A ascensão do candidato progressista Jean-Luc Mélenchon na última pesquisa eleitoral para a Presidência da França pode ser creditada à postura após os atentados executados pelo atirador Mohamed Mehra, com a abordagem correta dos temas que mais importam aos franceses nas últimas semanas: o desemprego, o racismo e a falência nas políticas de integração. A opinião é da politóloga e socióloga francesa Catherine Wihtol de Wenden, da Universidade de Ciências Políticas de Paris, a “Sciences-Po”.
Éric Coquerel, coordenador de campanha do candidato progressista, também confirmou que o comportamento do candidato o beneficou. dizendo que “o discurso de Mélenchon sobre amor e fraternidade foi reconhecido pelos franceses como mais forte do que o do ódio”.
Para Wihtol, no entanto, por motivos completamente distintos, o atual presidente Nicolas Sarkozy e a representante da extrema-direita Marine Le Pen, também poderão sair beneficiados após os episódios que culminaram na morte do atirador Mohamed Mehra, que matou sete pessoas, entre elas três crianças, em crimes que chocaram o país. “Temo que esse drama não terá tanto impacto quanto se imagina, pois trata-se de um caso excepcional, muito específico. Mas, de fato, a extrema-direita deverá tirar algum proveito, pois sempre se posicionou em denunciar a imigração, o Islã e as políticas de segurança publica”, afirma.
“O presidente, por sua vez, receberá os créditos pelo fato de as forças de segurança terem rapidamente encontrado, cercado e matado o atirador (logo após as mortes na escola judaica, e não após a base militar) e pela grande mobilização das forças policiais, demonstrando competência perante a opinião pública”. Por outro lado, ele poderá ter de explicar porque a polícia demorou dez dias para identificar uma pessoa que já estava sob vigilância policial por seu comportamento.
Entretanto, ela adverte que o episódio não terá o impacto que se imagina, já que temas relacionados à crise econômica voltarão, com o tempo, a ditar o rumo dos debates. “Em um primeiro momento após esse luto, será comum voltarmos a ouvir discursos falando do Islã radical e da falta de segurança pública. Ainda há feridas para serem cicatrizadas. Depois deverá tomar o rumo habitual. O que me impressiona é a pouca atenção que se dá para a política externa nessa campanha. Pouco se fala de Oriente Médio, nossa presença no Afeganistão (dois temas justificados por Mehra para atirar em soldados franceses em uma base militar em Montauban e em crianças em uma escola judaica de Toulouse), ou então a crise na Síria”.
Números
A pesquisa da BVA finalizada e divulgada na última quinta-feira (22/03) mostrou Mélenchon, da coligação Frente de Esquerda, subindo cinco pontos percentuais, do quinto para o terceiro lugar, com 15% da preferência dos eleitores. Marine Le Pen, do Fronte Nacional caiu dois pontos (14%) e François Bayroux, do centrista MoDem (Movimento Democrático), um (12%). Já o socialista François Hollande caiu 1,5 ponto (29%) e diminui sua diferença para Sarkozy, da UMP (União por um Movimento Popular), que subiu dois (28%). Na simulação de segundo turno, Hollande tem oito pontos de vantagem sobre o atual presidente. Esta foi a primeira enquete realizada após a descoberta da identificação de Mehra, francês de origem argelina e radical fundamentalista islâmico.
Uma das razões explicadas pela BVA para a queda de Marine mesmo após a conclusão do episódio era o fato de ela estar dividindo suas atenções para conseguir as 500 assinaturas necessárias de políticos franceses para validar sua candidatura, procedimento o qual seu partido sempre contou com dificuldade para realizar. Após a descoberta do atirador, ela não se furtou a dizer que o governo francês menosprezou o perigo representado pelo fundamentalismo islâmico.
Já a contínua queda de Hollande, que durante toda a crise preferiu permanecer discreto, evitando críticas ao governo, ao contrário de seus adversários, se deve em parte, segundo a BVA, ao fato de que os eleitores mais à esquerda começam a ficar tentados em optar por ele no primeiro turno. A pesquisa coincidiu também com seu grande comício realizado em Paris, na Praça da Bastilha.
O PS já iniciou, por sua vez, a campanha pelo “voto útil”. Fontes da UMP ouvidas no início da semana pelo jornal Le Monde se mostram contentes pela ascensão de Mélenchon, que já integrou as fileiras socialistas, e esperam que ele conduza o presidente ao primeiro lugar no primeiro turno. Nesta sexta-feira (23/03), durante um comício em Valenciennes, ao norte, o próprio Sarkozy elogiou o rival e alfinetou Hollande: “Não partilho das ideias de Mélenchon,mas ao menos ele tem algo a dizer, o que, durante uma campanha, é bem mais salutar”.
O primeiro turno das eleições presidenciais francesas está marcado para o dia 22 de abril. O segundo turno será em 6 de maio.
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