O dono da News Corporation, Rupert Murdoch, afirmou nesta quinta-feira (26/04) que uma operação tentou encobrir o escândalo de escutas do extinto tablóide News of the World, mas garantiu que a direção da empresa não participou dela. No segundo dia de depoimento a um inquérito judicial sobre o comportamento e a ética da imprensa no Reino Unido, Murdoch pediu desculpas por não ter feito o suficiente para evitar as irregularidades no jornal. “Eu falhei e sinto muito por isso”, afirmou.
Segundo Murdoch, o acobertamento foi articulado “por um ou dois personagens fortes” que estavam há anos no jornal e eram amigos dos jornalistas. “A pessoa em que eu estou pensando era amigo dos jornalistas, companheiro de bebidas. Trata-se de um advogado muito ativo e que proibia, ou pelo menos há declarações nesse sentido, os demais de informar (o que ocorria) Rebeka Brooks (ex-diretora da NEM) e James (Murdoch, ex-presidente do grupo)”, declarou Murdoch.
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“Esta não é uma desculpa por nossa parte. Levo muito a sério essa situação que surgiu”, completou. Perguntado pelo juiz se não deveria ter se preocupado mais com o que ocorria no News of the World, cujo fechamento em julho gerou mais de 200 demissões, Murdoch alegou que esse jornal interessava menos que os outros. “Entrei em pânico, mas estou feliz por ter fechado e lamento não ter feito isso antes. A única coisa que posso fazer é pedir desculpas, incluindo as pessoas inocentes que acabaram perdendo seus trabalhos”, manifestou.
Em relação ao seu suposto desconhecimento das persistentes escutas, Murdoch afirmou que “nos jornais, os repórteres seguem suas próprias condutas, protegem suas fontes e não costumam revelar aos colegas o que estão fazendo”.
Relação com o poder
Na última quarta, diante da comissão de Leveson, o magnata de origem australiana revelou sua relação com vários primeiros-ministros do Reino Unido, incluindo a conservadora Margaret Thatcher – com quem confessou sentir afinidade -, embora tenha garantido que nunca pediu nenhum favor.
Anteriormente, seu filho James Murdoch, também diante da comissão Leveson, revelou contatos de seus assessores com colaboradores do ministro de Cultura, Jeremy Hunt, para influir no processo de compra da plataforma digital BSkyB.
Hunt, que passou a receber pedidos para renunciar ao cargo, ainda conta com o apoio do primeiro-ministro, David Cameron, que, por sua vez, defendeu a integridade de suas gestões no caso.
Escândalo
As denúncias de que o News of the World grampeou os telefone de centenas de celebridades e cidadãos comuns deu início a três investigações policiais, este inquérito judicial e mais de cem processos.
A News Corp também foi forçada a abandonar uma oferta de compra pela totalidade das ações da operadora de TV por satélite BSkyB, da qual detém 39,1%. Além disso, o filho do magnata, James Murdoch, renunciou à presidência executiva da News International, bem como à direção da BSkyB.
O inquérito judicial sobre a ética da imprensa britânica também se tornou uma grande investigação sobre os laços políticos da News Corp. Na quarta-feira, Adam Smith, assessor do Secretário da Cultura, Jeremy Hunt, renunciou ao cargo um dia após a divulgação de emails que mostravam conversas dele com autoridades da News Corp na época em que a empresa tentava comprar a BSkyB.
As informações foram divulgadas durante depoimento do filho de Murdoch, James, o que provocou especulações sobre uma tentativa de vingança do magnata contra o premiê britânico, David Cameron, por ter ordenado a abertura do inquérito. O dono da News Corp negou tais rumores.
* Com informações da Agência Efe, AP, BBC e The Guardian