Efe
Milhares de egípcios voltam à praça Tahrir para comemorar o primeiro aniversário da revolução
O Egito celebra nesta quarta-feira (25/01) o primeiro aniversário da série de levantes populares pela instalação de um regime democrático, bem como a melhoria da precária qualidade de vida no país, que acabou conhecida como Revolução de Lótus. Um ano após a eclosão do processo que encerraria as três décadas do regime do militar Hosni Mubarak, o país continua à espera de uma nova Constituição e de uma reestruturação de sua política nacional. Ainda sob o comando da Junta Militar de transição, governo provisório que promete assegurar a estabilidade do país em sua passagem para a democracia, os egípcios também assistem nesta quarta-feira à revogação do estado de emergência em vigor desde 1967.
Até o final do próximo mês de julho, o marechal Hussein Tantawi, chefe da junta militar, promete entregar o poder a um presidente democraticamente eleito. Ele já cedeu o poder legislativo ao novo parlamento eleito, que tem como prioridade máxima a formulação de uma nova Constituição. Com 47% dos votos, o PLJ (Partido Liberdade e Justiça), braço político da Irmandade Muçulmana, detém a maior parcela das cadeiras da Câmara Baixa (Assembleia do Povo). Críticos e opositores temem que isso signifique um aumento da influência das leis islâmicas e valores religiosos presentes na Sharia sobre a legislação do país.
O egípcio Mohamed Habib, pró-reitor de extensão e assuntos comunitários da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), não acredita que a sharia, código de leis do islamismo, será levada à risca em seu país. Mesmo com a ascensão da Irmandade Muçulmana no decorrer desse primeiro ano de transição política, o professor lembra que a instituição “é hoje uma entidade extremamente moderada e não fundamentalista”. Segundo ele, ao evocar normas islâmicas, os parlamentares “defendem valores da como a ética, a justiça, os direitos e as obrigações de um governante perante os governados, mas não códigos religiosos “.
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Progressos
Habib também nega que a Revolução de Lótus tenha perdido fôlego. Para ele, ela apenas “ingressou em uma fase diferente, mais política e institucionalizada, passando de um movimento espontâneo para algo organizado”.
Ele lembra que, no início da revolução, mais de 40% da população egípcia viva abaixo da linha de pobreza enquanto que os cerca de 70 bilhões de dólares mantidos por Mubarak em contas estrangeiras equivaliam ao dobro da dívida do país. Um grande paradoxo haja vista que o Egito “tem gás e petróleo para o consumo interno e exportação, uma farta agricultura e potencial para crescer economicamente”, concluiu.
Habib também nega que a Revolução de Lótus tenha perdido fôlego. Para ele, ela apenas “ingressou em uma fase diferente, mais política e institucionalizada, passando de um movimento espontâneo para algo organizado”.
País angustiado
Mohamed Habib nasceu em 1942, em plena 2ª Guerra Mundial. Ele conta que “há 70 anos, o Egito vivia ocupado militarmente pelos ingleses e sob o governo do rei Faruk” e que nasceu “em um país em situação humilhante, no qual não havia nenhum respeito à soberania; num país que já sofria com o imperialismo”.
Passados todos esses anos, e mesmo após o primeiro ano da Revolução Egípcia, ele revela que “vê um país envelhecido, aonde o jovem se sente perdido e desamparado. Um país mais angustiado e menos esperançoso” do que aquele que cresceu. Ele lamenta que “mais de 20 mil jovens entraram nas cadeias nos últimos 12 meses” e reconhece que “as mãos ocultas do ocidente ainda estão presentes no Egito”.
A revolução
Os protestos inspiraram-se nas revoltas de civis tunisianos, que reivindicavam a saída do presidente Zine Ben Ali e o fim dos abusos de seu governo. No Cairo, reunidos principalmente na praça Tahrir (a praça da Libertação, em português), os egípcios também clamavam pelo fim das três décadas do regime de Hosni Mubarak.
Mesmo frente às diversas tentativas de sufocar o movimento, as forças policiais e paramilitares não se revelaram suficientes para conter o crescente número de adeptos dos ideais da Revolução Egípcia. Mubarak interromperia os serviços de telefonia celular e internet logo no dia seguinte às primeiras movimentações, mas, ainda assim, em menos de um mês, o número de manifestantes saltaria de 15 mil à casa das centenas de milhares.
Contra a repressão do governo, civis desobedeceriam o toque de recolher e convocariam uma greve geral. No início de fevereiro, confrontos entre ativistas favoráveis e contrários ao regime Mubarak deixariam mais de 600 pessoas feridas.
Ele deixaria a Presidência do Egito no dia 11 de fevereiro. A multidão reunida na Praça Tahrir celebraria a vitória ao longo de toda aquela madrugada enquanto o militar partia de avião para o balneário de Sharm el-Sheikh, na região do Mar Vermelho.
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