acionista, recebeu recentemente importantes financiamentos do governo, corrigiu problemas na linha de produção e está desenvolvendo um programa para aumentar a capacidade produtiva em 50%. Já a GAZ, apesar de não ter uma estratégia clara para competir com as montadoras estrangeiras, conta com os recursos do bilionário Oleg Deripaska, dono do grupo de investimento Basic Element, do qual a empresa GAZ faz parte.
A Rússia defendeu durante as negociações com a OMC o direito de proteger o seu setor agrícola. O nível de proteção é menor do que o que o governo russo queria, mas o setor do agronegócio russo está satisfeito com o acordo. Apesar da dificuldade decorrente de um rigoroso inverno que deixa grande parte do país improdutiva durante mais da metade do ano, a Rússia se tornou na última década um dos principais exportadores de grãos do mundo.
A adesão à OMC, no entanto, não garante solucionar um dos principais problemas para os negócios na Rússia – a corrupção. De acordo com empresários russos, o custo da corrupção chega a 36 bilhões de dólares, o que representa entre 10 e 12% do PIB do país. O pagamento de subornos faz parte do ambiente corporativo na Rússia e a entrada na OMC não impedirá que uma empresa local pague para ter privilégio em relação a uma empresa estrangeira.
Um dos pontos mais discutidos da entrada da Rússia foi colocado na mesa de negociações pela Geórgia. O país ameaçou vetar a adesão da Rússia se os oficiais aduaneiros da Geórgia não fossem autorizados a monitorar todas as mercadorias em circulação entre a Rússia e as províncias separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia.Tbilisi, posteriormente, retirou essa condição, e a Rússia e a Geórgia concordaram que uma empresa suíça supervisione o tráfego de mercadorias entre o que era anteriormente a fronteira russo-georgiana e agora é a linha de demarcação entre a Ossétia do Sul e a Ossétia do Norte.
Um fator importante que contribuiu para o interesse da Rússia na adesão à OMC é a China. O governo russo reconhece o forte papel econômico que a China desempenha na comunidade internacional e não quer ser ofuscado pelo gigante asiático.
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