* Atualizada em 17 de abril de 2015
No dia 17 de abril de 1946, a Síria celebrou a retirada das últimas tropas francesas em seu território, fato que colocou fim ao controle estrangeiro que, em diferentes mãos, dominava o país desde o século XVI. Entre os sírios, a data é comemorada como o Dia da Independência. O então Mandato Francês na Síria também incluía o Líbano e a região de Hatay, hoje parte da Turquia.
WikCommons – versão francesa sobre a tomada de Damasco em 1920
Após a partilha do Império Turco-Otomano, os sírios e libaneses foram ocupados e governados pela França durante 26 anos, com a chancela da Liga das Nações. O então órgão multilateral da época determinou em diversos acordos que, em teoria, a ocupação européia no Oriente Médio não fosse definitiva. Ela deveria apenas “preparar e desenvolver” a região para que, enfim, seus povos estivessem prontos para obter autonomia.
A divisão do Oriente Médio previa que, além do Mandato Francês na Síria, outras duas regiões passassem por administrações transitórias sob regime semelhante: a Mesopotâmia (atual Iraque) e a Palestina (abrigando os atuais Israel, Jordânia e os territórios reivindicados pela Autoridade Nacional Palestina), estes dois sob domínio britânico. Todos esses mandatos foram estabelecidos sem a concordância das populações locais.
Império Turco-Otomano
Anteriormente à Primeira Guerra Mundial, grande parte do mundo árabe, assim como parcelas da Europa Oriental e da Ásia Menor, eram ocupados pelo Império Turco-Otomano.
Com a derrocada dos turcos na Grande Guerra, as tropas britânicas e francesas ocuparam de fato o Oriente Médio e acertaram sua partilha no acordo secreto conhecido como “Sykes-Picot”.
Concluído em 1916, em pleno conflito global, ele contava ainda com a anuência do Império Russo – e para a surpresa dos britânicos, veio a público pela mão dos bolcheviques em 1917, causando revolta entre os povos árabes.
A Síria foi totalmente libertada dos turcos em 1918, quando tropas britânicas tomaram Damasco com o auxílio das tropas lideradas por Faisal bin Hussein. Ele foi o grande herói da Revolta Árabe, movimento que, além de combater o imperialismo turco, tinha como objetivo inicial criar uma nação árabe independe que fosse da Síria até o Iêmen.
Faisal estabeleceu um governo árabe interino sob proteção britânica ainda em outubro daquele, realizando eleições legislativas em 1919. Entretanto, perdeu muita força ao não conseguir conter os anseios expansionistas dos países europeus sob a região. A França reivindicava o cumprimento do acordo “Sykes-Picot”, que colocava a Síria sob sua área de influência. O Reino Unido, procurando evitar confronto direto com os franceses, deixou a região. Imediatamente, os franceses passaram a controlar o Líbano, dissolvendo a administração árabes regional e ignorando o governo central.
Após diversas viagens e tentativas de paz, Faisal não conseguiu conter o ímpeto territorialista francês e foi totalmente ignorado na Conferência de Paz em Paris, quando tentou pedir o reconhecimento internacional à independência síria.
Em março de 1920, após uma série de desgastes internos provocados por conflitos com a ala religiosa e conservadora que dominava o Congresso, Faisal,que já havia cedido muito aos franceses, é coroado e proclama o Reino Árabe da Síria, que reivindicava também a região histórica da Palestina. Foi uma última tentativa de reconhecimento, que resultou em rechaço por parte dos europeus. Em abrila Conferência de San Remo, na Itália, legitima o Mandato Francês sobre a Síria e o Líbano.
Wikimedia Commons
O reino dura apenas quatro meses. Os franceses não aceitaram a decisão, invadindo o território sírio com facilidade e destituindo o poder central em julho. Faisal é expulso do país pelos franceses e se exila no Reino Unido. Anos depois, como Faisal I (foto à esquerda), governou Reino do Iraque por doze anos, até sua morte.
A derrota das tropas sírias em 1920 marcou o início da ocupação francesa, que nunca teve apoio da população – exceto por cristãos libaneses.
Na “Grande Síria” controlada pelos franceses, o território foi subdividido em seis partes, besadas no sectarismo regional: Estado de Damasco, Estado de Aleppo, Jabal-Drúsia, Estado Alauíta, Grande Líbano e Sanjak-Alexandretta (hoje Hatay, pertencente à Turquia). No entanto, os franceses não contavam que todos esses grupos se uniam em torno da hostilidade à ocupação europeia. Durante os anos de ocupação, a França teve de sufocar inúmeras revoltas. A ocupação só foi consolidada militarmente de fato em 1923.
Em 1936, após dois anos de negociações, foi concluído o Tratado Franco-Sírio de Independência com o apoio de setores nacionalistas. O acordo garantia as subdivisões unidas em um só Estado, à exceção do Líbano, além de gradual retirada a intervenção francesa nos assuntos internos da Síria e redução gradual das tropas de ocupação. Em troca, a Síria de comprometia a ajudar a França em tempos de guerra, permitindo inclusive o uso de seu espaço aéreo.
Entretanto, a crescente ameaça nazista fez com que os franceses reconsiderassem alguns termos do acordo. Por essa razão, nunca chegaram a ratificá-lo. Além disso, com a província de Sanjak-Alexandretta cedida à Turquia, novas revoltas eclodiram, atrasando a independência síria somente após a Segunda Guerra Mundial.
Após as últimas tropas francesas deixarem o país, em 17 de abril de 1946, o presidente Shukri al Quwatli declara a independência.
Outros fatos marcantes da data:
1790 – Morre nos EUA Benjamin Franklin
1961 – EUA tentam invadir Cuba pela Baía dos Porcos
1969 – Alexander Dubcek, o arquiteto da Primavera de Praga, é obrigado a renunciar
1975 – Phnom Penh, capital do Camboja, cai nas mãos do Khmer Vermelho
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