Morre em 27 de janeiro de 2010, Howard Zinn, o norte-americano que conjugou engajamento político e trabalho científico lançando novas visões sobre a história dos EUA. Foi simultaneamente um historiador que marcou seu tempo e um cidadão resolutamente ligado à esquerda. A vida pessoal desse autor está inevitavelmente ligada a sua obra.
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Os telespectadores que assistiram ao excelente documentário 1929, de William Karel, se lembrarão do testemunho de Zinn: ele descreve o sentimento de vergonha que o invadiu quando viu seu pai, garçom desempregado obrigado a vender gravatas na rua depois de fazer pequenos bicos para poder sobreviver.
Filho de imigrantes judeus da Europa Central, essa origem popular percorre toda a sua vida e obra. Durante a Segunda Guerra Mundial incorporou-se à força aérea e participou do bombardeio “experimental” de Royan (que se chamaria mais tarde de napalm). A missão fez dele um pacifista resoluto. Em seguida, conduziria uma pesquisa detalhada sobre as circunstâncias desse massacre e provaria que a condução da guerra não exigia o bombardeio motivado, em parte, pelas ambições pessoais de oficiais.
Após a guerra, estuda história, defende um doutorado e passa a lecionar em universidades. Jamais hesitando em pagar com a própria pele manifestações por vezes duramente reprimidas, lutou contra a segregação racial e depois contra a Guerra do Vietnã.
Em 1980, publica uma volumosa obra destinada a ser um clássico em todas as universidades: História popular dos Estados Unidos . Traduzida em numerosos idiomas, adaptada para as crianças em desenho animado, o livro muda a percepção que se tinha da historiografia norte-americana, desmontando metodicamente sua versão oficial e heroica.
Desde 1492 à Wounded Knee, onde os Sioux foram massacrados em 1890, uma sucessão de chacinas ocorre. Defesa da democracia nos EUA? No interior, o governo protege sobretudo os interesses das grandes empresas e dos “barões ladrões das finanças” contra os trabalhadores explorados. No exterior, não intervêm para defender valores e sim para estabelecer sua zona de controle em benefício das mesmas empresas e grandes proprietários. Em 1898, só se aliam aos revoltosos cubanos para caçar os espanhois. Mais tarde voltariam-se contra seus próprios parceiros para estabelecer seu domínio sobre a ilha, que permaneceria até a tomada do poder por Fidel Castro. As intervenções na América Central e no Vietnã fazem parte de uma mesma vontade de controlar recursos, só que, desta vez, em nome da luta contra o comunismo. Mesmo a guerra contra os nazistas é marcada pela segregação: o exército evita que brancos e negros se misturem.
Os verdadeiros herois não devem, portanto, ser procurados entre os grandes do mundo e sim entre todos aqueles que lutam contra as desigualdades e discriminações e que as pagam constantemente com a própria vida.
Zinn dedica, por exemplo, uma peça de teatro a Emma Goldman, militante anarquista do começo do século XX expulsa dos EUA para a Rússia revolucionária. A preocupação de atingir o grande público o faz escrever uma peça para explicar a obra de Marx: Karl Marx, o retorno.
A influência de Howard Zinn em seu país e no mundo, é imensa. A partir de 2003, multiplica as conferências e os posicionamentos públicos contra as diferentes intervenções norte-americanas e em particular contra a invasão do Iraque.
As críticas não fizeram dele um pessimista. Ao contrário, repetia em suas conferências que as liberdades progrediram nos EUA depois da Segunda Guerra Mundial e que o povo poderá se impor dentro de alguns meses ou anos com as mudanças que se acreditavam impossíveis.
Também nesse dia:
1945 – Exército Vermelho liberta campo de concentração de Auschwitz
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