Em 2 de dezembro de 1823, o presidente dos Estados Unidos, James Monroe, enviou a mensagem anual ao Congresso e apelou para um enfoque novo e audaz sobre a política externa norte-americana. Com os anos, a estratégia passou a ser conhecida como “Doutrina Monroe”. O presidente disse ao Congresso e aos impérios mundiais da época que as Américas deveriam ficar de fora do controle e da influência da Europa – e, assim, deixar caminho para que Washington preenchesse a lacuna. Nas décadas seguintes, essa política foi evocada e adaptada por sucessivos presidentes para garantir a exclusividade dos interesses econômicos e políticos dos EUA no hemisfério ocidental.
A declaração de Monroe, redigida pelo secretário de Estado John Quincy Adams – que o sucederia como presidente em 1824 – tinha por objetivo prevenir tentativas de outras nações de colonizar territórios tanto na América do Norte quanto na América do Sul e Caribe, apesar de até então não terem sido manifestadas pelas potências europeias.
Os termos da Doutrina Monroe foram expostos com precisão inquestionável:
“A ocasião se apresenta propícia para firmar um princípio em que os direitos e interesses dos EUA estão envolvidos, que os continentes americanos, em virtude de sua condição de liberdade e independência que assumiram e mantêm, não deveriam ser doravante considerados como objetos de futura colonização por qualquer potência europeia. (…) Devemos, no entanto, em razão da franqueza e em virtude das relações amigáveis existentes entre os EUA e essas potências, declarar que consideraríamos qualquer tentativa de sua parte de estender seu sistema a qualquer porção desse hemisfério como perigoso à nossa segurança e à paz”.
Até então, vigorava a doutrina do “Destino Manifesto”, pensamento que expressava a crença de que o povo dos EUA fora eleito por Deus para comandar o mundo, e por isso o expansionismo seria apenas o cumprimento da vontade divina. Os defensores do Destino Manifesto acreditavam que expansão não só era boa, mas também inevitável (“destino”) e óbvia (“manifesto”). Originalmente usada como um slogan político do século XIX, o Destino Manifesto tornou-se um termo histórico padrão, frequentemente usado como sinônimo para a expansão territorial dos EUA pela América do Norte e pelo Oceano Pacífico.
A ideologia do Destino Manifesto foi usada explicitamente como justificativa para o expansionismo norte-americano: compra do Alasca e anexação de grande parte do território então pertencente ao México. O uso formal destas doutrina deixou de ser feito oficialmente desde a década de 1850 até o final da década de 1880, quando foi então revivida e voltou a ser usada como justificativa para o expansionismo norte-americano, desta vez fora das Américas. Mais tarde, o Destino Manifesto deixou de ser utilizado pela mídia e por políticos em geral, embora alguns especialistas acreditem que certos aspectos tenham, desde então, influenciado muito as ideologias e doutrinas imperialistas norte-americanas até os dias atuais.
Sucessores de Monroe, entre eles os presidentes James Polk e Theodore Roosevelt, valeram-se da Doutrina Monroe para justificar a anexação de novos territórios aos EUA. Polk tomou vastas extensões do México na guerra mexicano-americana de 1846-48. Roosevelt adaptou a filosofia de Monroe após a vitória militar sobre a Espanha para fincar posições na América Central, nas Filipinas e tentar anexar Cuba, Porto Rico e outras ilhas do Caribe.
Sintomaticamente, o presidente James Buchanan, no discurso de posse em 1857, deixou bem clara a determinação do domínio norte-americano: “A expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (…) e nada pode detê-la”.
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Presidente norte-americano James Monroe