No dia 5 de março de 1953, morreu em Moscou, vítima de uma inusitada hemorragia cerebral, o compositor soviético Serguei Sergueievitch Prokofiev. Ele faleceu apenas 50 minutos antes que Josef Stalin, fato ofuscou completamente a notícia de sua morte.
Nascido em 23 de abril de 1891, em Sontsovka, Ucrânia, sua mãe, que lhe deu as primeiras lições de música, não hesitou em lhe fomentar uma carreira musical diante de tão precoce talento. Enquanto esteve no Conservatório de São Petersburgo, de 1902 a 1903, estudou composição, teoria e harmonia com Gliere; orquestração com Rimski-Korsakov; piano com Anna Essipova; composição com Liadov e regência com Tcherepin.
Suas primeiras apresentações nos saraus de música contemporânea o revelaram um fenômeno, da raça dos “jovens bárbaros”, resolutamente anticonformista.
Em 1918 após a revolução, Prokofiev deixa a Rússia. Os acontecimentos políticos o apaixonam bem menos que a música. Um longo período de pianista errante, indo de capital em capital começa neste momento. Depois, se estabeleceria nos EUA, onde compõe algumas de suas principais obras, como O Amor de Três Laranjas.
Viaja, em seguida, a Paris, onde os balés russos de Diaghilev trazem aos palcos, em 1921, o admirável Chout, em 1928, o Passo de Aço e, um ano depois, O Filho Pródigo.
É nessa estada em Paris que abre uma discussão com Igor Stravinski. Os críticos opunham a “perfeição” de Stravinski a uma arte mais “pedregosa” de Prokofiev.
Seus compatriotas insistiram que voltasse à União Soviética, tentando-o com o novo espírito que animava o cenário artístico. Ele cede em 1932, quando é encarregado de funções oficiais e é obrigado a se adaptar aos rigores das novas disciplinas.
Em 1938, Serguei Eisenstein o convida a compor a trilha sonora dos filmes Alexander Nevski e Ivan, o Terrível. Conta-se que Eisenstein se dispunha a refazer algumas cenas a partir de sugestões inspiradas a partir da música.
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O compositor faleceu 50 minutos antes de Stalin
O segundo expurgo stalinista o condenou publicamente. Frente às dificuldades financeiras, o violoncelista Mstislav Rostropovich pressionou Tikhon Khrennikov, secretário geral da União dos Compositores, a lhe entregar cinco mil rublos.
A invasão alemã, em junho de 1941, força os principais artistas a fugir de Moscou. Em 1943, reabilitado, Prokofiev recebe o Prêmio Stalin.
Trabalha bastante e compõe uma ópera inspirada no Guerra e Paz, de Lev Tolstoi, um balé em torno do tema de Cendrillon e duas marchas militares. Seu maior sucesso neste período é a 5ª Sinfonia. Por estas obras, que marcam a vitória sobre o nazismo, receberia um segundo Prêmio Stalin em 1945.
Em 1947, é proclamado Artista do Povo da República Socialista da Rússia. Em 1957, o Prêmio Lenin lhe é dedicado a título póstumo.
O Partido Comunista formula críticas tão acerbas quanto absurdas contra o “formalismo” de músicos como Prokofiev, Katchaturian e Shostakovitch em 1948. “Esses autores cederam em demasia aos impulsos “degenerados” do Ocidente”, dizia Jdanov.
No entanto, suas obras Pedro e o Lobo, Romeu e Julieta, Alexander Nevski, Guerra e Paz e as sinfonias 5, 6 e 7 datam desse período tão criticado pelo partido.
Embora tenha se oposto aos diversos movimentos musicais russos, de todos os compositores, talvez ao lado de Modest Mussorgski, tenha sido o que melhor captou as características da alma russa.
Prokofiev descreve maravilhosamente bem os fatos comuns em sua música. Cria um clima particular, seja dramático ou cômico. Nada surpreendente que tenha composto oito óperas que estão entre as mais importantes de nossa época.
Anjo de Fogo toca o fantástico. Em Guerra e Paz os temas são mais realistas e, em Romeu e Julieta, líricos, sóbrios e, por vezes, despojados. Possuía uma percepção rara para os ritmos. Mestre da instrumentação, concebeu um método pessoal para tratar das sonoridades orquestrais.