No dia 3 de maio de 1936, ocorre o segundo turno das eleições legislativas da França. A maioria dos eleitores dá a maioria dos votos a uma coalizão de esquerda o Front Populaire, liderado por uma figura carismática, o socialista Leon Blum.
O Front Populaire era uma aliança eleitoral formalizada dois anos antes pelos três grandes partidos de esquerda: o partido comunista de Maurice Thorez, o partido socialista de Léon Blum e, mais ao centro, o partido radical-socialista de Edouard Daladier. Sua vitória suscita entre as classes populares uma esperança muito grande uma vez que o país estava contaminado havia anos por uma grave crise econômica derivada do crash de 1929.
Tão logo o governo se instalou, começaram a eclodir greves em todo o país. Na esperança da derrubada do sistema capitalista, fábricas, canteiros de obras, minas e casas de comércio foram ocupadas.
Essas greves ganham rapidamente o conjunto do setor privado. Podia-se contar um total de dois milhões de grevistas. Curiosamente, desenrolavam-se de maneira pacífica e em clima de descontração e alegria. Todos os manifestantes e pessoas das outras classes sociais acreditavam na iminência de uma nova revolução, tanto para se regozijar quanto para se alarmar.
Com a crise se alastrando e se agravando, o governo restaura a paz social assinando em junho de 1936, com representantes patronais e sindicatos, os Acordos de Matignon. As cláusulas previam aumentos salariais, eleição de delegados operários dentro das fábricas, estabelecimento de contratos coletivos e não mais individuais. O trabalho aos poucos era retomado em todas as empresas.
Leon Blum leva adiante, a toque de tambor, reformas sociais espetaculares. Em 8 de junho de 1936, conquista o direito ao descanso semanal remunerado e, em 12 de junho, aprova a semana de 40 horas para todos os assalariados.
Reforma a organização do Banco da França em 24 de julho, estatiza também as principais fábricas de armamentos em 11 de agosto e cria um departamento interprofissional do Trigo em 15 de agosto para controlar a distribuição dos cereais.
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Blum foi responsável por diversas reformas trabalhistas, como aumentos salariais e estabelecimento de contratos coletivos
Desafortunadamente, o desemprego não melhora. A limitação a 40 horas da duração semanal do trabalho, em lugar das 48 horas anteriores, resulta numa elevação do desemprego como o demonstrou o economista Alfred Sauvy em História Econômica da França entre as Duas Guerras.
Leon Blum procede a uma desvalorização do franco o que dá um certo alento à economia. A medida, porém, chega tarde demais. Em 13 de fevereiro de 1937, numa locução radiofônica, resigna-se a anunciar uma “pausa social”. As hesitações do governo frente à guerra civil espanhola acabam por desacreditá-lo. Em 21 de junho de 1937, o líder socialista se vê forçado a apresentar sua renúncia.
Ele seria substituído à frente do governo pelo radical-socialista Camille Chautemps. Este acaba por desprezar a semana de 40 horas, facilitando o cumprimento de horas extras. Prossegue, de resto, as reformas, agrupando as companhias ferroviárias privadas, fortemente deficitárias, dentro de um monopólio público, a SNCF (Societé Nationale des Chemins de Fer).
Todavia, os comunistas e socialistas exigem a aplicação integral do programa do Front Populaire, o que provoca sua demissão. Leon Blum retorna ao comando do governo da União Nacional em 13 de março de 1938, num momento de estrema tensão internacional. Na véspera, Hitler havia anexado a Áustria à Alemanha, o Anschluss.
Envia sua demissão menos de um mês depois e o radical-socialista Edouard Daladier ascende à Presidência do Conselho de Ministros. Caberia a ele assinar os o Acordos de Munique que deixaram Hitler com as mãos livres. Posteriormente declararia guerra à Alemanha.
Também nesse dia:
1469 – Nasce o italiano Nicolau Maquiavel
1968 – Começam os protestos do Maio de 1968 na França
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.