Morre na cidade de Aix-la-Chapelle, em 28 de janeiro de 814, o imperador franco Carlos Magno. Ele deixa o poder a seu único filho, Luis o Pio.
Em 751, Pepino III, o Breve, chefe de uma poderosa família franca, havia derrubado a dinastia merovíngia. Antes de morrer, ainda fiel ao costume da casa que o precede, divide o reino entre seus dois filhos: Carlos e Carloman. Os dois irmãos, ao tornarem-se reis, passaram a residir um perto do outro, mas sem jamais acalmarem seus ânimos.
A morte de Carloman em 771 salva os francos de uma guerra aberta entre irmãos. Carlos toma posse de sua herança e une toda a França sob seu comando. O aspecto mais visível do novo reinado é a expansão do território. A nova dinastia assume o nome de Carolíngea.
Carlos Magno não possuía um plano pré-concebido e valia-se das circunstâncias que se apresentavam. Seus meios militares, embora apreciáveis, eram limitados. Avançava passo a passo. Na Itália esmaga os lombardos que ameaçavam o papa Adriano e toma seus territórios. Na Espanha, ataca o emir de Córdoba e, sem sucesso, tem seu exército em parte destruído. Na Alemanha, consegue tomar a Saxônia e a Bavária.
Dominando grande parte da Europa Ocidental, Carlos Magno surgia como o defensor do cristianismo e do papado. No curso de uma viagem a Roma, no natal do ano 800, o papa Leão III coroa-o imperador romano do ocidente.
A preocupação de Carlos Magno estava em ser obedecido, por isso dividiu seu império em 300 condados, dando início à instituição da vassalagem. À frente de cada um deles, nomeou condes, que, por sua vez, representavam-no, faziam aplicar suas leis, recrutavam homens para seu exército, arrecadavam impostos e distribuíam justiça. Os condes juravam fidelidade ao imperador e eles mesmos, a partir daí, cercavam-se de outros vassalos. O controle dos condes ficava por conta das viagens de inspeção dos missi dominici.
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Monarca Carlos Magno dividiu seu império em 300 condados, dando iniciado ao sistema de vassalagem, para manter seu poder
O império vivia essencialmente da agricultura. Cada propriedade era dividida em duas partes, uma explorada diretamente pelo senhor e seus servos e a outra repartida em lotes e arrendada aos camponeses. O comércio foi facilitado em seu governo por uma nova moeda de prata, o denário.
Consciente das lacunas do aparelho administrativo e da estrutura política, Carlos Magno apóia-se na Igreja e a coloca a serviço do Estado. Organiza a evangelização das regiões conquistadas e intervém autoritariamente nas controvérsias teológicas da época. Dedica-se também à elevação espiritual e moral do clero e dos fieis, recomenda educação cristã para as crianças, cuida para que o culto seja celebrado com piedade e correção. Porém se esforça-se sobretudo no desenvolvimento da instrução dos clérigos. Amplia-se inclusive a construção de igrejas que são decoradas com afrescos e mosaicos.
A tradição fez de Carlos Magno o pai do ensino primário. O dia 28 de janeiro, do beato Carlos Magno, é dedicado a esses estudantes. A 3ª República francesa viu nele um ancestral da escola gratuita e obrigatória.
Carlos Magno tinha dois objetivos, reforçar a administração real, difundir a fé cristã para a manutenção da paz e distribuir melhor a justiça. A formação dos funcionários do império consistia em rezar, cantar, pregar e evangelizar, o que exigia montar estruturas educativas. Uma Epístola é endereçada aos bispos e abades, indicando que o ensino elementar deveria ser laico, com preocupação pedagógica e acessível às crianças.
Por outro lado, se ficou comprovado que a nobreza e os monges foram beneficiados pela educação de alto nível da escola palacial de Aix-la-Chapelle, é difícil mensurar a eficácia das medidas postas em prática para desenvolver a escola entre os mais pobres. O povo certamente foi excluído deste renascimento cultural.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.